Com o passar dos anos, uma mesa lotada de cervejas parece cada vez mais atraente do que uma pista de dança. Não pela falta de vigor físico, mas pelo bom senso. |
Chega uma época em nossas vidas em que o corpo começa a demonstrar que vai ficar realmente uma porcaria dentro de poucos anos. Você tenta pular um muro e fica com dores onde nem sabia que havia músculos. Vai jogar uma pelada e vê o céu ficar preto depois da segunda corrida atrás da bola. Tenta subir uma escadaria de dois em dois degraus e chega ofegando ao andar de cima. Consegue emplacar uma segunda vez consecutiva na cama com a mulher e fica todo bobo, como se tivesse dado um duplo twist carpado. São por essas e outras que muitos de nós vão aos poucos perdendo a vontade de dançar nas noitadas. Uma mesa sobrecarregada de cervejas parece cada vez mais atraente do que uma pista de dança lotada. Mas não é só a falta de vigor físico que faz sedentários com mais de 40 anos, como eu, soltarmos uma cara feia quando nos chamam pra levantar e dar uma dançadinha em festinhas de aniversário ou casamento. A babaquice que impera nas pistas se torna um crescente desafio ao bom senso.
O problema é que todo DJ de aluguel se sente na obrigação de tocar certas seqüências de músicas. E como num pacto de mediocridade, os convidados sempre reagem da mesma forma às músicas executadas pelo rapaz da picape. A mais tradicional e sacal das seqüências é aquela que coloca, uma atrás da outra (atenção para o trocadilho), canções idolatradas pela comunidade gay. Quando rolar "I Will Survive", pode ter certeza de que logo depois virá alguma coisa entre "YMCA", "Macho Man", "I am What I am" e "It’s Raining Man" (desculpem-me os entendidos se errei o título de alguma). Essa deve ser a primeira lição que os profissionais aprendem no Curso Rápido Para DJs. E tão certo quanto o encaixe incessante entre essas músicas na pista é a reação do público. As mulheres, nessa hora, vão diminuir a empolgação, pois sabem que está na hora de seus pares arriscarem um showzinho solo. Pois é, os homens vão começar a imitar gays dançando.
Faltam-me estudo e pesquisa para saber o que exatamente leva os homens a desmunhecar, rebolar e fazer coreografias arrojadas, chegando ao ponto de tentar formar com o corpo as letras Y, M, C e A da tal música do Village People. Alguns vão dizer que fazem isso para mostrar que são seguros de sua sexualidade e que podem brincar com isso. Outros podem até dizer, com o risco de levar uma porrada na cara, que os homens dançam tão freneticamente as músicas de cunho gay como forma de dar vazão a sentimentos e vontades represados. Na verdade, eu já não estou nem aí se a galera que se empolga com essas músicas tem ou não um desejo reprimido de morder fronha. Isso não me intriga. O que realmente me faz coçar a cabeça e franzir a testa, num exagerado gesto de demonstração de dúvida, é como eles não se tocam que isso não tem mais graça. A primeira vez que um machão se requebrou cantando que estava chovendo homem – "aleluia!" – deve ter sido engraçado. A segunda também. Quem sabe na 23a a coisa ainda despertava risos. Mas na 24a, possivelmente, deixou de ficar cômico.
Esse estranho fenômeno se manifesta também nas seqüências de músicas dos anos 70. Uma música do Bee-Gees nunca irá sozinha para a pista. Ela chegará com outras tantas que minha geração só conheceu no filme "Os Embalos de Sábado à Noite", com um John Travolta pré-Tarantino. E todos na pista vão tentar reproduzir um ou dois passos que guardaram na memória depois de rir a valer com o tal filme. Vão botar uma mão na cintura e ficar apontando para o ar com a outra. Vão segurar as mão e imitar uma onda com o movimento dos braços. Vão até dar uns passinhos que não eram executados na época, mas que, como parecem ridículos, devem servir para a ocasião. É uma cretinice que se mantém "Staying alive" há anos e parece guardar fôlego até a época em que as próximas gerações, que não viveram os anos 80, começarem a dançar New Wave, dar pulinhos, sacudir a cabeça de lado, saltar no ar para chocar o peito contra o do colega e imitar gestos e passos de Morrisey da maneira mais idiota possível, superando os dançarinos originais em suas, devemos confessar, esquisitices. Basta esperar a seqüência.
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Comentários
é ruin em :twisted: :sha: :twisted: 8O :o :D 8) :lol: :? :oops: :cry: :twisted: 8O :evil: :-( :x :wink: :| :P :roll: :o
..so o matamorfose,me faz ler um texto com mais de 30 linhas na internet...so!!!!
Loira inteligente? Não sabia que tinha gente colocando paradoxos no nick...
Ei, voltei!!! Estava de férias e pra felicidade geral e minha infelicidade, as aulas voltam segunda portanto estou de volta ao frio, com o único consolo de voltar a ter computador. E, é claro, o mdig pra ter o que fazer quando devia estar estudando.
Acho que homem dançando macho man é ridículo, mas nesse frio se eu ver um eu faço par, só pra ver se dançar esquenta...
Obrigada, mas...
a história do nick, não fui eu quem peguei
eu vi em um comentário, acho que do Lampa, e so ajudei a fazer a divulgação contra!
mas valew pelos elogios e "pó dexa"
prometo que nao vai sair um "a" se quer da minha boca pra falar do nosso segredo :oops:
:wink:
Tomar uma gelada, e bater papo com os amigos, realmente e muito
bom, pois ja imaginou um monte de barrigudo requebrando, deve ser
engraçado, pois tem cara que não consegue nem ver o sapato de tão
grande que e a barriga, e para amarrar o sapato tem que colocar o
pé em cima de uma cadeira, deve ser comico voce fazer um baile com
as musicas antigas, e ver esta turma dançando.:idea: :idea: :idea:
Caro amigo Zequinha, falando em cerveja, passe para tomar uma com
a gente, voce sabe onde nos encontrar. :lol: :lol: :lol:
Zequinha, como sempre brilhante.
o fenômeno musical é sempre repetitivo. Sai geração, entra geração e todo mundo é embalado pelo saudosismo. Cada década, marca sem dúvida uma geração e o apelo pelo "vale a pena dançar de novo" é sempre uma constante. Se fizermos uma "volta ao túnel do tempo musical" veremos que cada geração tem seu mico particular. A década de 80 foi muito marcante com baladas românticas e muita discoteque ( herdada dos anos 60 e 70), juntando a isso a moçada que não quer envelhecer e taí o quadro pintado com cores tão vibrantes por você.
Cá entre nós, mico ou não, dançar é uma delicía. O brasil tem um enorme celeiro de rítmos, cada região com sua riqueza.
Vai dizer que você prefere um copo a um corpo quente balançado com você?
8O
hum?!
ah e Oi Patrício?
:wink:
Agora, imagina o Brasileiro do Sertão encarapitado em cima da árvore na floresta, dando uma de John Travolta... :fool:
Zequinha, depois de ler esse texto, ainda bem que sou adepto das cervas e já barrigudinho. Aliás aqui no MDig você me rotulou de cadeirante o que me dá o passaporte do "tô fora" dessa onda.
:twisted: :sha: :twisted:
Vê se liga e aparece para tomarmos umas brejas... :sha:
Esse texto se torna MAIS interessante ainda pra quem é adepto à esse tipo de pensamento. Glórias a vc Zequinha. Tb acho melhor uma mesa "recheada" de cerva.
Grande Zequinha... :clap:
Teu advogado demorou pra conseguir teu alvará de soltura... :twisted: :lol: :twisted: