Teve um tempo onde algumas pessoas próximas aos reis deviam ir junto a sua majestade a qualquer aposento. Esses homens tinham o sugestivo título de Groom of the Stool, e que basicamente tinham a mordomia de atender as suas majestades enquanto estes se encontravam em seu troninho real. Muitos falam que esse foi o "pior emprego do mundo", mas obviamente há muitíssimos piores. Não resta dúvida de que ser o ?limpa-cu? (sua tradução direta viria a ser o "moço do cocô") oficial da coroa não era boa coisa, mas ainda assim era um cargo cobiçado. |
William III e seu trono
A partir de 1500 a latrina do Rei da Inglaterra era um autêntico luxo. Tratava-se de um assento acolchoado de veludo, um elemento portátil embaixo do qual tinha uma bacia de cerâmica encerrada em uma caixa de madeira.
O curioso nesta parte da história é que o rei, que devia cagar como o resto dos mortais, não o fazia só. Desde 1500 até 1700 os reis da coroa britânica nomearam uma série de nobres com a estranhamente prestigiosa oportunidade de acompanhá-los na tarefa mais privada de suas majestades: fazer cocô.
Obviamente falamos de uma parte da história dos reis afastada do glamour de uma corte, mas todo um acontecimento naqueles dias. De fato, ainda que não fosse o trabalho glamouroso que normalmente imaginamos em um palácio, ser um limpa-cu era em realidade uma posição muito cobiçada na casa real.
Pensemos na seguinte situação. A cada dia, enquanto o rei sentava em seu tamborete acolchoado e coberto de veludo, o homem revelava segredos. E a quem ele pedia conselho? A estes intrépidos que tinham rompido qualquer princípio de desconforto e privacidade com sua majestade. Os reis se sentiam tão livres para falar dos problemas pessoais e políticos com seus assistentes pessoais, e em última instância acabavam até pedindo conselhos.
Henry Rich, Groom of the Stool de Charles I
Segundo explica Tracy Borman em "The Private Lives of the Tudors", os primeiros Groom of the Stool não tinham muito prestigio. Mais tarde e durante o reinado de Henrique VIII a coisa mudou. Então os homens da corte mais próximos ao rei receberam o título em grupo. Cavaleiros e nobres de prestígio ficavam com o monarca em seu quarto particular, atuando tanto como seus secretários pessoais e dando toda a atenção do mundo quando sua majestade se sentava no tamborete.
Com os anos o que era um grupo passou a ser a tarefa de uma pessoa. Uma que viajaria com o rei em seu cagador portátil se este se ausentasse. Por verdade, os únicos que não desfrutavam desta mordomia eram os monarcas no exílio, a quem foi negado o assistente confidente.
Os limpa-cus eram responsáveis por todas as atividades e assuntos do dormitório do rei, além de fazer a devida limpeza do cu real com uma flanela quando sua majestade tinha terminado de defecar, também eram os encarregados de chamar um criado para que esvaziasse e limpasse o utensílio.
Esses assistentes deviam se assegurar de que o rei estava bem vestido e banhado, que sua cama estava arrumadinha e que suas finanças pessoais estavam em ordem. Tracy diz que em ocasiões os assistentes tinham controle para gastar dinheiro em numerário sem pedir ao rei.
Com a passagem dos anos estas figuras chegaram a ser temidas por outros membros da corte. Eles tinham um conhecimento como nenhum outro sobre os assuntos políticos e pessoais do rei, e ademais e o que é mais importante: a confiança do monarca. Inclusive aconteceram casos como o de Sir Henry Norris, que exerceu a função limpando o avantajado traseiro de Henrique VIII. Tão implicado e compenetrado que estava nas intrigas do palácio, acabou sendo acusado de adultério com Ana Bolena e por isso foi decapitado.
Finalmente, em meados de 1700 este símbolo de status na corte começou a decair. Pensa-se que Sir Michael Stanhope foi o último em ostentar o posto para Eduardo VIII. Ele foi o último homem a limpar o cu de um rei olhando o resto do mundo acima do ombro.
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Comentários
que honra hein? kkkk já vi um desses no museu
Esta atividade ainda existe hoje em dia. Tem menos prestígio, mas muita mais dignidade. Quem trabalha em hospitais e tem de cuidar de doentes acamados, ou quem trata de pessoas idosas ou com deficiências tem de realizar esta tarefa nada agradável.
Eduardo VIII viveu no séc. XX. Nos anos de 1700 não podia ser ele.
:roll:
Que situação!
Flanela me lembra pratas polidas, vidros brilhantes...
Constrangedor.