Não vamos muito longe, cronologicamente dizendo. De modo que vamos ativar o nosso capacitor de fluxo e transportemo-nos a Inglaterra, em plena época vitoriana, para começar a comparar nossa dieta alimentícia com a deles. A primeira coisa a advertir é que naquela época dispunham de uma incrível variedade de alimentos. Só de maçãs, por exemplo, tinham mais de 2.000 variedades. |
No princípio do século XIX, Thomas Jeferson cultivou 19 tipos diferentes de ervilhas e mais de 250 tipos de verduras e frutas diferentes. Jefferson também foi a primeira pessoa a cortar batatas em fatias para fritá-las, criando uma das maiores alegrias da criançada, a batatinha frita.
Esta situação é sem dúvida chocante porque muitos dos alimentos que agora são raros, antes eram bastante comuns. Por exemplo: tinham tantas lagostas na costa britânica que eram servidas como alimento em presídios e orfanatos; também eram trituradas para fazer adubo. Inclusive os criados lembravam os novos patrões por escrito que não aceitavam comer lagosta mais de duas vezes por semana. Hoje em dia, entre em um restaurante, experimente pedir um prato de lagosta e veja (ou não) os olhos saltarem das órbitas com os algarismos da conta.
Em Nova Iorque acontecia o mesmo com as ostras e o caviar. Por exemplo, o caviar era servido como tira-gosto nos bares, como agora se servem os amendoins: como era salgado, pretendiam que assim as pessoas bebessem mais cerveja.
Mas regressemos a Inglaterra assinalando o consumo anual médio de diferentes alimentos comparado com o consumo atual só para que tenham uma ideia de como comíamos há um século e pouco:
- mais de três quilos e meio de peras por pessoa em 1851 em comparação com um quilo e um quarto atual;
- quatro quilos de uvas e outras frutas macias, mais ou menos o dobro da quantidade que consumimos agora;
- oito quilos de frutos secos em comparação com o quilo e meio atual.
Nas verduras as cifras sãoainda mais surpreendentes:
- consumia-se em 1851 quatorze quilos e meio de cebolas em comparação com os seis quilos de hoje em dia;
- dezoito quilos de nabos em comparação com o quilo atual;
- se fartavam com trinta e um quilos de repolho em comparação com os nove e meio de agora.
O consumo de açúcar era de treze quilos e meio por cabeça, menos de um terço da quantidade que se consome hoje em dia. Portanto, a sensação é que, em geral, a alimentação era bem mais saudável.
Para os pobres, no entanto, a dieta era muito pouco variada. No livro "London Labour and the London Poor", de Henry Mayhew, por exemplo, assinala-se que o jantar típico de um operário era só um pedaço de pão e uma cebola. Em "Consume Passions", de Judith Flanders, lemos: "a dieta básica das classes trabalhadoras e grande parte das classes médias baixas em meados do século XIX consistia em pão ou batatas, um pouco de manteiga, queijo ou bacon, chá com açúcar".
A batata foi desdenhada ao longo dos cem ou cento cinquenta anos posteriores a sua introdução na Europa. Muita gente considerava-a algo insalubre porque suas partes comestíveis cresciam sob a terra em vez de buscar a nobreza do sol, comida de porco. Os pastores pregavam inclusive contra a batata baseando-se em que não aparecia mencionada na Bíblia.
Assim era o mundo há pouco mais de cem anos, um lugar onde as pessoas ficavam cansadas de tanto comer lagosta ou caviar, onde a classe alta comia tanta ou mais variedade de comida que nós e onde a classe baixa se alimentava tão mal que mal podia sobreviver, ou diretamente morriam, como as centenas de milhares de irlandeses que faleceram de fome após colheitas frustradas de batatas entre 1845 e 1846 por culpa do fungo chamado Phytophthora infestans, ainda que eles não sabiam e puseram a culpa no vapor dos trens, na eletricidade dos postes do telégrafo e nos novos adubos de guano que começavam a se tornar populares.
O mais importante desta tragédia é que na própria Irlanda tinha comida suficiente. O país produzia grandes quantidades de ovos, cereais e carnes de todo tipo e extraía abundantes capturas do mar, mas quase tudo se destinava, de forma absurda, à exportação. E assim foi como um milhão e meio de pessoas morreram desnecessariamente de fome. Foi a maior perda de vidas humanas sofrida na Europa desde a peste negra.
Fonte: Em Casa, de Bill Bryson.
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Comentários
Eu gosto de comer. :D
Ah, eu acho muito interessante essas épocas mais antigas, como a medieval, e vitoriana... Mas o admin me fez um favor, em um post do Ndig, de fazer um post especialmente me lembrando que naquelas épocas, tudo e todos eram imundos, e que eu não gostaria de viver por lá... :evil:
Problema causado pela superlotação do planeta.
E as religiões mais atrapalham que ajudam, enquanto os governos não fazem nada em larga escala, so se preocupam com o próprio rabo.
Enquanto isso ficam nessa de "combustiveis renovaveis", diminuindo a capacidade produtiva de comida. O alcool, tem conversão de 1.3, gasta-se 1 de energia produzida pelo diesel que vai nos caminhões e colheitadeiras, e produz 0.3 de energia do alcool. Se pegar o alcool e colocar na colheitadeira, então vai ter produção negativa.
Pessima forma de energia, nada de sustentavel.
O biodiesel tambem, tira a comida dos pobres para alimentar os carros dos ricos.
Enquanto na economia, tudo funciona usando o minimo de recursos, mas isso é ruim. E as coisas são feitas para precisar de ser trocadas, ou de manutenção. Não são feitas para ter longo uso, mas sim para gastar pouca materia prima, pois sobra mais lucro.
As empresas modernas tem muito pouco estoque, os supermecados, tudo trabalha usando maximo da capacidade do sistema produtivo subjacente.
Quando uma chuva falta, o preço sobe na hora graças a sistemas de informação construidos.
Logo, o sistema como um todo é um tanto frágil, apesar de ser muito eficiente e economizar muita energia, ja que sempre quando se economiza, o lucro aumenta.
Porem, enquanto isso, o capitalismo empresta do futuro os recursos que são usados agora. Uma hora o futuro não poderá oferece-los mais. Estamos gastando o que será dos descendentes do planeta, nós como especies vamos acabar na merda que estavamos a 10.000 anos atras, antes da agricultura.
O estopim disso será o fim do petroleo, todo esse sistema minimamente articulado é literalmente lubrificado com o oleo do petroleo.
Nada "produz" tanta energia, exceto a energia nuclear, que as pessoas tem medo. Talves seja perigoso, mas se nossos "imperios" atuais não conseguem estocar nem lixo atomico por 300 miseros anos, o que será do futuro, não por conta do lixo, mas sim por conta da falta de capacidade de manter planos de longissimo prazo, coisas gigantescas que são feitas em 1000 anos.
Ou somos tão infantis com especie, e não conseguimos planejar nada maior que 100 anos.
Mas ainda tenho fé que vamos conseguir controlar o "fogo', não um fogo qualquer, mas o fogo do sol, a fusão nuclear.
E será a solução dos problemas energéticos.
Mas não vai adiantar se continuarmos multiplicando como coelhos, ou melhor, como virus.
Um dia eu estava morrendo de vontade de comer marmelada
Fui ao supermercado comprar e me disseram que não existia mais marmelada :-(
Que saudades de comer marmelada ! :cry:
Às vezes me pergunto se nasci na época certa.
Confortably Numb: Kkkkkkkk. A coisa tb nao é bem assim nao hehe!
Não entendi o que o Jefferson tem a ver com isso. Ele me parece um tanto tímido. Muito bom texto. Tava com saudade de ler historia.
Os pobres dessa época, são mostrados, no filmes, em volta de uma mesa de madeira, com a cara suja, tomando uma sopa rala de pedra e mordendo um pão seco. Enquanto na mesa dos burgueses, tem um leitão inteiro, vinho saltôcomvara e frutas variadas.
Continuamos comendo muito, apenas mudamos hábitos e adaptamos à comida industrializada.
Nossos antepassados ( milhares e milhares de anos atrás) tinham necessidade de comer muito de uma só vez. Simplesmente não havia fartura, nem supermercado. Disputavam suas presas com outros animais. Quando achavam algo, devoravam como se não houvesse amanhã. Claro, tudo era imprevisível.
Não precisamos mais ingerir calorias e nutrientes em excesso. Desgasta e sobrecarrega sobremaneira os órgãos. É tão mais prejudicial que a restrição. Nosso corpo é uma máquina orgânica, necessita de energia pra funcionar, mas esta muito mais capacitado do que apenas servir pra digerir comida e reproduzir. Quem quiser, que se resuma.
Veja como o descaso e nossa capacidade destruidora e voraz fez milhares de espécies se extinguirem ou serem reduzidas.
Comemos enquanto podemos. Se podemos. Sem extrapolar, sem desperdício. Tenho asco de gente deslocadas da nossa realidade, de um mundo superlotado, com quase 7 bilhões de pessoas. De mais gente pra comer, mais gente pra passar fome, mais gente pra consumir, recursos naturais se esgotando. Espero que um dia, o ser humano se encontre numa posição tão instintiva quanto a do nossos ancestrais, vivendo apenas pra sobreviver. Aí, ele verá o quanto se arruinou.
Desde sempre os ricos ficam com tudo de bom e os pobres se f...
ééhh Jr Junior... sabemos que vc não é chegado em uma 'comida'... :D
O texto já esta auto-explicativo... Comer bem era sinal de poder na cultura da época... a nobreza era obesa, e tinha prestígio por isso, corpos 'sarados' não eram bem vistos, indicavam pobreza ou doenças....
Agora esse papo do caviar me assustou.... já estamos no amendoin... :-( não quero nem pensar o que vai ser o tira gosto daqui uns 100 anos.... :roll:
Sou igual vc Luke, tambem nao gosto de comer nao !!
Ou melhor. Somos de certo modo igual a Irlanda, nao no sentido de alimentos mas de varios outros onde exportamos pra outros países que vendem baratinho e aqui é um absurdo de caro como petróleo e automóvel. Nossos carros exportados pra Argentina custam 30% a menos que aqui, da pra crer? pior que dá.
Eu tenho, infelizmente, uma alimentação muito variada.
Meus pais me obrigam a comer, mas não gosto de comer .-.
:/
Hummm. Nada a declarar.