Megaupload, criminosos ou vítimas?

No vídeo que introduz este post é possível ver a tal The Mega Song, polêmico vídeo musical que o Megaupload subiu para o YouTube há mais de um mês no qual vários artistas apoiavam à companhia. Em seu momento a Universal conseguiu que o retirassem com uma justificativa risível e patética, mas Megaupload conseguiu que o readmitissem já que não infringia nenhuma lei nem copyright.

Nele é possível ver vários dados do volume que supunha a companhia na Internet, mas o que não se vê é o dinheiro que ganhavam com isso. Proponho a seguir uma reflexão sobre até quando é permissível compartilhar arquivos. Convido todos a refletir com sinceridade e que comentem o que realmente pensam do tema de compartilhar arquivos, o modelo de negócio do Megaupload, e sugestões de alternativas viáveis de novos modelos de distribuição.

Está claro que nos dias atuais está mais do que demonstrado que todos subimos e baixamos de tudo na Internet, tanto usuários particulares como empresas e inclusive os governos. O uso das cópias é algo comum em nossa cultura e ainda que criem muitas leis a respeito será muito complicado mudar isso. Mas também deve estar claro que alguém tem também que comprar essas entradas do cinema, esses livros, essa música, esses DVDs, esses jogos, esse softwares... senão simplesmente o sistema desaba.

Há quem alegue que tudo o que se cria deve ser acessível aos demais gratuitamente; outros, todo o contrário. Mas qual é a liberdade do criador, o único que deveria opinar, de escolher como quer que sua obra seja distribuída?

Antes era nula, já que para sua distribuição mais ou menos em massa precisava das distribuidoras, mas hoje em dia graças a Internet qualquer um pode colocar a disposição de todos o que quiser fazendo ele mesmo sua distribuição.

O problema é que ambos sistemas de distribuição colidem em uma via de escape, o da distribuição tradicional que não soube assimilar a mudança e nem adotar um novo modelo fazendo com que a cópia privada transborde o sistema. Mas é pura demagogia dizer que tudo é cultura e deve ser compartilhado publicamente, queiram seus criadores ou não. Ademais, quem ganha dinheiro publicando o trabalho de outros, com a mera desculpa de distribuição de conteúdo, demonstra uma flagrante falta de respeito e caráter, e infelizmente a rede tem muitos desses exemplos.

A história de que os grupos musicais ganham milhões nos concertos ou que atores estão rasgando dinheiro pode até ser verdade, mas nem todo mundo é assim, há gente que não quer ou não pode fazer shows e em um filme trabalham muitas pessoas simples que precisam levar o leite para casa todos os dias.

O fechamento do Megaupload não é absolutamente um ataque à liberdade de expressão, é um ataque ao lucro à custa de outros, que fica bastante na incrível quantidade de artigos de luxo ostentadas por seus criadores.

Outra coisa é a forma com a qual o Departamento de Justiça dos EUA quer que os envolvidos pareçam aos olhos do mundo, como se fossem uma espécie de assassinos por parte de produtoras e governos. E também não se deve permitir que a base de leis ameace uns poucos amparados por interesses econômicos que desejam controlar a liberdade da Internet. Só estes dois motivos já justificam plenamente o protesto do Anonymous em seu ataque a sites de entidades governamentais americanas e da indústria da música e do cinema.

Nem tanto ao mar nem tanto à Terra. Está claro que as coisas devem mudar e que em frente à total sem-razão das produtoras que querem criminalizar os que compartilham conteúdos de forma legal, também é absurda a postura do usuário que quer tudo grátis e que inclusive reclama da publicidade. Tudo isso só faz com que surjam coisas como SOPA e PIPA, porque tanto uns como os outros se veem como inimigos, e a coisa não é bem por ai.

Todos gostamos de ver filmes e séries, ler livros e jogar, mas está claro que devemos ceder algo para apoiar seus criadores, programador também come. O que não é permissível é que o dinheiro seja levado por outros que simplesmente passam por ali para tornar a distribuição mais fácil sem o consentimento dos criadores.

As alternativas estão aí, surgindo lentamente, mas ao menos em processo: os sites de quase todas as redes de TV oferecem seus conteúdos de forma gratuita com publicidade, ainda que existam problemas com a distribuição internacional. Canais de TV que viviam ameaçando cobrar direitos autorais, hoje incitam os internautas a postarem seus vídeos no Youtube. Os serviços de aluguel de filmes e jogos com tarifas planas também estão sendo implantados pouco a pouco.

Ainda que há muitas empresas que se aferram nos modelos ultrapassados de tempos de outrora, também há gente no sistema que quer ir mudando as coisas e o justo deveria ser que apoiássemos essas iniciativas e não à de uns poucos que controlam e exploram algo que não é seu. Não confunda cu com bunda, a maioria destes sites de compartilhamento não estão nem um pouco interessados se compartilhamos livremente, só querem uma fatia do bolo que não lhes é devida.

Não nos deixemos levar pela demagogia de que estão roubando nossa liberdade com o fechamento do Megaupload, quando todos sabemos que na verdade o que nos chateia é que nos tiraram um sistema ao qual muitos já estavam acostumados, alguns inclusive com renovação automática de contas Premium. Aliás quem deve devolver agora todo o dinheiro dessas contas? Por suposto eles e não o governo. A ira de seus clientes deve ser enfocada a que foram levados a confiar em um sistema que ainda que lícito em sua essência, não soube adequar-se às leis, qeu de fato, seu dono e fundados, sabe muito bem como se posicionar à margem.

Apoiemos Creative Commons, open source e as plataformas que querem tornar a distribuição mais fácil, cômoda e barata para os clientes, que são os que sempre buscam as soluções dignas e justas para criadores e usuários, algo mais adequado para que se assente os anseios da sociedade sem que com isso seja preciso mudar o modelo de troca de informação instantânea, com toda a liberdade de expressão, da rede que todos nós tão bem acostumamos e não queremos perder.