Singularidades extraordinárias de animais ordinários: o ácaro

O artigo anterior de Singularidades extraordinárias de animais ordinários foi dedicado à abelha, de modo que nada mais justo que o próximo seja sobre o ácaro, um membro diminuto da família das aranhas que compartilha muitas conexões com as abelhas. Por exemplo, o ácaro da espécie Varroa destructor esteve a ponto de extinguir as abelhas do mundo, e já advertimos no artigo anterior o perigo que seria isso para a agricultura do planeta e, em consequência, para a sobrevivência do ser humano.

Por outro lado, há ácaros tão pequenos (por enquanto foram identificadas 48.000 espécies, ainda que provavelmente exista 10 vezes mais) que alguns podem criar uma família na traqueia de uma abelha.

Agora mesmo, enquanto lê este artigo, uma criatura com mandíbulas com forma de agulha está fazendo um banquete com a gordura segregada das glândulas sebáceas da base de seus cílios. Com forma de escova de dentes rechonchuda, o ácaro dos poros (Demodex folliculorum) possui um sistema digestivo tão eficaz que não produz dejetos.

Mas nem todos são assim limpinhos. De fato basta dar uma olhada no pó que temos em nossa volta. Se você passar o aspirador na sua casa e pegar meia colherinha do pó depositado no saco, terá aí na sua frente ao menos 1.000 ácaros e 150.000 bolinhas que nada mais são que "toletinhos" de ácaro.

Mas não precisa ter medo ou nojo do ácaro do pó. Ele é nosso amigo, é verdade. Conquanto pode agravar a asma, a verdade é que ele se alimenta muito eficientemente das escamas de pele que desprende do corpo humano. Tenha em conta que um adulto produz ao ano quase meio quilo destas escamas. Graças ao ácaro do pó, o ambiente, apesar de parecer o contrário, está mais limpo. (Pronto, agora você já tem um motivo para não limpar o seu quarto )

Ademais, eliminá-los é uma utopia. Se decidir usar o aspirador de pó de forma desmedida, tudo que vai conseguir fazer é levar seu principal predador, o ácaro Cheyletus eruditus, que é maior e que mantém estável a população de ácaros do pó.

Porque os próprios ácaros também têm seus ácaros. E entre eles se mantêm o equilíbrio das diversas espécies. Por exemplo, em 2001, o ácaro verde, Mononychellus tanajoa, que dizimou a colheita de mandioca na África foi contido finalmente graças à chegada de um ácaro predatório desde Brasil.