Em certas ocasiões, as boas intenções geram péssimos resultados. É o caso de evitar a discriminação em todos os aspectos possíveis, sobretudo a nível trabalhista. E não se produzem apenas maus resultados, senão resultados paradoxais. Por exemplo, hoje em dia com este bando de vigilantes das atitudes politicamente incorretas, é proibidíssimo dizer algo que deprecie uma mulher ou um grupo étnico. Mas ninguém se escandaliza se o discriminado é um careca ou um barrigudo ou ainda aquele que sustenta uma opinião diferente do grupo. |
Explico: um empresário será socialmente estigmatizado se por acaso negar-se a contratar uma mulher porque, segundo seu julgamento, resultará menos rentável. Mas ninguém defenderá nem impulsionará quotas de contratação para carecas, gordos ou qualquer outro traço que o empresário considere pouco rentável (se for careca, não trará boa imagem para a empresa; se for gordo, será um vadio; etc.).
Pensemos em uma empresa, Indústrias MDig, que trabalha com uma comunidade formada por 25% de negros, 75 % de brancos, 5% de homossexuais e 95% de heterossexuais. Nem a empresa nem a comunidade sabem que só 2% dos negros e 6% dos brancos são homossexuais.
A empresa tem um grupo de trabalho de mil pessoas: 750 brancos e 250 negros. No entanto, assim teriam 5 negros homossexuais (2%), enquanto os brancos homossexuais seriam 45 (6%), 50 ao todo, 5% de todos os empregados.
Apesar do zelo da empresa, os empregados, entre si, descobrem o número de homossexuais. Os negros poderiam acusá-la de discriminar os homossexuais, já que entre os empregados negros só 2% seriam homossexuais, não os 5 % da comunidade. Os empregados homossexuais por sua vez poderiam afirmar igualmente que a empresa está sendo racista, porque este grupo só seria 10% de negros e não os 25 % da comunidade. Os heterossexuais brancos poderiam formular queixas parecidas... e assim por diante.
Dito de outra forma, se existem disparidades estatísticas na contratação trabalhista não deveríamos imputá-las imediatamente ao racismo ou ao machismo ou a qualquer outra corrente politicamente incorreta, ou poderia acontecer o que já vem ocorrendo com o idioma, um exagero de eufemismos e novas palavras para substituírem as que já existem, mas que alguém, não se sabe porque, decidiu que são muito grosseiras:
As pessoas acabam inventando palavras novas para referências com carga emocional difusa, mas o eufemismo logo é contaminado por associação, e há que encontrar outra palavra, que em seguida adquire suas próprias conotações, e assim sucessivamente. Isso ocorreu no inglês com as palavras para denominar os banheiros: water closet converte-se em toilet que passa a bathroom, que se converte em restroom, que passa a lavatory, todas estas palavras porque alguém decidiu que falar "cagador" é muito feio.
Este fenômeno ocorre porque as pessoas acham que as palavras modelam nossa mente (por isso os pais não permitem que os filhos falem palavrões). A ideia subjacente a esta estratégia é que as palavras e as atitudes são tão inseparáveis que poderiam predispor as atitudes das pessoas. Uma ideia que de nenhum modo foi atestada, e que ademais resulta infrutífera à hora de mudar à sociedade. Esta obsessiva substituição de termos demonstra que não são as palavras que modelam nossa mente, senão os conceitos. Podemos batizar um mesmo conceito com diferentes nomes, mas o conceito permanece, e acabará invadindo o novo nome.
Enquanto a gente tiver uma atitude negativa, por exemplo, com as minorias, os nomes para designá-las mudarão incansavelmente sem que a atitude mude. Ser machista ou não sê-lo, pois, não depende se empregamos linguagem sexista. Também não depende se usamos palavras racistas. Saberemos que conquistamos o respeito mútuo quando os nomes permaneçam imutáveis sem que tenham uma conotação pejorativa. Aí sim deixaremos de buscar igualdade estatística para que ninguém se sinta discriminado por pertencer a um determinado coletivo.
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Comentários
Eufemismo, às vezes, cria mais problemas do que resolve (?).
Veja bem, os nossos ancestrais europeus saíram da África a caminho da europa há trocentos mil anos. No novo ambiente, tiveram que fazer adaptações, e houve uma mudança radical na alimentação deles, tais mudanças trouxeram um grande problema - deficiência de vitamina D. A solução encontrada foi sintetizar a vitamina através da pele, utilizando os raios solares pra isso, já que a alimentação não mais supria as necessidade. Os que possuíam menos melanina na pele tinham a maior facilidade de absorver os raios, sintetizando melhor a vitamina, diferente dos que possuíam maior concentração de melanina. Sendo assim, a cor branca surgiu pela força da seleção natural que deu vantagens a portadores de genes para uma pele mais clara.
E esse povo aqui ainda tema em ser besta e racista. Viemos de intercâmbios genéticos. A África é o berço único da espécie humana. E qual seria a superioridade da raça branca sobre a negra? A maior capacidade de absorver raios ultravioleta?
Não se esquecendo que negro é uma forma de conceito para a cor da pele.
Ela existe, chamar por outro nome é como se negasse a existencia da cor, ao inves de aceitar que as pessoas tem cor e devem ser respeitadas independente da cor.
Por isso que dizem que os brasileiros são racistas mascarados. Com essa ideia de "afrodescendente" ao inves de preto. Muita hipocrisia.
O problema realmente não está nas palavras, mas sim no conceito. É como o caso do banheiro, cujo nome em inglês foi mudado diversas vezes. E com relação à raças? Qual o problema de se referir a um negro simplesmente como negro? Pq utilizar o termo afro descendente?? Por acaso negro é xingamento? Encaro certos eufemismos como um preconceito velado.
O problema não está nas palavras, mas sim no significado que damos à elas, por exemplo, existem palavras de nosso cotidiano que um dia já foram de baixo escalão; palavras como virília, que se refere originalmente ao orgão sexual masculino, a palavra "coitado" faz alusão a coito. E quanto às palavras de sentido pejorativo, a palavra garçon no francês quer dizer menino, mas aqui no Brasil, houve um momento em que algúns clientes chamavam os bombeiros de postos de gasolina, ou embaladores de supermercados de "homenzinhos", particularmente eu acho de maugosto, mas verdade seja dita as palavras são usadas dessa forma, e isso acontece em línguas vivas. De qualquer forma acho importante pensar sobre as palavras que usamos, os significados, e a maneira como tratamos as outras pessoas.
Nossa, que texto filosófico..Parabéns, muito bom mesmo....
A favela agora é comunidade, viu? Será que o pessoal da favela (quero dizer, comunidade) agora se sente melhor com a mudança da designação do lugar onde vivem?
Se eu falo que não gosto de gordas eu sou machista , mas se uma mulher diz que não gosta de peludos então tudo bem .Por que ?
Caras, finalmente alguém concorda comigo. Acho "o fim" tudo ser considerado "incorreto" quando se fala de negros, homossexuais, mulheres, enquanto se sacaneia com os baixinhos (como eu), os gordos, os feios, os barrigudos, os carecas. Se olhar bem, todo mundo faz parte de alguma minoria, e dentro da minoria, ninguém liga.
Podem observar que os homossexuais se tratam por "bicha", "veado". Muitas mulheres se cumprimentam com adjetivos que, em outras situações, seriam ofensivos. Até houve momento em que a palavra "judiação", "judiar" foi considerada ofensiva aos judeus (judiar: inflingir sofrimento como inflingiram aos judeus) e seria banida do nosso vocabulário.
Para não alongar muito, quero dizer que na minha opinião chamar um negro de negro só seria ofensivo se ele entender que negro é inferior; assim como chamar um branco de branco nunca foi considerado politicamente incorreto. Está na hora de pararmos com essas frescuras, e chega de dizer que sempre que um negro, um homossexual ou uma mulher perdem espaço, seja no emprego, seja na escola, isso é por causa de preconceito. Às vezes, pode ser por incompetência mesmo. Ou será que entre minorias só tem gente competente? Por fim, creio que reserva de vagas ou sistema de cotas nada mais são do que sistemas de discriminação "ao contrário". Falei.
:ma:
Existem raças, sexos e classes sociais que já são quase um sinônimo de preconceito, ninguém percebe que existem outras também e que não dão a mínima
Por isso que se fala que tal coisa é boa para c.aralho, porque é muito boa. Ou tal coisa é grande para c.aralho.
Mas toda essa hipocrisia com a linguaguem. Tem até filtros para palavras "sujas", porque não se pode falar c.aralho? (né admin)
Maldito senso comum. Antigamente os indios não deixavam ninguem saber seu nome porque achavam que se alguem soubesse o nome, poderia controlar a "alma" (seja lá o que for isso, se é que existe) da pessoa.
Outra coisa é xingar. Porque não posso chingar com palavras ditas "sujas"?
Como se xingar algo fosse resolver o problema, ou piorar. Tem pessoas que pensão que chingar "atrai" o "mal".
Tá certo, podem pensar o que quiser.
Eu fiz uma esperiencia com meus computadores certo dia.
Com dois computadores rodando o mesmo programa, em um eu mandei alguem ficar xingando, e em outro não.
Nenhum dois dois programas apresentou falhas que não as que já existiam de propósito neles.
Claro que a base estatistica foi muito pequena, ainda vou fazer com um datacenter todo.
Mas o fato, é que nenhum misero bit se alterou.
Chingar não atrai o mal, se é que isso existe. Eu sempre desejo que o chão se abra para eu ver o inferno, mas isso nunca ocorre.
O maximo que faz é descontar a raiva, e/ou aumentar a frustação.
Se fosse assim, os americanos xingam para ca.ralio, logo deveria acontecer tudo de pior no mundo somente com eles. E não com os japoneses por exemplo, que quase nunca chingam.
e ai blz
Concordo plenamente. Por exemplo o "palavrão" ca.ra.lho não é nada mais que o nome que se dá ao maior dos mastros de um barco a velas. E boc.e.ta é um diminutivo de bolsa.
"Podemos batizar um mesmo conceito com diferentes nomes, mas o conceito permanece, e acabará invadindo o novo nome."
huuum, legal msm!
Saberemos que conquistamos o respeito mútuo quando os nomes permaneçam imutáveis sem que tenham uma conotação pejorativa. Aí sim deixaremos de buscar igualdade estatística para que ninguém se sinta discriminado por pertencer a um determinado coletivo.
Fechou com chave de ouro!
Tive um professor que esse ano foi demitido do estado porque ele é obeso.
Ele trabalhou 20 anos no estado e uns 15 em escola particular, e agora ele é demitido por causa disso.
Odeio generalizar, mas TUDO no Brasil ta ficando cada vez pior.
[E o cara é só PhD em matemática e física, melhor professor de exatas que já tive]
Exatamente. Isso cria um problema logico que afeta as empresas.
Outra coisa relacionada que pode acontecer.
Se cair ao passado, todos sabemos que devido ao passado de tal etinia, os individuos dela tiveram uma condição de estudo atrasada em relação as outras.
Portanto é mais dificil achar individuos dessa etinia na area de informática por exemplo.
Alguns vão pensar que as empresas estão discriminando por conta do percentual ser menor que a media de outras empresas, mas se esquecem que a mão de obra tem uma especialidade de nivel maior em determinados grupos sociais do que em outros.
Isso não é discriminação, é um simples reflexo do que ocorre na sociedade.
Porem, dependendo da quantidade de pessoas que trabalham. Existe politicas de cota que a empresa tem que seguir, e priorizar uma determinada etinia ou grupo social.
O que ocorre se tiver um cara muito bom e um cara ruim mas da etinica com cota (teoricamente desfavorecida), é que o cara ruim vai pegar o emprego do cara bom, por conta que a empresa tem que preencher uma regra arbitraria de que precisa ter 15% de tal etinia por exemplo.
Eu acho isso muito injusto com a pessoa que é melhor tecnincamente e com a empresa que ficará com um funcionário que não vai render o que deveria, por conta que determinado grupo se sente ofendido por ter menor contratação.
Quando na verdade a culpa é do próprio grupo.
É sempre mais facil a culpa ser do outro, ou o sistema ter que ser dobrado para voce levar vantagem.
Eu vejo com despreso quem usa sistemas de cota. Eu não usária se eu estivesse em uma condição de desfavorecido.
Primeiro, todos tem os direitos iguais, mas são os direitos basicos, alguns tem mais direitos que os outros. E isso não significa que todos são iguais.
Todos são diferentes, e realmente uns tem mais capacidade em algo do que outros, essa é a verdade.
O sistema de cota só serve mesmo para alguem levar vantagem.
Se as regras do jogo são as mesmas para todos, então todos tem o mesmo direito. Quanto alguem tem vantagem ou cota, essa pessoa tem mais direito que as outras. O sistema se torna injusto, se por qualquer motivo a pessoa não pode competir de igual para igual, não se deve alterar as regras do jogo, e sim resolver o problema que faz a pessoa ter que precisar de cota.
Que é a educação boa e acessivel indepente da etinia.
Preconceitos as vezes surgem de quem "supostamente" está sendo a vitima...
Maria.
Explico sim. Mas pra não transformar isso em chat te envio um mail.
ótimo, diga não ao sexismo, eu prego igualdade entre os sexos, menos na hora de levantar peso.
Nunca pensei que os carecas tivessem problemas para arrumar emprego, pensei que fosse apenas com a autoestima.
É, já vi que no mundo cão não há emprego para uma mulher negra, careca gorda e homossexual.
E, pra terminar, chamar o Justin Bieber de viadinho, ao invés de homosexual, não torna uma pessoa preconceituosa.
Tyr,
Explica pra mim então...
Ficou bem explicado. Uma perpetuação constante de mudanças infindáveis.
Hora extra?
hã... dá pra repetir?