Por que há alguns comentaristas tão agressivos no MDig?

Calma, o título não é tão endêmico quanto parece: os comentaristas agressivos não são exclusividade do MDig senão de qualquer outro blog com um tráfego considerável de visitantes. Basta uma olhada nos vídeos mais vistos do Youtube: a metade dos comentários serão injúrias, calúnias ou palavrões, uma atrás da outra. Entrem em um Chat e não demorará a ler alguma grosseria ou alguma classe de tratamento vexatório.

Mas realmente há tantas pessoas mal educadas, insolentes, agressivas e odiosas no mundo? Infelizmente a resposta é que sim: porque todos podemos ser assim segundo o contexto. E o contexto digital é um área de cultivo perfeita para isso.

Não calculei, mas a olho grosso posso afirmar que 10% dos comentários nos artigos do MDig se baseiam no insulto direto, sem mais cataplasmas, sem argumentos nem cortesia elementar. Podem comprovar por vocês mesmos a quantidade de brigas e comentários com insultos soltos encontrados no blog. Mas o detalhe mais curioso é que o trato vexatório costuma usar o argumentum ad hominem, desacreditando o próprio comentarista, e não o assunto proposto.

A maioria de blogs e páginas onde as pessoas tem liberdade para comentar sob o amparo de um pseudônimo, às vezes tentam controlar as línguas viperinas. Alguns sites decidiram diretamente optar por desativar os comentários; alguns outros, por moderá-los.

Mas por que ocorre isto? Os psicólogos chamam de "efeito da desinibição on-line". Este efeito é parecido ao que acontece nas grandes aglomerações, nas manifestações ou nas multidões: a individualidade se dilui para surgir a sensação de impunidade do anonimato... e as restrições normais da vida cotidiana ficam para trás. Na Internet todos são nomes em uma tela: não há verdadeira interação, não há olhares, nem gestos, nem inflexões de voz. Quase ninguém teria coragem de dizer o mesmo mostrando a cara e com nomes e sobrenomes conhecidos.

Neste contexto, pois, há muito poucos incentivos para adotar as normas sociais habituais. No entanto, o cavalheirismo, o respeito, o humor e o rigor da maioria dos comentaristas do MDig, -sempre faço a questão de salientar isso-, supera à média de outros blogs e sempre são parte importante do artigo apresentado. Muita gente entra no site para ler as opiniões ou rir com o bom humor dos frequentadores.

Neste contexto, o discurso, por muito ilógico ou grosseiro que seja, não acarreta consequências: qualquer um pode falar uma besteira e sumir. Para sempre. Tal e qual acontece no trânsito, outro local onde a gente costuma ser mais agressivo e mal-educado que o habitual, inclusive pessoas tranquilas e corretas podem se tornar bestas assustadoras.

Basta retirar a identidade humana e o contato humano e agiremos de maneira desumana, tal e como demonstraram os estudos situacionistas clássicos de Philip Zimbardo e Stanley Milgram de 1969: nele, os reféns encapuzados tinham mais probabilidades de serem mortos que os reféns que não tinham o rosto coberto. Mas voltemos ao exemplo do carro:

Em vez de capuz, temos o recinto climatizado do carro. Por que não fechar esse motorista? Não o conhecemos e é provável que nunca voltemos a vê-lo. Por que não cruzar este bairro a toda velocidade? Não moramos aqui mesmo. Lembro me de um estudo onde os pesquisadores colocaram um carro em um cruzamento e dispuseram que não se movesse, intencionalmente, quando o semáforo ficasse verde. Depois mediram a rapidez com que os motoristas dos carros com capota ou conversíveis bloqueados tocavam a buzina e quanto tempo durava cada buzinaço. Os motoristas com a capota baixada demoravam mais para usar a buzina e faziam menos vezes e durante muito menos tempo que os motoristas anônimos com a capota levantada.

Pois... além de crer que o MDig é a extensão do beco onde todos os comentaristas moramos e nos respeitamos, comentar aqui também é como dirigir um automóvel, resta saber se prefere usar um carro conversível ou não. Mas recordem muito bem o que Schopenhauer disse certa vez:

"Quem insulta manifesta que no geral não tem nada substancial para propor ao outro; já que caso contrário invocá-lo-ia como premissa e deixaria que a audiência chegasse a sua própria conclusão; em vez disso, proporciona a conclusão e fica devendo as premissas."