O músico que fez um pacto com o diabo

Nos concertos corria, brincava, retorcia seu corpo até limites insuspeitos e tudo isto enquanto tocava seu instrumento ao que, apesar sobrar somente uma corda, conseguia tirar sons absolutamente fantásticos. O público, que ia em massa a todos seus espetáculos, não dava crédito ao que via e escutava. Os homens o vitoriavam e aplaudiam, as mulheres desvaneciam entre seus ofegos e todos pareciam ficar extasiados ante sua magistral música e sua capacidade artística.

Possivelmente alguns de vocês pensem que estou descrevendo algum concerto de rock moderno. Talvez um de Mick Jagger em seus bons tempos ou quem sabe Jimi Hendrix. Frio... muito frio...

Em realidade trata-se de um violinista nascido no século XVIII e de quem diziam que sua habilidade musical provia de um trato que tinha feito com Satã em pessoa. Estou falando de Niccoló Paganini, o Violinista Diabólico (1782-1840).

O mito de Paganini começou a se espalhar quando tinha 5 anos. Sua mãe assegurou que teve um sonho no qual o
demônio apareceu e lhe disse que seu filho Niccoló seria um violinista famoso. A partir de então seu pai obrigou o garoto a estudar música durante 10 horas ao dia.

Rapidamente começou a dar amostras de seu enorme talento musical e com seis anos deu seu primeiro concerto, com nove fez sua primeira turnê e aos dezesseis já era mundialmente famoso.

Começou a dar concertos por toda Europa e seu cachê tinha valores inimagináveis para a época, fazendo com que o músico conquistasse uma grande fortuna que dilapidava sem compaixão em festas e jogos de casualidade. Ademais, sua fama como músico só era superada por sua fama de mulherengo. Diziam que apesar de ser "feio, descuidado e mal vestido" exercia uma estranha e poderosa atração sobre as mulheres. Não em vão teve um caso com as duas irmãs do imperador Bonaparte, entre outras muitas.

Mas o mais surpreendente de Paganini era, sem dúvida, seu gênio musical. E não só por criar mais de 200 composições musicais senão, sobretudo, por sua incrível e peculiar técnica à hora de tocar o violino.

O que Paganini não fazia, comparando com os grupos de rock modernos, era maltratar seus instrumentos. Mais que nada porque eram autênticas joias chegando a ter cinco Stradivarius e dois Amati, alguns dos quais ainda existem hoje em dia.

Seu corpo alto e desajeitado possuía uma flexibilidade especial que lhe permitia realizar movimentos impossíveis para qualquer outro, como cruzar os cotovelos um acima do outro enquanto tocava ou flexionava lateralmente as articulações de seus dedos conseguindo chegar a notas inalcançáveis para a maioria dos mortais.

Uma de suas habilidades mais aplaudidas era quando retirava três das quatro cordas do violino e fazia parecer como se fossem vários violinos tocando. Também era capaz de fazer incríveis Pizzicatos (beliscar as cordas) com a mão esquerda. Só para que tenham uma ideia, este vídeo tem alguns exemplos de suas técnicas.

Sem dúvida que os diferentes intérpretes do vídeo são grandes mestres do violino, no entanto, segundo contam os relatos da época, não chegariam nem aos pés do virtuosismo de Paganini. Como comentam no vídeo, a espetacular técnica de Paganini supôs um antes e um depois na história da música.

Mas esta habilidade tinha um pequeno segredo e não se tratava, segundo se rumorejava, de um pacto secreto com o diabo. Em realidade pensa-se que Paganini sofria da síndrome de Marfan, uma doença que afeta o tecido conectivo conferindo a quem a padece com longas e flexíveis extremidades.

Em 1834 deixou de dar concertos já que sua saúde começou a deteriorar-se e em 1840, por culpa de um câncer de laringe, Niccoló Paganini faleceu.