Todos os dias, milhares de milhões de soldados travam uma guerra impiedosa em milhares de frentes, e isso já ocorre há pelo menos 150 milhões de anos: a Guerra Mundial das Formigas. As formigas dividiram a Terra com os dinossauros mas não foram afetadas pelo Chicxulub. Como resultado elas ocuparam uma grande variedade de nichos ecológicos com tanto sucesso que se tornaram um dos animais mais dominantes no planeta Terra, ausentes apenas na Antártida e algumas ilhas remotas ou inóspitas. Estima-se que existam mais de 22 mil espécies das quais 16.000 já foram catalogadas para formar um aglomerado com mais de 10 quatrilhões de indivíduos, o que conforma 20% de toda a biomassa animal terrestre. |
Insetos eussociais, a receita para o sucesso é a colaboração e juntas são capazes de realizar feitos impressionantes devido as relações simbióticas complexas. E, como não podia ser diferente, as formigas fazem a guerra sobretudo as 200 espécies pertencentes ao gênero de formigas-correição.
Em cada estado do país elas tem um nome: formiga-correição, legionária, tauoca, tanoca, sacassaia, marabunta, murupeteca, guaju-guaju, entre outros. Por causa de seus grupos agressivos de forrageamento predatório, conhecidos como "legiões", um grande número de formigas forrageiam simultaneamente em uma determinada área.
Outra característica comum é que, ao contrário da maioria das espécies de formigas, as tauocas não constroem ninhos permanentes; a colônia de formigas se move quase incessantemente ao longo do tempo em que existe. Todas as espécies são membros da verdadeira família das formigas, Formicidae, mas vários grupos desenvolveram independentemente a mesma síndrome comportamental e ecológica básica. Esta síndrome é frequentemente referida como "comportamento legionário" e pode ser um exemplo de evolução convergente.
Mas ainda que originalmente, pensava-se que algumas das linhagens de formigas-correição do Velho e do Novo Mundo teriam evoluído de forma independente, em um exemplo de evolução convergente. Em 2003, porém, uma análise genética de várias espécies publicada na revista PNAS sugeriu que vários desses grupos evoluíram a partir de um único ancestral comum, que viveu há aproximadamente 100 milhões de anos, na época da separação e dispersão de Gondwana, formado por África e América do Sul. A taxonomia das formigas-correição permanece em evolução e a análise genética provavelmente continuará a fornecer mais informações sobre o parentesco dos vários táxons.
Embora apenas uma marabunta individual pareça inofensiva, o grande número desses caçadores sociais nômades pode rapidamente dominar até mesmo o mais feroz dos inimigos. Esses inimigos incluem insetos, aranhas e pequenos vertebrados.
Embora uma colônia de formigas-correição não ataque outra colônia da mesma espécie, elas não têm problema em atacar formigas de quaisquer outras variedades. As formigas-cortadeiras são bastante capazes de conter um formigueiro de tauocas por um certo tempo, mas acabarão sucumbindo ao poder implacável das massas.
Nesse sentido, em um episódio pismérico de sua colorida série animada, o coletivo alemão Kurzgesagt – In a Nutshell explica a feroz frente de batalha das formigas-correição.
- "Apesar da defesa poderosa e da resposta determinada, as formigas-correição ainda são superiores em número" diz o narrador sobre o enfrentamento de cortadeiras e legionárias. - "Assim, sem saber se a batalha pode ser vencida, os cortadeiras se preparam para o pior. As operárias correm para criar barricadas e fechar o maior número possível de entradas de seus ninhos para proteger sua ninhada. Se as cortadeiras não conseguirem repelir os invasores, ou pelo menos barricar suas entradas a tempo, as tauocas enxameiam o ninho, vencendo toda a oposição."
A Guerra das Formigas refere-se ao fenômeno de grandes colônias de formigas travando uma guerra total com outras colônias de espécies diferentes enquanto competem por recursos. Este conflito entre colônias de formigas pode ser visto como um paralelo à guerra nas sociedades humanas. À medida que as sociedades de todas as espécies crescem em tamanho, enfrentam imperativos organizacionais que dependem da escala da sua população. Apenas os humanos e certos insetos sociais, como as formigas, têm populações que podem crescer até aos milhões, levando ao surgimento de comportamentos semelhantes aos da guerra.
Ademais, a tauoca é caracterizada pela sua adaptabilidade e capacidade de prosperar em novos ambientes. Seu pequeno tamanho facilita que ela se espalhe com facilidade por diferentes territórios. Uma vez estabelecidas em uma nova área, as formigas formam rapidamente grandes colónias, e o seu comportamento agressivo permite-lhes vencer a competição e deslocar espécies de formigas nativas, levando a perturbações ecológicas e danos econômicos significativos.
Uma das características notáveis da formiga-correição é a capacidade de atuar como supercolônia e sua capacidade de encontra a ordem no caos, mas às vezes alguma coisa pode dar notavelmente errado quando um grupo de líderes se separa do grupo principal, perde a trilha do feromônio e as formigas começam a seguir umas às outras, formando um círculo continuamente giratório, conhecido como "espiral da morte" ou "redemoinho de formigas".
O fenômeno é chamado "espiral da morte" porque as formigas podem eventualmente morrer de exaustão nesse círculo sem fim. O fenômeno já foi reproduzido em laboratórios e produzido em simulações de colônias de formigas. Ele é um efeito colateral da estrutura auto-organizada das colônias de formigas.
Cada formiga segue a formiga à sua frente, o que funciona até que um ligeiro desvio comece a ocorrer, normalmente por um gatilho ambiental, e um redemoinho se forma. Este fenômeno foi descrito pela primeira vez em 1921 pelo famoso naturalista e entomologista americano William Beebe, que observou um espiral de 370 metros de circunferência. Cada formiga levava em torno de duas horas e meia para fazer uma volta completa. Fenômenos semelhantes já foram observados em lagartas-processionárias-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa) e peixes, principalmente a carpas-koi contidas em tanques no momento da alimentação.
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