A vida nas celas de cão de Hong Kong

Não há dúvidas de que a China vive um boom de desenvolvimento: rodovias imensas, pontes com tamanhos recordes e prédios que surgem de um dia para o outro. Também já não é grande novidade que existe uma campanha velada para desmerecer este desenvolvimento e seu povo, como se não existisse uma grande vala de diferenças culturais. A verdade é que é um país em desenvolvimento com fossos de desigualdades sociais igualzinho ao nosso, sexta economia mundial e 84º IDH.

Dias atrás, quando do aniversário da cidade de São Paulo, a mídia toda vibrava em coro repetindo que "se a cidade de São Paulo fosse um país, seria a 40ª maior economia do mundo", como se isso fosse grande coisa. Ótimo para a cidade, péssimo para o país como um todo, concentração que favorece ainda mais aberturas de valas sociais.

Da mesma forma a mídia chinesa repete que Hong Kong está classificada como uma das cidades mais ricas da China e do mundo. Dizem que esta cidade tem mais boutiques Louis Vuitton do que em Paris, como se esta futilidade representasse alguma coisa, frente a vida de dezenas de milhares de coitados que vivem na cidade literalmente como coelhos em gaiolas medindo 180 por 60 centímetros, conforme documentado pelo fotógrafo britânico Brian Cassey.

Lá como em qualquer lugar do mundo tem alguém ganhando dinheiro com a desgraça dos outros. Os proprietários destes cortiços lucram com os trabalhadores migrantes pobres, idosos e mães solteiras das províncias do interior da China, que não podem pagar o caro aluguel na ex-colônia britânica. Eles colocam até 20 gaiolas de metal em uma sala, que são alugadas como um contingente único. As mais caras podem custar 200 dólares por mês (350 reais) e as mais baratas giram em torno de 130-150 dólares por mês (230-260 reais) para morar um uma jaula.

Assim, com uma única sala de 40-45 metros quadrados eles conseguem uma receita de 3-4 mil dólares. As celas, é claro, para economizar espaço são colocados em três níveis. As mais caras ficam no "primeiro andar". Se já não fosse o bastante, os moradores devem pagar por fora para usar o chuveiro, vaso sanitário e cozinha (quando existem). Ou é isso ou morar na rua.

Ativistas de direitos humanos há muito lutam contra as "celas de cão", como eles chamam tal albergue em Hong Kong, mas até agora sem sucesso. A organização mais proeminente é a SoCo (Sociedade de Organização Comunitária), que tenta estabelecer uma assistência específica para pobres, reassentá-los em um local decente ou abrigo noturno. Segundo eles, o número de habitantes das "celas de cão" em Hong Kong pode chegar a (pasmem) 350.000 pessoas, cerca de 5-7% da população residente da cidade.

Fonte: TamDiem.