Esta bicicleta de aparência estranha com um disco central enorme foi projetada para velocidade, e velocidade ela atingiu. Em 19 de julho de 1962, o ciclista francês José Meiffret desceu a Autobahn perto de Friedburg, Alemanha, nesta mesma bicicleta a uma velocidade incrível de 204 km/h, tornando-se assim o primeiro ciclista a quebrar a barreira dos 200 km/h. Para atingir uma velocidade tão incrível usando apenas a força muscular, a bicicleta de Meiffret teve que passar por inúmeras modificações. |
O disco dentado padrão foi substituída por uma roda superdimensionada com 130 dentes. Ela foi conectada a uma roda dentada traseira de 15 dentes, resultando em uma alta relação de marchas. A roda traseira também foi aumentada para que a bicicleta cobrisse mais terreno a cada volta dos pedais. O ângulo do garfo foi invertido para permitir que o ciclista se aproximasse mais do rolo (você já vai entender). Os aros eram feitos de madeira para evitar superaquecimento e pneus tubulares foram usados para desempenho ideal.
José praticava um tipo de ciclismo chamado "corrida motorizada", onde um ciclista anda bem atrás de uma motocicleta ou carro, chamado de pacer, para se beneficiar de seu vácuo. O pacer é equipado com um grande para-brisas que protege o ciclista da turbulência, reduzindo drasticamente a resistência do ar e permitindo que ele atinja velocidades inatingíveis em uma bicicleta movida apenas por humanos.
Corridas motorizadas são um esporte perigoso que já custou a vida de inúmeros ciclistas, incluindo alguns dos melhores do mundo. Em 1903, o ciclista americano Harry Elkes morreu quando seus pneus explodiram a 100 km/h, jogando-o sob o para-brisas de outro ciclista.
Bobby Walthour, um dos maiores ciclistas americanos de sua época, sofreu uma lista quase inimaginável de lesões ao longo de sua carreira. O historiador Peter Nye observa o "impressionante (ou desanimador) inventário de lesões" de Bobby, incluindo 28 fraturas na clavícula direita, 18 na esquerda, 32 costelas quebradas e 60 pontos no rosto e na cabeça. Em uma ocasião, como conta a história da família, ele foi erroneamente declarado morto em Paris e levado para o necrotério, apenas para recuperar a consciência na laje fria.
O próprio José escapou por pouco da morte em 1952, quando corria em Montlhery, França. Enquanto pedalava em alta velocidade, a roda dianteira de sua bicicleta quebrou e seu corpo deu várias piruetas no ar antes de se arrastar por mais de 50 metros no asfalto. Seu corpo ficou todo arranhado e ensanguentado. Os médicos encontraram cinco fraturas separadas em seu crânio. Milagrosamente, José sobreviveu.
José estava bem ciente dos perigos quando começou sua tentativa de quebrar o recorde na rodovia perto da cidade alemã de Friedburg. A tela para-brisas tinha um rolo, mas se ele o tocasse a 150 quilômetros por hora, poderia cair. Por outro lado, se ele ficasse para trás apenas 30 centímetros, a turbulência faria picadinho dele.
No bolso, José carregava um bilhete:
- "Em caso de acidente fatal, peço aos espectadores que não sintam pena de mim. Sou um homem pobre, órfão desde os onze anos, e sofri muito. A morte não me aterroriza. Esta tentativa de recorde é minha maneira de me expressar. Se os médicos não puderem fazer mais nada por mim, por favor, enterrem-me na beira da estrada onde caí."
José Meiffret nasceu em 1913 na vila de Boulouris na Riviera Francesa. Quando jovem, ele inicialmente tentou corridas de longa distância, mas descobriu que não tinha habilidade. Foi Henry Desgrange, o fundador do Tour de France, que sugeriu que ele tentasse o ritmo motorizado. Em sua primeira "corrida motorizada", entre Nice e Cannes, José terminou em primeiro, sete minutos à frente do segundo lugar. Animado por essa vitória, ele decidiu repetir a rota atrás de uma bike mais potente, completando o passeio de 65 km em pouco mais de uma hora.
Após a Segunda Guerra Mundial, Meiffret retornou às corridas motorizadas e quebrou o recorde de uma hora estabelecido anteriormente pelo francês James Paillard na década de 1930, cobrindo 88 km. James rapidamente recuperou o título, no entanto, ao aumentar o recorde para 95 km. Determinado a superar James novamente, José selecionou o circuito de Grenzlandring na Alemanha, onde cobriu 105 km em uma hora.
Nessa época, José começou a andar atrás de carros em vez de motocicletas. Os carros forneciam mais proteção contra turbulências e eram capazes de atingir velocidades maiores. Na época, o recorde de andar de bicicleta atrás de um carro era de Alfred Letourneur, que atingiu 172 km/h na rodovia de Los Angeles em 1941. José precisou de apenas três tentativas para superar o recorde de Alfred, atingindo uma velocidade de 175 km/h.
Após seu terrível acidente em 1952, José suportou meses de recuperação, lutando não apenas por seu bem-estar físico, mas também por sua saúde mental. Em busca de tranquilidade, ele se juntou aos monges trapistas na abadia de Sept-Fons e abraçou a vida austera de um monge. Durante esse período de reflexão, ele continuou a refinar seus projetos de bicicleta e escreveu seu primeiro livro, "Breviary of a Cyclist".
No outono de 1961, aos quarenta e oito anos, José estabeleceu um novo recorde de velocidade de 185 km/h em uma rodovia em Lahr, Alemanha. Essa conquista alimentou sua crença de que ele podia quebrar a barreira elusiva dos 200 km/h. Determinado a realizar esse feito, José retornou à Autobahn perto de Freiburg no verão de 1962, preparando o cenário para o que se tornaria seu passeio mais famoso.
Uma pequena multidão febril se reuniu ao longo da rodovia para assistir à tentativa heróica de José. Notícias da tentativa heróica se espalharam, e a estrada à frente estava cheia de espectadores. Todos esperavam que algo terrível acontecesse.
Herr Thiergarten no pacer Mercedez mostrava a José o quão rápido ele estava indo por sinais pré-arranjados. José, por sua vez, podia falar com o motorista por meio de um microfone. - "Allez, allez", ele gritou, sabendo que o velocímetro do carro marcava 160 km/h.
O Mercedes teve um desempenho impecável. As pessoas não conseguiam acreditar no que viam. O que viam era o carro em pleno voo com uma figura arqueada logo atrás, pernas girando, camisa esvoaçando, rodas tremendo. - "Allez, allez", ofegou José de novo no microfone. No carro, o velocímetro passava de 180 km/h, depois 190. Angustiado, Herr olhou para o espelho retrovisor. Como José conseguia se manter posicionado? Era fantástico.
No plano, a velocidade aumentou para 197 km/h. Mais rápido que um trem expresso, mais rápido que um esquiador em queda livre, mais rápido que uma queda livre no espaço. As pernas de José giravam a 3,1 revoluções por segundo, e cada segundo o levava a superação do recorde. José finalmente terminou o percurso registrando 205 km/h.
O recorde de José permaneceu por 12 anos até ser quebrado pelo ciclista Allan Abbott, que atingiu 223 km/h, em 1973. Este foi novamente superado em 1985 por John Howard a 244 km/h. Em 1995 foi a vez do ciclista holandês Fred Rompelberg, que alcançou a impressionante marca de 268 km/h. Somente em 2018 este recorde seria quebrado novamente por Denise Mueller-Korenek, que atualmente detém o recorde mundial com uma velocidade máxima de 296 km/h. A maluca Denise pensava em superar os 300km/h, mas aos 52 anos ela já acha que deve se aposentar destas loucuras.
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