A incrível tomada única de um filme de 1964

"Eu sou Cuba", uma antologia dramática dirigida pelo russo Mikhail Kalatozov, em 1964, foi um fiasco em seu tempo. O filme não foi bem recebido nem pelo público russo nem pelo cubano e foi quase completamente esquecido até ser redescoberto por Scorsese nos anos 90, que iniciou uma campanha para restaurá-lo. Mikhail teve liberdade considerável para concluir o trabalho e recebeu muita ajuda dos governos soviético e cubano. O filme utilizou várias técnicas inovadoras, entre elas uma tomada única que parece impossível para aquela época.

Na cena, a câmera segue uma bandeira sobre um corpo, carregado em uma maca, em uma rua movimentada. Em seguida, ela para e sobe lentamente por pelo menos três andares até filmar o corpo sinalizado de cima de um edifício. Sem parar, ela começa a seguir de lado e entra por uma janela em uma fábrica de charutos, depois vai direto para uma janela traseira onde os funcionários observam o enterro.

A câmera finalmente passa pela janela e parece flutuar no meio da rua entre os prédios. A cena seria difícil de ser gravada inclusive hoje em dia. Essas imagens foram realizadas por um operador com a câmera presa em seu colete -como uma versão primitiva e tosca de uma Steadicam- e o operador da câmera também usava um colete com ganchos nas costas. Uma linha de montagem de técnicos enganchava e desengatava o colete do operador em várias polias e cabos que se estendiam por pisos e telhados de edifícios. A cena precisou ser gravada seis vezes até finalmente dar tudo certo.

A cena foi aprimorada a 1K, interpolada a 50 fps e colorizada pela inteligência artificial do MDig. Você pode assistir o filme na íntegra no canal russo de cinema Mosfilm (https://www.youtube.com/watch?v=Y3HpI898dwg).