Em meados dos anos 90, Sandra Boss, graduada em Stanford, estava fazendo seu MBA em Harvard quando sua irmã a apresentou a um homem chamado Clark Rockefeller, descendente da famosa família de empresários. Ele usava roupas de grife feitas sob medida, colecionava arte cara e alegadamente tinha um apartamento de luxo em Nova York. Sandra ficou encantado, e os dois se casaram alguns meses depois. Sandra e Clark passaram os próximos 11 anos juntos, desfrutando de uma vida estável, em grande parte graças ao trabalho de Sandra como consultora e sua riqueza pessoal. |
Os dois tiveram uma filha, Reigh Storrow Mills Rockefeller, carinhosamente chamada de "Snooks", em 2001. Mas o casamento logo começou a desmoronar. Clark alegava estar trabalhando em missões diplomáticas e não podia cobrar nada de nações em dificuldade. Na verdade, ele passava o dia inteiro em casa sem fazer nada e não hesitava em torrar o dinheiro de Sandra para manter suas aparências.
Suas histórias também se tornaram inconsistentes. E Sandra muitas vezes ficava perplexa quando Clark de repente insistia, aparentemente do nada, que eles precisavam se mudar. De novo... Novamente.
Não suportando mais aquela situação, Sandra apresentou os papéis de divórcio para Clark em 2007. Como ele estava desempregado e continuava um completo mistério, Sandra recebeu a guarda total da filha.
Clark realmente amava a filha e não teve melhior ideia do que sequestrá-la. Durante uma visita supervisionada em 27 de julho de 2008, Clark, sua filha e uma assistente social estavam caminhando por um parque público central de Boston, quando foram abordados por um utilitário esportivo. Clark empurrou a assistente social, agarrou sua filha, pulou no veículo e fugiu.
A assistente social segurou o veículo e foi arrastada por uma curta distância antes de cair. Mais tarde naquela noite, um mandado acusava Clark de sequestro sob custódia, agressão e violência, e agressão com uma arma mortal, o veículo utilitário esportivo.
Quando os investigadores tentaram rastrear Clark, eles encontraram mais perguntas do que respostas. Ele não tinha um cartão do Seguro Social, uma carteira de motorista ou mesmo um cartão de crédito em seu próprio nome. Quando sua foto foi mostrada no noticiário pedindo pistas, os interlocutores deram pelo menos quatro identidades diferentes para acompanhar o homem mostrado na tela. Os investigadores ficaram confusos.
A verdadeira identidade de Clark foi revelada depois que o escritor Edward Savio -com quem Clark viveu brevemente ao chegar nos EUA- entrou em contato com o FBI durante sua caçada depois de ver uma foto de "Clark Rockefeller" no noticiário.
Então, um conhecido também apresentou o que se tornaria uma evidência crucial: Clark havia bebido um copo de vinho em sua casa na noite anterior e o copo não havia sido lavado. A polícia retirou impressões digitais do copo e encontrou uma correspondência com Christian Karl Gerhartstreiter, um imigrante alemão que havia chegado aos Estados Unidos quase 30 anos antes.
Christian cresceu em uma família de classe média em uma pequena cidade na Alemanha. Ele se mudou para os Estados Unidos ainda adolescente, onde foi morar com os Savios, uma família de Connecticut, enquanto afirmava ser um estudante de intercâmbio de uma escola local. Eventualmente, ele esgotou seu estoque de mentiras com os Savios e foi convidado a ir embora.
Christian decidiu se mudar para a Califórnia para seguir a carreira de ator, mas quando chegou a Milwaukee, Wisconsin, começou a se chamar de Christopher Kenneth Gerhart. Enquanto estava lá, se matriculou em uma classe na Universidade de Wisconsin-Milwaukee.
Decidindo que queria se tornar um cidadão americano, casou-se com Amy Jersild Duhnke, de 22 anos, em 1981, em Madison, para obter um green card. Para persuadir a ingênua a se casar com ele, o então Christopher afirmou falsamente que se ele tivesse que voltar para a Alemanha Ocidental, teria que ir para o exército e seria enviado para lutar na frente da Guerra Fria.
No dia seguinte ao casamento, ele deixou sua esposa e foi para Los Angeles, agora sob o nome de Christopher Chichester. Ele se sentiu em casa em um bairro de classe alta, tecendo uma história de ascendência real inglesa e se proclamando produtor de TV. Amy pediria o divórcio só em 1992.
De fato, ele morava de graça em uma pousada de uma mulher chamada Didi Sohus. Seu filho e nora, Jonathan e Linda Sohus, também moravam na propriedade. Quando Jonathan começou a suspeitar dele, o casal desapareceu em 1985, e Christopher Chichester também sumiu pouco tempo depois.
No final de 1988, ele foi parado em Greenwich, Connecticut, enquanto dirigia uma caminhonete que pertencia a Jonathan, mas ele deixou a área antes que a polícia pudesse interrogá-lo. Àquela altura, a polícia não tinha provas de que Jonathan e Linda Sohus estivessem mortos, nem que tivessem deixado a Califórnia voluntariamente.
Notando que a polícia cada vez chegava mais perto dele, Christopher Chichester se tornou Christopher Crowe, que trabalhou (e foi demitido) em vários cargos de alto nível em Wall Street, sem diploma, sem experiência e sem número de seguro social.
Os restos mortais de Jonathan foram descobertos no quintal da casa em 1994, mas ainda não havia como provar que os restos eram dele pois Jonathan era adotado e não havia como comparar seu DNA com o de membros da família biológica e chegar a uma identidade conclusiva. Evidências forenses mostraram que a vítima havia sido atingida na cabeça duas vezes com um objeto arredondado e contundente e depois esfaqueada seis vezes; seu corpo foi cortado em três partes.
Christian desapareceu novamente, mais tarde aparecendo na vida de Sandra Boss como o "milionário" Clark Rockefeller.
Depois de uma caçada de cinco dias na busca dele e de sua filha sequestrada, Clark Rockefeller tornou-se Chip Smith. Mas sua mais nova identidade não durou muito; o dono da cocheira que ele alugou chamou os investigadores, e Snooks foi devolvida em segurança para sua mãe enquanto Christian/Christopher/Clark/Chip foram finalmente presos.
Christian foi condenado a sete anos por sequestrar a filha, e, enquanto cumpria a sentença, a polícia forense conseguiu determinar conclusivamente que os ossos pertenciam a Jonathan, em 2010.
Como o corpo de Linda nunca foi encontrado, sem materialidade, não havia crime para julgar. Mas Christian foi considerado culpado pela morte de Jonathan e foi sentenciado a 27 anos de prisão perpétua em 2013. Ele só poderá solicitar a liberdade condicional em 2040 se ainda estiver vivo. Christian terá então 79 anos.
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Comentários
É isso mesmo: a 'sentença de prisão perpétua com 27 anos de prisão' indica que o sentenciado deverá ficar no mínimo 27 anos preso, sem nenhum benefício de redução da pena.
Só ao fim dos 27 anos ele poderá pedir a liberdade condicional, mas isso não quer dizer que o juiz dará esta liberdade.
Foi setenciado a 27 anos de prisão perpétua!