Comumente os fenômenos da pareidolia -"aparição" de determinada imagens nos lugares mais inesperados- são associados com a religião e figuram como santas. Não importa se é apenas uma mijada no muro ou uma torrada queimada, se aparece a feição de Jesus, Virgem ou Papa, logo aparece alguém adorando. E conquanto a pareidolia não se limita a entidades sacras é neste metiê que quase sempre adquire uma maior notoriedade.

Alguma vez você já olhou para um objeto ou edifício e pensou: "Orra, isto está parecendo um rosto!"? Lógico que sim né? Este fenômeno psicológico, conhecido como pareidolia, envolve, como já disse em outros posts, um estímulo vago e aleatório -geralmente uma imagem ou som- sendo percebido como algo significativo, é tipo uma forma de apofenia, o fenômeno cognitivo da percepção de padrões significativos ou conexões em dados aleatórios ou sem sentido.

Johannes Stötter já é bem famoso na Internet por ter o dom de enganar o mais ilúdivel sentido: a visão. Além do fenômeno de que nossos olhos podem ser traídos por cores complementares e padrões diversos, ele ainda obedece as ilações de nosso cérebro que tem mania de ver coisas onde elas não estão, como a pareidolia por exemplo. Nesse sentido Johannes é mestre em provar que nossos olhos podem ser facilmente manipulados.

De acordo com os princípios da aprendizagem do cérebro de Geoffrey Caine, a busca de significado é inata no ser humano. Na prática, isto significa que todo mundo tende a filtrar sua própria perspectiva, organizar a informação com a experiência, e fazer perguntas de acordo ao que lhes interessa ou lhes preocupa. E em um nível mais profundo, existe uma fome de significados e propósitos. O cérebro não só quer dar sentido ao que aprende, senão que também quer saber que a aprendizagem tem um propósito e um valor.

Cada objeto tem sua própria face, alguns podem ser bem antropomórficos se vistos de um certo ângulo, o bastante para vermos olhos, boca e nariz. Como já lemos em outros posts sobre pareidolia, é que o ser humano tem a necessidade de identificar semelhantes em quaisquer situações, herança de nossos antepassados que deviam saber identificar um rosto amigo no meio dos perigos de uma densa floresta ou de uma manchada e turva campina.

Para Salman Khoshroo, modelar cuidadosamente fibras grossas de lã em retratos tem um efeito terapêutico. O artista iraniano diz que sua série "Wool on Foam" nasceu de traumas e experiências recentes em quarentena. Ao esculpir as mechas de lã em narizes, lábios enrugados e cabelos soltos, Khoshroo evocou a delicadeza e vulnerabilidade que os humanos enfrentam em situações precárias. O que também é muito curioso nessa série é que ela acaba explorando nossa pareidolia de ver rostos e formas humanas onde elas não existem.

No curta-metragem belamente animado "A Mãe de Sangue", Vier Nev explora visualmente o conceito de pareidolia, o fenômeno psicológico comum em que a mente percebe incorretamente uma imagem desconhecida como um objeto reconhecível. Um exemplo desse fenômeno é ver rostos, santos, virgens e Jesus em objetos inanimados. As vinhetas animadas hipnotizantes dentro da animação mostram rostos e corpos humanos percebidos deslizando nas sombras e depois desaparecendo em uma imagem maior, demonstrando assim que nem tudo é exatamente como aparece pela primeira vez.

Em Berezne, Ucrânia, uma mancha na parede converteu-se em objeto de culto por religiosos, que dizem se tratar de mais uma aparição santa. Em meio a pareidolia, senhorinhas beijam a "imagem" no local que se tornou um lugar de peregrinação.

Nossos ancestrais desenvolveram um aguçado sentido da percepção do rosto humano à distância ou embrenhado entre as folhagens como um forte instinto de preservação, afinal saber que quem se aproximava era outro ser humano e não um animal selvagem marcava o limite entre a vida e a morte. Foi dai que nosso DNA ficou marcado com o costume de vermos caras em qualquer coisa, descambando inclusive no fenômeno da pareidolia. Nesse sentido, o museu das pedras com faces humanas responde as mesmas origens.

Um tipo de pareidolia e é mais ou menos simpática. Enquanto pedalava ao longo de um cemitério de animais de estimação, o redditor invernbytheriver viu algo que o fez dar uma parada. Do seu ponto de vista do lado de fora da cerca, parecia que um cachorro estava empoleirado em cima de uma lápide. Após uma inspeção mais de perto, na verdade eram dois buquês de flores moribundas que criavam uma ilusão de ótica de um cachorro sentado no túmulo de Kosmo.