O exame papanicolau, considerado essencial para prevenir o câncer de colo de útero, foi inventado graças ao empenho de um médico e de sua mulher, George Nikolaou e Mary Mavrogeni Papanikolaou. Nascido em Kymi, Grécia, George frequentou a Universidade de Atenas, onde estudou literatura, filosofia, línguas e música. Incentivado pelo pai, ele se formou em medicina em 1904. Depois disso, prestou o serviço militar até 1906, quando voltou para Kymi para praticar medicina com o pai. Em 1910, George casou-se com Mary, contra a vontade do pai. |
Em 1913, o casal emigrou para os Estados Unidos. Esta decisão viria ser tão importante para o futuro quanto maluca para aquele momento, pois chegaram a Nova Iorque com o mínimo de dinheiro exigido para a entrada, 250 dólares, e sem falar inglês.
Por essa razão, foram obrigados a aceitar qualquer trabalho e, assim, Mary trabalhou em uma loja como costureira e George como vendedor de tapetes, mas este arranjo durou poucas semanas, pois ele foi contratado como violinista de um restaurante e mais tarde passou a ser empregado do arquivo de um jornal para a população grega chamado Atlantis.
Um ano depois da chegada ao continente americano, a sorte de Papanicolau mudou quando o zoólogo da Universidade de Columbia Thomas H. Morgan, que mais tarde receberia o Prêmio Nobel e que conhecia a tese de George, o contratou como assistente no laboratório de patologia do New York Hospital.
Pouco depois George foi para o departamento de Anatomia da Universidade Cornell, onde conseguiu continuar seus estudos sobre a diferenciação sexual e com sua mulher como assistente, formando uma equipe de pesquisa inseparável durante quase 47 anos. Mary se submeteu diariamente ao papanicolau, por mais de 20 anos, para ajudar o marido a obter o aval da comunidade científica.
Em 1928, George contou a um público incrédulo de médicos sobre a técnica não invasiva de coletar detritos celulares do revestimento do trato vaginal e espalhá-los em uma lâmina de vidro para exame microscópico como forma de identificar o câncer do colo do útero.
Naquele ano, ele havia realizado um estudo de fluido vaginal em mulheres, na esperança de observar mudanças celulares ao longo de um ciclo menstrual. Em cobaias fêmeas, George já havia notado a transformação celular e queria corroborar o fenômeno em humanas. Aconteceu que uma das cobaias humanas de George sofria de câncer uterino.
Ao examinar uma lâmina feita a partir de um esfregaço do fluido vaginal da paciente, ele descobriu que células cancerosas anormais podiam ser claramente observadas ao microscópio.
- "A primeira observação de células cancerosas no esfregaço do colo uterino me deu uma das maiores emoções que já experimentei durante minha carreira científica", escreveu ele mais tarde.
O médico romeno Aurel Babeș fez descobertas semelhantes no diagnóstico citológico do câncer do colo do útero. Ele descobriu que se uma alça de platina fosse usada para coletar células do colo do útero de uma mulher, e as células fossem então secas em uma lâmina e coradas, poderia ser determinado se as células cancerígenas estavam presentes. Este foi o primeiro teste de triagem para diagnosticar câncer cervical e uterino.
Aurel apresentou suas descobertas à Sociedade Romena de Ginecologia em Bucareste em 23 de janeiro de 1927. Seu método de diagnóstico de câncer foi publicado em uma revista médica francesa, La Presse Médicale, em 11 de abril de 1928, mas é improvável que George estivesse ciente disso.
Ademais, as duas técnicas são diferentes em seu design. Portanto, embora a publicação de Aurel tenha precedido a de George, o desenho do teste de Papanicolau pertence a George, pois ele já havia tentado em 1925 no "Hospital da Mulher". Trabalhos recentes provaram que o método de Aurel era diferente do de George e que a paternidade do teste de Papanicolau pertence exclusivamente a George Papanicolaou.
Em uma conferência médica de 1928 em Battle Creek, Michigan, George apresentou seu teste de triagem de baixo custo e de fácil execução para detecção precoce de células cancerígenas e pré-cancerosas. No entanto, esse potencial avanço médico foi inicialmente recebido com ceticismo e resistência pela comunidade médica.
- "O mundo da ciência não estava interessado em ver o que eu tinha visto", disse ele. Ademais, o exame íntimo em mulheres não era bem visto na época. - "Não era elegante, e em alguns casos era considerado mal-educado", explicou George.
Com a ajuda de Mary, porém, George se mantinha empenhado em divulgar suas descobertas. Quando ele ficava frustrado com a falta de reconhecimento da comunidade científica, Mary dizia para ele não desistir, para que ele mantivesse seu caminho. E ele manteve.
A próxima comunicação de George sobre o assunto só chegou em 1941, quando, com o ginecologista Herbert Traut, publicou um artigo sobre o valor diagnóstico dos esfregaços vaginais no carcinoma do útero. Isso foi seguido dois anos depois por uma monografia ilustrada baseada em um estudo de mais de 3.000 casos. Em 1954, publicou outro trabalho memorável, o "Atlas de Citologia Esfoliativa, criando assim as bases da moderna especialidade médica de citopatologia.
No Brasil, 81,3% das mulheres de 25 a 64 anos de idade disseram, em 2019, ter feito o exame preventivo de câncer de colo de útero nos últimos três anos. Ainda assim, segundo o Ministério da Saúde, só naquele anos, o câncer de colo do útero ceifou a vida de 9.500 mulheres no Brasil, sendo este o terceiro tipo de câncer que mais mata mulheres no país, segundo o Instituto Nacional do Câncer. Mas esse número pode ser drasticamente reduzido se as mulheres fizerem o exame de prevenção.
A recomendação do Ministério da Saúde é que toda mulher que já teve ou ainda tem vida sexual ativa, sobretudo as com a faixa de idade entre 25 a 59 anos, se submetam ao exame pelo menos uma vez por ano.
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