Em 1971, Philip Zimbardo, professor de Psicologia da Universidade de Stanford, desenhou um polêmico experimento. Ele queria entender o que induzia as pessoas a serem seduzidas por atitudes violentas, bem como suas justificativas psicológicas. Zimbardo achava que a linha que todos nós gostamos de traçar entre nós, pessoas boas, e os outros, pessoas malvadas, não era assim tão inflexível e sólida como insistimos em pensar. Mais tarde ele chamou este impulso que fortuitamente nos impele a cruzar esse tênue limiar de Efeito Lúcifer. |
No experimento social, um grupo de jovens universitários apresentou-se como voluntário para interpretar durante duas semanas o papel de presos ou de carcereiros, com o objetivo de avaliar como pode influir em nosso comportamento adotar um determinado papel. Eram os anos 70, e a maioria deles, bons garotos hippies cheios de ideais, que lutavam contra um sistema que consideravam cruel e que tinha por norma abusar do mais fraco.
Se pudessem escolher a grande maioria preferia ser preso a carcereiro. As figuras de autoridade como policiais e vigilantes de prisões eram diametralmente opostas aos que eles defendiam.
Zimbardo nunca imaginou que um experimento realizado no sótão de uma famosa universidade, onde os participantes eram jovens saudáveis, tanto a nível físico como intelectual, tivesse que ser interrompido poucos dias depois para conter a tremenda crueldade com a qual alguns dos estudantes (que adotaram o papel de carcereiros) estavam tratando seus colegas.
Há que se levar em conta que os papéis foram repartidos através de um sorteio de cara e coroa. Todos sabiam que não era real, não eram presos perigosos, tão apenas colegas de classe, alguns inclusive amigos, que a casualidade separou entre o papel de prisioneiros e guardas.
Sobre o experimento em questão Zimbardo disse mais tarde:
- "Se a pessoa usa uma máscara o tempo suficiente, ela perde a identidade e se transforma na máscara".
Ao finalizar de maneira precipitada o experimento, todos foram entrevistados:
- Os presos disseram que em poucos dias já não recordavam que eram estudantes; esqueceram que não precisavam se submeter a castigos nem deviam se sentir culpados. Apenas eram um número, nada restava da pessoa que dias antes achou bacana participar do que parecia um inocente jogo de personagens.
- Os carcereiros assustaram-se ao ver no que tinham se tornado. Nunca acharam que fossem capazes de dar rédeas soltas a comportamentos tão sádicos (despiram os presos, amarraram os pés, deram banho de água gelada, humilharam, insultaram, cobriram suas cabeças com sacos...)
- O próprio Zimbardo, ao ver as imagens, assustou-se ao se dar conta de que el tinha se transformado no diretor da prisão, passeando orgulhosamente erguido, com as mãos entrelaçadas às costas, com o mesmo gesto altivo que tantas vezes vimos em personagens que se consideram superiores ao restante.
Por sorte, ele convidou uma amiga para ver o experimento, como forma de ter uma segunda opinião, e ela começou a chorar horrorizada pelo que estava acontecendo com esses jovens, e foi quando Zimbardo percebeu a real situação e interrompeu o experimento, semanas antes do que estava programado.
Tudo isto ocorreu em apenas cinco dias, no sótão de uma universidade, agora tentem imaginar o que não deve acontecer pelo mundo afora com pessoas que assumem um cargo de autoridade sem estarem preparadas para tal.
Desde meu ponto de vista, o herói é aquele que podendo ser cruel decide se comportar de maneira bondosa.
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Comentários
Creio que este experimento na verdade mostrou que todos de uma certa forma temos o bem e o mal dentro de sí e que ao se sentir superior e ter poder nas mãos o ser humano pode ser capaz de tudo, isso é muito sério! Países como a Coréia do Norte, é com certeza um bom exemplo.
Enquanto humanos, somos monstros em potência.
Humanidade é saber evitar situações e contextos que nos transformam em aquilo que odiamos ser.