O Papa, as camisinhas e a AIDS

Alguns Amigos do MDig podem até pensar que tenho algo contra este papa, o que não é de todo errado, acho-o muito estranho e longe de ser "do bem" como o simpático papa anterior. Mas eu juro que tento evitar publicar matérias sobre ele e a ICAR, só que "vira e mexe" vemos estes dois em meio a uma polêmica.

Por isso protelei... protelei, mas não teve jeito, resolvi então publicar este tópico a respeito da opinião bastante distorcida do chefe da igreja católica em relação aos preservativos. Até pensei em escrever muitas coisas a respeito, mas conhecendo minha veia incendiária preferi ser prudente e traduzir um artigo mais moderado: um editorial do New York Times a respeito das últimas declarações do Papa sobre o uso da camisinha.


O Papa Bento XVI tem todo o direito a expressar sua opinião –em bases morais– sobre o uso da camisinha, tal e como afirmam as instâncias oficiais da Igreja Católica Romana. Mas não merece nenhum crédito quando distorce as pesquisas científicas a respeito do valor dos preservativos à hora de combater a expansão do vírus da AIDS.

Os jornalistas que acompanharam o Papa em seu vôo a África informaram que Bento disse que "... a distribuição de preservativos não resolveria o problema da AIDS, pelo contrário, agravaria ou incrementaria". A primeira metade dessa frase é completamente verdadeira, unicamente com preservativos não poderemos deter a expansão do H.I.V., o vírus que causa a AIDS. Para eliminar o vírus precisamos de campanhas que estimulem a redução no número de parceiros sexuais, e que recomendem práticas de sexo seguro

Mas a segunda metade dessa frase é lamentavelmente falsa. Não existem provas de que o emprego de preservativos esteja agravando a epidemia, ainda que existem evidências consideráveis de que estes preservativos podem resultar de utilidade em muitas circunstâncias.

Desde um ponto de vista individual, os preservativos funcionam muito bem na prevenção da transmissão do vírus da AIDS de pessoas infectadas a pessoas saudáveis. Os CDC, Centros para o Controle e Prevenção de Doenças, citam provas exaustivas e concludentes de que os preservativos de látex, quando usados de maneira sistemática e de forma correta, são sumamente efetivos evitando a transmissão heterossexual do vírus que causa a doença. Os últimos e mais recentes meta análise, publicados pela respeitada organização Cochrane Collaboration, concluem que os preservativos podem reduzir a transmissão do vírus da AIDS em 80%.

No entanto, ambas organizações alertam que o uso de preservativos não é uma proteção absoluta. Algumas vezes os preservativos podem romper, escorregar ou serem colocados de forma incorreta. A melhor forma de evitar a transmissão da AIDS é abster-se de manter relações sexuais casuais, ou manter uma relação de longo prazo e mutuamente monógama com uma pessoa não infectada.

Sobre uma perspectiva nacional, assim como em vários outros países, promover o uso da camisinha tem sido efetivo no combate a epidemias em grupos de alto risco, tais como prostitutas e seus clientes. A nível global, esta estratégia tem sido menos efetiva na atenuação da epidemia, que se estendeu à população em geral em zonas como a África subsaariana. Isto acontece porque provavelmente naqueles países muito pouca gente usa os preservativos corretamente e de forma sistemática.

Inclusive assim, as autoridades sanitárias consideram os profiláticos um componente valioso em qualquer programa bem planificado para a prevenção da expansão da AIDS.

A atitude de culpar os preservativos por incrementar e agravar a epidemia é bastante irresponsável.