O recentemente falecido programador e hacktivista Aaron Swartz abraçou a causa de liberar o conhecimento científico para a humanidade. Aaron estava sendo incriminado por utilizar a rede do MIT para colocar na nuvem da Internet centenas de milhares de publicações científicas e torná-las disponíveis gratuitamente. Isto e a minuciosa vigilância de agências de inteligência americanas, segundo amigos e familiares, levou a Aaron ao suicídio (alguns inclusive teorizam que foi assassinado). |
Aaron, que desde a adolescência foi um dos arquitetos da Rede, antes da efervescência do WikiLeaks já tinha formulado um manifesto a favor da liberdade da informação, afirmando o direito a copiar e distribuir arquivos que sejam do interesse público, como é o caso dos trabalhos científicos cooptados por uma elite. A ciência, segundo a visão de Aaron, é patrimônio da humanidade e deve ser acessível gratuitamente a qualquer pessoa: por direito e para fomentar a inovação.
Compartimos aqui a tradução do manifesto de Aaron com o qual lançou o movimento de Guerrilha Open Access. Vale a pena a leitura para atestar que o mundo perdeu realmente um sujeito especial. No seguinte link é possível encontrar o documento original: Guerrilha Open Access Manifesto.
A informação é poder. Mas como todo poder, há aqueles que querem se combinar com ele. Todo o legado cultural e cientista do mundo, publicado por séculos em diários e livros, está sendo digitalizado e armazenado por um pequeno grupo de corporações. Quer ler os trabalhos com os resultados mais importantes da ciência? Terá que enviar grandes quantidades de dinheiro a editoriais como Reed Elsevier.
Existem pessoas lutando para mudar isto. O Open Access Movement vem lutando valentemente para assegurar que os cientistas não assinem direitos autorais e em vez disso assegurem que seu trabalho seja publicado na Internet, sob termos que permitam a qualquer um ter acesso a ele. Mas inclusive em melhore situações, isto só será aplicável para publicações futuras. Tudo o que não foi publicado sob esta licença se perdeu.
É um preço muito alto para pagar. Forçar acadêmicos a gastar dinheiro para ler o trabalho de seus colegas? Escanear bibliotecas inteiras, mas só permitir que o pessoal do Google possa ler? Fornecer artigos científicos a uma elite de universidades do primeiro mundo, mas não aos meninos do sul do mundo? Isto é indignante e inaceitável.
“Estou de acordo”, muitos dizem, “mas o que posso fazer? As companhias detêm os direitos autorais, geram enormes quantidades de dinheiro cobrando acessos e é perfeitamente legal, não há nada que possamos fazer para detê-los”. Mas sim há algo que podemos fazer, algo que já estamos fazendo: opor-nos a eles.
Aqueles com acesso aos recursos –estudantes, bibliotecários e cientistas– receberam um privilégio. Podem se alimentar deste banquete de conhecimento vedado para o resto do mundo. Mas não devem -moralmente não podem- manter este privilégio para si mesmos. Têm um dever de compartilhar com o mundo. E têm uma forma: compartilhar senhas com colegas, preencher petições de downloads para amigos
[...] Mas toda esta ação ocorre na escuridão, oculta no subterrâneo. É chamada roubo ou pirataria, como se compartilhar uma riqueza de conhecimento fosse o equivalente a saquear um navio e assassinar a sua tripulação. Mas compartilhar não é imoral, é um imperativo moral. Só aqueles cegos pela ambição impediriam que um amigo fizesse uma cópia.
As grandes corporações, desde sempre, estão cegas pela ambição. As leis com as quais operam assim requerem, seus acionistas se amotinariam se fosse de outra forma. E os políticos vendidos as apóiam, passando leis que dão a eles poder exclusivo sobre quem pode ou não fazer cópias.
Não há justiça em seguir leis injustas. É tempo de esclarecer as coisas, na grande tradição da desobediência civil, e declarar nossa oposição a este roubo privado da cultura pública.
Devemos tomar a informação, onde seja que esteja armazenada, fazer cópias e distribuir pelo mundo. Devemos tomar o material que já não tem copyright e acrescentá-lo ao arquivo de conhecimento público. Devemos comprar bases de dados secretas e compartilhá-las na rede. Devemos comprar e baixar publicações científicas e subir às redes de compartilhamento de arquivos. Devemos lutar pela Guerrilha Open Access.
Com suficientes de nós, em todo mundo, não só enviaremos uma mensagem forte contra a privatização do conhecimento, faremos com que seja uma coisa do passado. Vai se unir a nós?Aaron Swartz, julho 2008, Eremo, Itália.
O MDig precisa de sua ajuda.
Por favor, apóie o MDig com o valor que você puder e isso leva apenas um minuto. Obrigado!
Meios de fazer a sua contribuição:
- Faça um doação pelo Paypal clicando no seguinte link: Apoiar o MDig.
- Seja nosso patrão no Patreon clicando no seguinte link: Patreon do MDig.
- Pix MDig ID: c048e5ac-0172-45ed-b26a-910f9f4b1d0a
- Depósito direto em conta corrente do Banco do Brasil: Agência: 3543-2 / Conta corrente: 17364-9
- Depósito direto em conta corrente da Caixa Econômica: Agência: 1637 / Conta corrente: 000835148057-4 / Operação: 1288
Faça o seu comentário
Comentários
“Seja curioso. Leia muito. Experimente coisas novas. Eu acho que muito do que as pessoas chamam de inteligência apenas se resume a curiosidade.” ― Aaron Swartz
Me emocionei
Concordo em parte com ele. Sei que os autores devem ter seus direitos assegurados, porém, acho que tais direitos deveriam ser restringidos a no máximo 5 anos, e depois disso deveriam ser de domínio público.
É uma maneira de divulgar conhecimentos que seriam acessíveis a todos e poderiam auxiliar muita gente necessitada.
Tenho certeza que ele foi assassinado, é o sistema monopolizando todo conhecimento!!!
Bora fazer, upando 5gb de pdfs no torrent para qualquer um ler.
Que chacoalhão! Mas, este é o espírito. E esta é a contribuição maior que a juventude pode dar à sociedade. Aaron Swartz fez muito mais do que lhe pode ser exigido enquanto jovem e corajoso. Ele criou, produziu, inseriu-se num sistema que ele julgava injusto. Foi muito pra ele, não há dúvida. O ensejo de sua vida é exatamente igual ao de muitos que avançam os limites naturais desta fase da vida. Exceto o enorme pesar causado por seu sacrifício, seu legado foi ainda maior. E cada vez que leio algo sobre este desconhecido pra mim, mais o admiro. Convenhamos, ele não precisava morrer. Mas, é o preço que se paga por assumir a responsabilidade urgida por seu ideal. Jovens não são pra isto, não tem que tomar frente de nada, assumir riscos assim que se inserem no mundo adulto. Isto é terrível. Bastava ter feito exatamente o que ele fez enquanto jovem: rebelar-se, questionar, exigir da sociedade a tolerância pra dar vasão ao sagrado direito da desobediência civil. Direito este negado ao adulto já inserido nas responsabilidades da vida ou, ao menos, recusado por este, seja por conveniência, ou pela responsabilidades perante a vida. A garotada tem que voltar a fazer o que faz de melhor: reagir ao que acha errado, se irreverente. E a parcela da sociedade que reconhece seus anseios tem de saber ceder, saber escutar e fazer eco aos apelos da juventude. Não se deve cobrar do jovem a responsabilidade pela mudança. Isto é falácia. Deve-se respeitar as críticas e reconhecer o direito da geração posterior de recusar o que já não lhes serve. E cabe aos adultos agir pra implementar as mudanças. Este peso é nosso, não da garotada. Eles não devem morrer por causas que nós deveríamos abraçar. Desculpem o tamanho do texto.
Pois é. Já pensei nisso enquanto escrevia um artigo pra faculdade e não tinha muitos exemplares dos livros na biblioteca e não encontrava um pdf decente, pela internet.
Encontrei os sites dos autores, eram usados como currículos, tinham artigos gratuitos, mas os livros, apesar de serem de uso acadêmico, só comprando.
Uma briga que está longe de terminar.