O 3 e o 6 de agosto de 1945 são datas que viverão para sempre na memória coletiva: nas respectivas datas, Harry S. Truman, então presidente de Estados Unidos, autorizou o uso de bombas atômicas sobre populações majoritariamente civis nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em uma das estratégias bélicas mais controversas da História. A decisão cobrou a vida de 129 mil e 246 mil pessoas nas respectivas datas, e deu origem a era nuclear. |
Em 15 de agosto do mesmo ano, o Japão anunciou sua rendição incondicional, fato que marca para os historiadores o fim da Segunda Guerra Mundial. No entanto, a discussão a respeito das armas nucleares -que, ao menos nos registros oficiais, nunca foram utilizadas novamente- mal começou.
Truman e os Aliados se justificaram dizendo que as bombas "Little Boy" e "Fat Man" salvaram milhares de vidas japonesas e estadunidenses, pois a alternativa de criar um extenso bloqueio marítimo na frente do Pacífico e bombardear alvos militares, teria custado um número de muito maior de baixas.
No entanto, a verdade verdadeira é que, com a Segunda Guerra Mundial praticamente acabada, sem ter como justificar o dispêndio de 2,6 bilhões de dólares no Projeto Manhattan (o que construiu a bomba atômica), Truman não tinha melhor ideia do que jogar uma de suas bombas sobre território inimigo como demonstração de força dos Estados Unidos e prestação de contas para os estadunidenses.
Segundo conta Peter Scowen no "Livro Negro dos EUA", o povo americano estava sendo levado a crer que a bomba atômica daria fim a uma guerra e salvaria vidas, já que assim seus soldados retornariam para casa:
"...para os estadunidenses, a detonação das bombas em Hiroshima e Nagasaki foram ações militares realizadas contra uma nação despótica que só podia culpar a si mesmo pelo sofrimento de seu povo. Havia até um fervor religioso no desempenho estadunidense, pelo menos na cabeça de Truman: “Agradecemos a Deus pela bomba ter vindo a nós ao invés de nossos inimigos; e oramos para que Ele nos guie para usá-la a Sua maneira e com Seus propósitos..."
A 70 anos do acontecimento não nos resta mais do que exigir um desarmamento geral de artefatos nucleares e armas de destruição em massa, recordando por sua vez que este mesmo argumento pode ser utilizado pelas potências bélicas para produzir invasões "preventivas", como no caso de Iraque e Afeganistão desde a primeira década do século XXI. A ameaça nuclear encontra-se menos nas próprias armas do que nas decisões políticas tomadas em torno delas, uma ameaça que está ainda longe de se dissipar.
Um post no World Post de ontem me chamou a atenção sobre o assunto; é o relato de uma testemunha viva da bomba de Hiroshima: Dona Setsuko Thurlow, uma ferrenha ativista pelo desarmamento nuclear, descreve a circunstância que viveu logo após a explosão da "Fat Man". Se você é sensível, aconselho que pare de ler aqui, pois a narrativa é simplesmente terrível:
"Com os olhos da estudante de treze anos que era por aquele então, fui testemunha de como minha cidade, Hiroshima, ficou cega por um enorme lampejo, arrasada por uma onda expansiva tempestuosa, abrasada por um calor de quatro mil graus Celsius e contaminada pela radiação de uma bomba atômica.
De forma milagrosa, fui resgatada entre os escombros de um edifício destruído, a uns 1,8 quilômetros da Zona Zero (ponto onde a bomba foi detonada). A maioria de meus colegas de classe, na mesma sala de aula, arderam vivos. Ainda posso escutar suas vozes chamando suas mães e pedindo ajuda a Deus.
Enquanto eu escapava com outras duas garotas sobreviventes, vimos uma procissão de figuras fantasmagóricas que se arrastavam lentamente desde o centro da cidade. Pessoas com feridas grotescas, com a roupa em farrapos ou completamente nuas pela onda expansiva. As feridas sangrentas, as queimaduras, as peles enegrecidas e queimadas como carvão. Pessoas se arrastando sem partes do corpo, carne e pele penduradas nos ossos, alguns seguravam os olhos entre as mãos, outros com os ventres rasgados e abertos, sustentavam seus intestinos.
Após um único lampejo de luz, minha querida Hiroshima converteu-se em um lugar desolado, com montanhas de esqueletos e cadáveres torrados por todos os lados. De uma população de 360.000 habitantes -a maioria mulheres, crianças e idosos civis- a maioria foi vítima indiscriminada do massacre causado pela bomba atômica.
Até o momento, 250.000 vítimas de Hiroshima pereceram por causa da onda expansiva, do calor e da radiação. Setenta anos mais tarde, as pessoas seguem morrendo por culpa dos efeitos a longo prazo de uma bomba atômica que hoje resulta primitiva, segundo os modelos atuais de destruição em massa.
Algumas semanas atrás, quando se aproximava a data do septuagésimo aniversário dos bombardeios sobre Hiroshima e Nagasaki, várias pessoas me perguntaram pelas lembranças que guardo em relação àqueles dias de 1945, quando o mundo mudou para sempre. A primeira coisa que me assalta a mente é a visão de meu sobrinho de quatro anos, Eiji, totalmente carbonizado, queimado como carvão e inchado. Enquanto agonizava, seguia pedindo água com um fio de voz. Se não tivesse sido vítima da bomba atômica, agora teria 74 anos.
É uma ideia que me impacta. Deixando de lado a passagem do tempo, meu sobrinho permanece em minha memória como o menino de quatro anos que representa todas as crianças inocentes do mundo. E foi a morte dos inocentes a que me deu o impulso para continuar com minha luta contra as armas atômicas, contra a maldade feita tecnologia. A imagem de Eiji está gravada em minha retina."
Fotos: NY Daily.
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Comentários
Nick's falou tudo, e com eles a invenção do trust - vocês fabricam por U$ 0,01 e embalam, transportam e nos entregam, nós vendemos a U$ 0,50, né?. Bem, depois dessa prosperaram sim e sossegaram o rabo na terra do sol nascente. Uma tragédia pela outra. Sentiram no couro o que Nan´Jing passou no fio da navalha.
Depois das explosões o martírio continuou com a chuva negra e fez mais vitimas ainda.
Foi uma tragédia para as pessoas, mas um presente para a nação. Japão deixou de ser aquela merda de país cheios de tradições, nação de crescer, e graças a nova política capitalista implantada pelos americanos somando a eficiência do povo japonês se tornaram esses monstros da tecnologia que hoje são. Vale lembrar que os EUA também fez isso com a Coréia do Sul, já a Coréia do Norte ficou em mãos soviéticas.
Os americanos, sempre os americanos...
Bah....
Que depressão....
Coisa horrível...
Nossa...
:-/