Queimando dinheiro

Atualmente em alguns países, por exemplo, Zimbábue, há um "fenômeno" econômico que nós já vivemos aqui no Brasil: a hiperinflação. A moeda perde seu valor e o custo de vida sobe porque a moeda a cada vez vale menos. Houve época que o dinheiro do almoço não pagava a janta. Tudo isso começou a ser resolvido em um governo que tinha de tudo para ser um fiasco total: o de Itamar Franco, que morreu no sábado. Mas o episódio hoje vivido pelo Zimbábue também aconteceu com uma grande potência mundial.

A assinatura do Tratado de Versalles, em 28 de junho de 1919, punha um fim a Primeira Guerra Mundial. Os aliados (França, Grã-Bretanha e EUA) impuseram a Alemanha a redução do número de efetivos de seu exército e de armamento, concessões territoriais e, sobretudo, vultosas indenizações econômicas. Estas indenizações ascendiam a 132 bilhões de marcos que, de fato, a Alemanha terminou de liquidar somente em 2010.

Para financiar estas enorme dívida, o governo alemão emitiu grandes quantidades de dinheiro, sem nenhum tipo de controle, que produziram um incremento brutal dos preços (hiperinflação), que subiam a cada dia, inclusive criando filas para comprar os bens de primeira necessidade.

A passagem de metrô passou de 0,10 marcos, em 1918, a 150 milhões nos anos 20; o selo mais caro era o de quatro marcos e em 1923 era de 50 bilhões.

A imagem abaixo mostra uma cédula de 500 milhões de marcos. Muitas destas notas eram simplesmente reimpressas pelo Banco Central Alemão, isto é, imprimia sobre uma cédula um valor superior, é como se agora escrevessem nas cédulas de 10 reais são de 1000.

Chegou um momento no qual o valor do papel era maior que o valor nominal da própria cédula gerando situações tão absurdas como crianças brincando de construir castelos com cédulas de marcos.

O dinheiro valia tão pouco que era mais econômico usar diretamente as cédulas como combustível para aquecer a casa do que comprar madeira para a estufa.

Este problema é gravíssimo para a economia de um país. A moeda ao perder valor não consegue competir com moedas estrangeiras, o que torna impossível a importação e exportação de produtos de outros países.

Só para se ter uma ideia, em 1923 um dólar americano valia 4.329.000.000.000,00 de marcos alemães. Esta situação foi uma das razões da chegada do regime nazista ao poder.

No entanto, e pelo que eu sei o caso mais atroz aconteceu na Hungria em 1946, quando a moeda húngara, o pengo, atingiu uma inflação de 5 quintilhões, isso é 5 seguido de 30 zeros. Um dólar valia 5.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 pengos. Quando retiraram o pengo de circulação e adotaram o forint, em agosto de 1946, todos os pengos que circulavam no país equivaliam à milésima parte de um centavo de dólar, isto é, todo o dinheiro da Hungria era 0,001 de dólar americano.