Superproteger uma criança é contraproducente

Ontem meu compadre ligou perguntando: - "Poxa véio, esqueceu o aniversário de seu afilhado?" Na verdade havia sim esquecido, mas fiquei animado. Explico: festa de criança é hoje em dia uma ocasião mais do que propícia para arrumar companhias femininas interessantes, já que na balada as mulheres se transformaram em vulcões devoradores de homens. É verdade! Tudo que elas querem é usar nossos corpinhos e depois nos abandonarem a própria sorte. Bebem que nem peru de véspera, fumam como caaporas e fogem como loucas. A-go-ro!!!

Tudo isso parece bom demais, mas tem hora que cansa. Parece que a gente está namorando o melhor amigo. Só falta coçarem o saco. Onde é que estão aquelas tribufus inseguras que a gente podia se portar como um cafajeste incorrigível, onde estão aquelas mulheres cheias de deliciosos problemas, dúvidas existenciais que procuram um ombro para se lamentar? Pois hoje em dia a gente só as encontra em festinhas de crianças. Me preparei todo, barba feita, coloquei uma camisa de linho amarrotada para parecer descolado e meio desleixado, o tipo do homem que está precisando de mulher em casa... não peguei ninguém.

Mas vamos ao real motivo que me levou a escrever este post: não pude deixar de notar que o excesso de zelo e cuidados de meu compadre está fazendo com que o filho se transforme em um viadinho intragável, cheio de caprichos e vontades vazias e fugidias. O cúmulo me pareceu quando a comadre cochichou que um dos garotos estaria gripado e disfarçadamente pediu que o filho não se aproximasse da outra criança. Este me parece um mal desta geração, que quer proporcionar aos filhos o que não tiveram na infância, mas acabam exagerando na dose.

Não resta dúvida de que a alimentação, a higiene e os avanços na medicina aumentaram espetacularmente nossa expectativa de vida. No entanto, há fatores que por conveniência não devem ser melhorados em demasia sob pena de que se voltem contra nós.

Um deles é a excessiva profilaxia ou esterilização a que as crianças são submetidas atualmente. O sistema imunológico precisa "aprender" a defender-se contra diferentes substâncias tóxicas e microorganismos patogênicos, e esta aprendizagem é fundamental nos primeiros anos de nossa vida. Inclusive alguns artigos do MDig dão conta da salubridade e necessidade que as crianças tem de brincar no barro, de comer terra, etc.

Se uma criança nunca se relaciona com patogênicos de nenhum tipo (um resfriado de um amiguinho, etc.), seu sistema imunológico se ressentirá no futuro, sendo incapaz de combater as agressões mais básicas. Se mantivermos nossos filhos em uma redoma, estamos condenando-o a ficar para sempre nessa bolha, a que adoeça por qualquer motivo.

É algo similar ao que ocorre com o arquipélago Tristão da Cunha. É um conjunto de ilhas tão isoladas do mundo que seus habitantes teriam sérios problemas com microorganismos que não provocariam nem um espirro em qualquer outra pessoa do mundo.

Isso se deve a que seus corpos estão muito pouco expostos às doenças típicas de todos os países do mundo, o que debilita seus sistemas imunológicos até o ponto de condenar estes ilhéus a não se relacionarem nunca com pessoas de outros lugares (ali só habitam 300 pessoas, 300 homens e mulheres que só têm 7 sobrenomes e agrupam ao redor de 80 famílias.)

Tão longe estão que ali só se pode chegar uma vez ao ano. Isolados exatamente como estaria uma criança que nunca colocou a prova seu sistema imunológico com as pessoas que lhe rodeiam. Se faz necessário que os pais não confundam amor com superproteção sob pena de criarem um filho despreparado para enfrentar mundo.