Em 29 de junho de 1971, observadores soviéticos assistiram à cápsula da missão Soyuz 11 voltar à Terra, após uma missão de três semanas no espaço. Do solo, a reentrada pareceu rotineira. A nave pousou com segurança a 90 km da cidade de Karazhal, no Cazaquistão, conforme planejado, e uma equipe foi enviada ao local para recuperar a cápsula e a tripulação. Quando a equipe de resgate soviética se aproximou da nave Soyuz 7K-OKS no solo, nada parecia errado, mas eles estavam prestes a presenciar uma tragédia. |
Eles bateram na lateral da cápsula; uma tradição usada para saudar os cosmonautas que esperavam. Mas não houve resposta à batida tradicional. Quando enfim abriram a cápsula por fora, descobriram boquiabertos a infeliz calamidade. Todos os três membros da tripulação estavam mortos. A descoberta dos corpos foi uma surpresa, pois a nave não tinha danos externos e a reentrada ocorreu sem problemas. No entanto, toda a tripulação parecia ter morrido por asfixia.
Os membros da tripulação eram Georgy Dobrovolsky, Vladislav Volkov e Viktor Patsayev. Estes são os únicos três homens que morreram no espaço.
O objetivo da Soyuz 11 era atracar com sucesso na estação espacial Salyut 1, que era uma nova construção lançada na órbita baixa da Terra. A Soyuz 11 seguiu o fracasso da Soyuz 10, que havia lançado e retornado à Terra sem ter se acoplado à estação espacial. A espaçonave Soyuz 7K-OKS foi especialmente projetada para ser capaz de acoplar à estação Salyut em uma tentativa de avançar o programa da estação espacial da URSS.
A Soyuz 11 foi lançada em 6 de junho de 1971 e conectada com sucesso à Salyut 1 em 7 de junho. Os anéis aguentaram, a estação espacial foi pressurizada e os três cosmonautas entraram na estação preparados para uma estadia prolongada.
Georgy, Vladislav e Viktor permaneceram a bordo da Salyut 1 por 22 dias. Foi um sucesso impressionante do programa espacial soviético e validou seus caros programas focados em colocar homens em estações orbitais.
Na época, esses três homens estabeleceram vários recordes espaciais de resistência. Eles fizeram várias transmissões de televisão para a Terra e gravaram muitos dados valiosos sobre a própria estação e a vida no espaço por longos períodos de tempo.
Após três semanas, era hora dos homens retornarem à Terra, triunfantes, com seus dados e suas descobertas. Mas não foi assim que aconteceu.
A Soyuz 11 se desacoplou com sucesso da Salyut 1 e começou a se preparar para reentrar na atmosfera da Terra. A cápsula estava se posicionando para fazer uma reentrada segura e precisa. Então o desastre aconteceu.
Doze minutos e três segundos após o início da sequência de retropropulsão , houve um mau funcionamento com um conjunto de pinos explosivos usados para separar o módulo de descida do módulo de serviço. Em vez de disparar sequencialmente, conforme projetado, os pinos dispararam simultaneamente.
A força adicional dos pinos acendendo ao mesmo tempo derrubou uma vedação essencial que mantinha a pressão dentro da cabine do módulo. Depois que a vedação se soltou, ela abriu uma válvula que começou a liberar pressão para o espaço. A válvula abriu a 549 km acima da Terra e a tripulação morreu em segundos..
Felizmente, a autópsia revelou que provavelmente morreram rapidamente, se não instantaneamente. Sem pressão dentro da cápsula, a tripulação não tinha chance de sobreviver.
Embora a perda de pressão tenha ocorrido rapidamente, não foi explosiva. É por isso que não houve danos à cápsula e como os membros do programa espacial em terra não perceberam que algo estava errado até que a cápsula tocou o solo.
Os engenheiros soviéticos tentaram fechar a válvula manualmente. Eles acreditavam que se a tripulação tivesse identificado a origem do problema com rapidez suficiente, eles poderiam, talvez, ter feito um movimento que teria salvado suas vidas. Mas descobriram que demorava mais de um minuto para fechar a válvula manualmente. Isso era muito tempo para resultar em algo além de um acidente fatal em qualquer situação semelhante.
Um selo comemorativo soviético destacando a Soyuz 11 (domínio público)
Hoje, os três tripulantes da Soyuz 11, Georgy Dobrovolsky, Vladislav Volkov e Viktor Patsayev, continuam sendo as únicas pessoas a morrer no espaço. Na verdade, eles são as únicas pessoas que morreram em um lugar diferente da própria Terra. Após o fracasso da Soyuz 10 e o resultado devastador da Soyuz 11, o programa foi cancelado. Essas foram as únicas duas tentativas de voos tripulados do programa Soyuz.
Na época, a imprensa Soviética tentou diminuir o final trágico da missão e buscou enfatizar suas realizações durante a permanência da Salyut 1. As autoridades soviéticas demoraram quase dois anos para publicamente anunciar a causa da morte da tripulação, e os Estados Unidos ficaram extremamente preocupados com o seu programa Skylab, já que desconfiavam que uma longa permanência em microgravidade poderia ser fatal.
Entretanto, o médico da NASA, Charles Berry, mantinha uma firme convicção de que os cosmonautas não podiam ter morrido por terem passado muitas semanas em microgravidade. Até que os Soviéticos anunciassem o que havia ocorrido, Berry teorizou que a tripulação havia sucumbido devido a inalação de substâncias tóxicas.
Posteriormente foi desclassificado um vídeo mostrando as equipes de resgate tentando reanimação cardiorrespiratória nos cosmonautas. A equipe de Terra havia perdido o contato com a antes do começo da reentrada. Então não tinham conhecimento que os cosmonautas sucumbiram devido a despressurização. Isso só ficou claro depois da autópsia.
O povo soviético ficou em verdadeiro estado de comoção. Os cosmonautas receberam um grande Funeral de Estado e foram enterrados na Necrópole da Muralha do Kremlin na Praça Vermelha, em Moscou, ao lado dos restos de Iuri Gagarin. O astronauta Thomas Stafford, integrante dos programas Gemini e Apollo, foi um dos carregadores do caixão. Eles também receberam de forma póstuma o título de Herói da União Soviética.
Houve inúmeros acidentes, alguns fatais, em torno dos programas espaciais da humanidade, mas em todos os outros isso aconteceu no solo ou na atmosfera. Este foi o único que aconteceu no espaço, muito acima da Terra.
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