Nos filmes com temática medieval de Hollywood vemos nobres abastados e belas damas maquiadas, penteadas e cheias de jóias, vestindo túnicas pulcras e branquinhas. Tudo fachada, pois como já lemos no artigo "O passado, em verdade, foi uma época que nenhum de nós gostaria de viver", em um período entre a queda do Império Romano até a descoberta da América a higiene pessoal não era considerada uma prioridade. |
Grandes Banhistas de Pierre-Auguste Renoir
Os médicos achavam que a água, sobretudo quente, debilitava os órgãos, deixando o corpo exposto a insalubridades e que, se penetrasse através dos poros, podia transmitir todo tipo de doenças. Inclusive começou a estender a ideia de que uma camada de sujeira protegia contra as doenças e que, portanto, o asseio pessoal devia ser realizado "a seco", só com uma toalha limpa para esfregar as partes expostas do corpo.
Os médicos recomendavam que as crianças limpassem o rosto e os olhos com um trapo branco para limpar o sebo, mas não muito para não retirar a cor "natural" (encardida) da tez. Na verdade, os galenos consideravam que a água era prejudicial à vista, que podia provocar dor de dentes e catarros, empalidecia o rosto e deixava o corpo mais sensível ao frio no inverno e a pele ressecada no verão. Ademais, a Igreja condenava o banho por considerá-lo um luxo desnecessário e pecaminoso.
Acteão surpreende Diana em seu banho, de Ticiano
A falta de higiene não era um costume de pobres, a rejeição pela água chegava aos estratos mais altos da sociedade. As damas mais entusiastas do asseio tomavam banho, quando muito, duas vezes ao ano, e o próprio rei só o fazia por prescrição médica e com as devidas precauções.
Os banhos, quando aconteciam, eram tomados em uma tina enorme cheia de água quente. O pai da família era o primeiro em tomá-lo, logo os outros homens da casa por ordem de idade e depois as mulheres, também por ordem de idade. Enfim chegava a vez das crianças e bebês que podiam se perder dentro daquela água suja. Não é à toa que as crianças tinham grande desgosto em tomar banho.
Diana saindo do banho, de François Boucher
Tudo era reciclado. Tinha gente dedicada a recolher os excrementos das fossas para vendê-los como esterco. Os tintureiros guardavam urina em grandes tinas, que depois usavam para lavar peles e branquear telas. Os ossos eram triturados para fazer adubo. O que não se reciclava ficava jogado na rua, porque os serviços públicos de limpeza urbana e saneamento não existiam ou eram insuficientes. As pessoas jogavam seu lixo e dejetos em baldes pelas portas de suas casas ou dos castelos. Imagine a cena: o sujeito acordava pela manhã, pegava o pinico e jogava ali na sua própria janela.
O mau cheiro que as pessoas exalavam por debaixo das roupas era dissipado pelo leque. Mas só os nobres tinham lacaios que faziam este trabalho. Além de dissipar o ar também servia para espantar insetos que se acumulavam ao seu redor. O príncipe dos contos de fadas fedia mais do que seu cavalo.
Na Idade Média a maioria dos casamentos era celebrado no mês de junho, bem no começo do verão boreal. A razão era simples: o primeiro banho do ano era tomado em maio; assim, em junho, o cheiro das pessoas ainda era tolerável. De qualquer forma, como algumas pessoas fediam mais do que as outras ou se recusavam a tomar banho, as noivas levavam ramos de flores, ao lado de seu corpo nas carruagens para disfarçar o mau cheiro. Tornou-se, então, costume celebrar os casamentos em maio, depois do primeiro banho. Não é ao acaso que hoje maio é considerado o mês das noivas e dali nasceu a tradição do buquê de flores das noivas.
Nos palácios e casas de família a existência dos banheiros era praticamente nula, nem "casinha" existia. Quando a necessidade imperava, o fundo do quintal ou uma moita eram escolhidos segundo a preferência de cada um. Não era incomum também ver alguém cagando nas ruas. Os sistemas de esgoto ainda não existiam; portanto as cidades medievais eram verdadeiros depósitos de lixo e excremento. Grandes metrópoles como Londres ou Paris podiam ser consideradas naquele tempo como alguns dos lugares mais sujos do mundo.
Os banhistas, de Albert Gleizes
Os mais ricos tinham pratos de estanho. Certos alimentos oxidavam o material levando muita gente a morrer envenenada, sem saber o porquê. Alguns alimentos muito ácidos, que provocavam este efeito, passaram a ser considerados tóxicos durante muito tempo. Com os copos ocorria a mesma coisa: o contato com uísque ou cerveja fazia com que as pessoas entrassem em um estado de narcolepsia produzido tanto pela bebida quanto pelo estanho. Alguém que passasse pela rua e visse alguém neste estado podia pensar que estava morto e logo preparavam o enterro. O corpo era colocado sobre a mesa da cozinha durante alguns dias, enquanto a família comia e bebia esperando que o "morto" voltasse à vida ou não. Foi daí que surgiu o costume de beber o morto e mais tarde o velório feito hoje junto ao cadáver.
O Rei Henrique VIII, famoso por romper com a Igreja Romana e por ter se casado seis vezes, tinha mais de 200 empregados que lhe serviam como cozinheiros, carregadores, abanadores, etc. Mas os serventes com a pior das sortes eram aqueles que deviam cuidar das "necessidades" do rei: tinham que despiolhá-lo uma vez ao dia, limpar sua bunda depois que fizesse suas necessidades e lavar suas partes íntimas enquanto o rei permanecia sentado e inclusive, quando a rainha estava grávida e o monarca sentia certas carências, um dos serviçais -homem ou mulher- devia satisfazer suas necessidades.
No entanto, mesmo diante desta porquice toda, quando um nobre viajante ou qualquer membro da nobreza se apresentava ante o rei ou a rainha, devia inclinar em sinal de veneração, e se por acaso esta pessoa nesse exato momento tivesse a má sorte de deixar escapar um "peidinho" em frente do monarca, a pena era o desterro. Ele era enviado para longe e sem poder regressar por 7 anos, isso se o rei decidisse que podia voltar. Isto muito provavelmente originou a vergonha e desaprovação de peidar na frente dos outros, pese que seja um ato natural comum a todos os mamíferos.
Fonte: Quase 1.000 dados nojentos: para saber que este mundo é imundo e Biblioteca virtual de desarrollo sostenible y salud ambiental.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários
« Ant. | Primeira | 1 | 2 | 3 | | Última | Prox. »
É por isso que sempre digo que por mais ruim que as coisas estão hoje, um dia já foi pior, inclusive na questão de guerra e violência, quem conhece um pouco de história sabe que a humanidade nunca esteve melhor, ao contrário do que os sensacionalistas que sempre estão a espera do fim dos tempos. A humanidade nunca esteve melhor estamos no auge.
Sempre gostei de história apesar de ter um certo desprezo por 90% dela.
"As damas mais entusiastas do asseio tomavam banho, quando muito, duas vezes ao ano"
Não sei como faziam durante as relações sexuais.
Rex (isca! isca! pega!) :lol:
Um adendo pra não te deixar tão 'alegrinho' assim; No Japão, no período feudal, era comum as pessoas defecarem onde estavam para depois recolherem as fezes e posteriormente utiliza-las para adubar as plantações de arroz. Então, nem tão pra cima e nem tão abaixo. Elas por elas a merda estava em qualquer lugar.
(Li Xogum e Casa-Grande umas 300 vezes. Confirmei com um historiador portugues quando os portos japoneses foram abertos, ele contava que até o inicio do século passado isso era comum)
Por isso que se eu vivesse na idade média eu queria ter nascido japonês , pelo menos eles tinham higiene apesar das muitas guerras que eles tiveram e eu ter morrido jovem é uma das melhores escolhas :D
O intenso mau hálito e o fedor corporal, particularmente das áreas genitais, para muitos de nós são os melhores e mais eficazes controladores de natalidade. Mas, do ponto de vista do mundo natural, eles são afrodisíacos. A espécie homo sapiens estaria extinta há séculos se tivesse as noções de higiene e o sentido de nojo e de repugnância que as gerações atuais têm.
E é bom lembrar que escarrador ou escarradeira era um utensílio que existia até meados do século passado em teatros, hospitais, lugares públicos...e que antes da poluição automóvel o transporte era feito com cavalos e os dejetos dos cavalos, espalhados por todo o lado, deixavam as cidades bem mais perfumadas que agora, com os atuais fumos poluentes.
Não vivemos tão longe assim desses tempos de nojeira.
um banho ao nascer e outro ao morrer... Mas isso era na Europa, Os índios americanos pareciam que se banhavam bastante até. E no Ocidente os orientais, especialmente os Japoneses, eram muito assíduos com a higiene. Temos colonização diretamente européia, então vemos a idade média na Europa, mas em outros continentes as coisas eram diferentes. Atualmente muitos lugares na Europa ainda são avessos a água. Mas aqui no Brasil curiosamente nos banhamos bastante, geralmente de 01 a duas vezes por dia... acredito eu... mesmo no Sul, q é mais friozinho, ou era, pq agora tá quente pra kawaka....
Q horrível isso .....devia ser difícil viver na idade média pelo amor de deus !!!Ainda bem q hj a higiene melhorou .
:D
Edgar tocou num ponto sensível aí ...
Deve ser daí que surgiu o romantismo à mineira:
'Marido, ocê vai me usá hoje?
- Vô, não!
- Antão, só vô lavá os pé.'
Ah, sim: na Idade Média havia o gesto carinhoso de portar um camafeu pra guardar as pulgas da pessoa amada e depois soltá-las em si mesmo, provando o desejo em misturar seu sangue com o da amada.
Me lembra o livro "O Perfume", onde se descreve com palavras os cheiros da fedida cidade de Paris.
Nem precisa dizer que a idade média agrada por aqui. Que coisa estranha. :?
Gostei de ter colocado imagens interessantes pra complementar o texto.
Uma das coisas mais revolucionárias que alguém pôde ''inventar'' foi a higiene.
Como é que essa gente conseguia se reproduzir?
Eca só de imaginar mulheres menstruarem todos os meses e só darem uma lavadinha duas vezes por ano.
E se não depilavam-se, admira não ficarem "entupidas".
Nojento.
E quanto aos homens peidorreiros, bem, ainda dão a desculpa de que faz mal à saúde segurar para depois a saída do vento por cima ou do vento por baixo.
Porquinhos...
:P
Como eu estou feliz por viver no século XXI.
Roooaaarrr... Dar uma... digamos... lmbdnh... ahh... credo...
« Ant. | Primeira | 1 | 2 | 3 | | Última | Prox. »