Eu me lembro, como se fosse hoje, como chorei sob um viaduto da Dutra quando chegava em São Paulo pela primeira vez, advindo do interior do mato das Minas Gerais, e fui revistado pela ROTA. Minha vontade era atravessar a pista e pegar uma carona de volta para casa, mas não.... Na manhã daquele dia, o pior da minha vida até então, mandei um telegrama para minha mãe: - "Cheguei bem Fique tranquila Te amo", assim mesmo sem nenhuma pontuação para economizar no envio. Um telegrama custava o olho da cara. |
Entre a simplicidade de pressionar uma tecla ou clicar em um ícone para enviar um e-mail e a complexidade do transporte e entrega física das cartas do correio há mais história do que possa imaginar toda a sua criatividade. Ao certo, muitos dos leitores do MDig nunca enviaram uma carta ou sequer usaram o meio que cito na introdução: um telegrama, muito menos um cabograma. Telex? Nem pensar! O fax ainda resiste devido a insistência de alguns que custam a se render a modernidade.
E toda esta pressa de enviar uma mensagem de um lugar ao outro teve um sistema pouco conhecido de todos, o Missile Mail, que era um sistema de envio rápido do correio tradicional mediante foguetes ou mísseis. Literalmente um torpedo.
O primeiro teste bem sucedido aconteceu em 1931, quando Friedrich Schmiedl começou um serviço de correio de foguetes na Áustria. Em 1934, o empresário alemão Gerhard Zucker, preparou uma demonstração circense, inclusive cobrou entrada, para vender seu produto à Royal Mail britânica. O problema é que o foguete explodiu em pleno vôo queimado as 1.200 cartas que levava.
Também na década de 30, Stephen Smith testou o sistema no Serviço Postal da Índia com foguetes de fogos de artifício modificados que também foi utilizado para enviar pequenos pacotes e até aves de cativeiro vivas.
Lançamento do Regulus
Mas foram os estadunidenses que decidiram melhorar este sistema para fazê-lo mais preciso e confiável. Em 8 de junho de 1959 e depois de um acordo entre o United States Postal Service e o Departamento de Defesa, testaram o sistema com o envio de um míssil que poderia transportar o correio com maior precisão que os foguetes. Para isso escolheram o míssil de cruzeiro SSM-N-8 Regulus, com capacidade para atingir uma distância de 1.000 km. O lançamento aconteceu a partir do submarino USS Barbaro situado próximo a Norfolk (Virginia) e 22 minutos mais tarde o míssil, e sua carga de 3.000 cartas, chegavam à Base Naval de Mayport na Flórida.
Summerfield recolhendo as cartas do Regulus
O sucesso do teste foi tão grande que o Diretor Geral do Serviço Postal, Arthur E. Summerfield, chegou a dizer na época:
- "Antes de que o homem chegue à Lua, o correio chegará em poucas horas de Nova Iorque à Califórnia, Grã-Bretanha, Índia ou Austrália com mísseis teleguiados".
Em plena Guerra Fria, para o Departamento de Defesa aquele experimento foi apenas uma demonstração de força e capacidade de seus mísseis. Ademais, o custo deste peculiar envio era muito alto e a ideia morreu na casca.
Está longe de casa? Envie um e-mail para sua mãe. É tão baratinho...
Fonte: One Small Step For Mail.
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Comentários
Ótima ideia, Leo. :twisted:
Lembro como se fosse hoje.
A gente ia na Telefônica (que provavelmente era o único posto telefônico de uma cidade) e pedia pra balconista/telefonista que queria enviar um telegrama.
Ela dava um formulariozinho onde a gente colocava o nome da pessoa (tinha que ser nome completo), o endereço, CEP, bairro, cidade, estado, etc, etc...
E logo abaixo um campo de 10 linhas para escrever a mensagem.
Como era cobrado por palavras, a gente desenvolvia uma cultura de códigos para telegramas e uma linguagem própria.
- "Ligarei dia 24 21 hrs"
- "Aguardo noticias sobre familia"
- "Chego amanha meio-dia"
E a gente ainda ganhava os "PT"s de graça (eram os pontos entre as frases, quando haviam...)
Era romântico, sem dúvida...
E quando recebia um?
Carteiro com um envelopezinho pardo, com janelinha transparente, com o nosso nome.
A gente sempre tremia...!
Nunca sabia se era notícia boa ou ruim...!!!
Rssrsrsrsrsrsrsr
Carta-míssil nuclear seria massa!
Queridos americanos... :twisted:
ps: interessante é a analogia do sms com torpedo, mas o sms é enviado via wireless pelo ar, e torpedos são coisas underground, seria mais logico chamar de missil. mas a midia burra (quase pleonasmo) apelidou o sms de torpedo.
"simplicidade de pressionar uma tecla "
hahaha, isso porque voce se ve o quão complexo é manter os datacenters, os protocolos de rede, cabeamento, protocolo de email, software e mais software, sistemas de roteamento, servidores de dns, fibras oticas, etc..
É simples por conta da abstração, voce não ve o quão mais complexoo é porque esta tudo escondido aos olhos.
Ainda bem que desistiram da ideia do missivel e fizeram a ARPANET.
Sedex é para os fracos!!
O ministro das perguntas idiotas e descabidas no pleno uso dos seus poderes - no caso, EU - quer saber:
Decolar era fácil, mas e o pouso? Não ia amassar um pouco a correspondência não? E se o CEP estive errado, mandava no míssil de devolução? :lol:
Já mandei torpedos, tbm conhecido como SMS...
Realmente, uma idéia explosiva.
O que é um telegrama?
E eu já recebi cartas de um amigo (ele é da minha idade, mas parece ser do século passado.. digo, talvez antes... quem no mundo usa mesóclise de maneira correta com os amigos?) e é até legal, letra bonitinha, marcas de chá... 8O
Fora isso, o máximo que fiz no correio são caixas com presentes no Natal para amigos que não poderei entregar pessoalmente :D
Poderíamos adotar a ideia do missil para nosso desafetos..hehehe..só que no lugar de carta, vai polvora msmo..hehehe :twisted:
Mísseis continuam como "mensageiros", nos dias de hoje.
Realmente, nunca enviei cartas.
E minha mãe tá aqui do lado. :roll:
Enviar um e-mail pra minha mãe? Tá de brincadeira?
Ela mal sabe usar o celular! :roll:
Legal de enviar isso para as pessoas que a gente não gosta, né?
Falando nisso, esse míssil me lembrou o Torpedo Web® da Brasil Telecom®... uma bombinha que nunca funciona...
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