A mostra "Controvérsias - Uma História Ética e Jurídica da Fotografia", recém aberta no Museu do Elíseo de Lausanne, na Suiça, é composta por uma galeria de 80 das fotografias mais polêmicas da história. A exposição tenta dar resposta a complicadas perguntas que nem sempre acarretam evidentes respostas. |
Uma das fotos agoniantes representa algo do que mal podemos ver as imagens. É uma mão arrancada atirada ao solo. É, singelamente, um resto humano fotografado por Todd Maisel no 11 de setembro depois dos atentados contra as Torres Gêmeas de Nova York. A perturbadora imagem foi publicada pelo New York Daily News, rompendo um tabu não escrito que proibia mostrar a vítimas do maior ataque terrorista perpetrado em solo estadunidense.
A mão de Maisel provocou um escândalo maiúsculo e propôs a seguinte pergunta, e o conseguinte debate: por que não se pode mostrar os mortos? Segundo seu autor, a resposta é:
- "Para não reviver os fantasmas da guerra do Vietnã".
A essa imagem somam-se as fotos anônimas de torturas na prisão iraquiana de Abu Ghraib, que fizeram a Administração de George W. Bush perder toda sua credibilidade moral. Ambas são bons exemplos do dilema que é explorada por Controvérsias.
A história da polêmica e os julgamentos parece ser tão velha como a fotografia. A exposição recorda que, já em 1840, o pioneiro Hippolyte Bayard teve que se apresentar nos tribunais para defender a autoria das inovadoras tiragens em papel contra o onipresente daguerrótipo usado na época.
Ou Napoleon Sarony, que em 1882 teve que defender seus direitos de autor sobre alguns retratos de Oscar Wilde comercializados a escala industrial e dos que nunca viu um centavo. A justiça dos Estados Unidos reconheceu que as fotos eram "o fruto de um trabalho intelectual" e reconheceu sua autoria. Dito veredicto criou jurisprudência e fez história, ao tornar possível que os fotógrafos pudessem cobrar por seu trabalho.
A exposição não tem, segundo seu curador, Daniel Girardin, intenção alguma de provocação. Ele explicou que seu principal interesse consiste "em constatar como a tolerância muda com o passar do tempo". Para montar a mostra foram necessários quatro anos de gestões e a colaboração de um gabinete de advogados especializado em direito de imagem para defender-se ante os possíveis envolvimentos judiciais. De fato, a mostra é proibida a menores de 16 anos.
Com a fotografia chegou a polêmica
Existem fotografias que têm vida própria e parecem falar por si só. Daí precisamente vem o dito "uma imagem vale mais que mil palavras". E vá que sim... Curiosamente, essa essência não pereceu com o tempo. Não sucede o mesmo com as palavras. Este é o caso de muitas fotografias que algum dia se viram confrontadas à moral ou, inclusive, aos tribunais. E a mostra está recheada delas.
"Entre o público e o privado, as fotografias são o lugar de todas as subjetividades". Estas são, entre outras, algumas das imagens que podem ser encontradas na exposição, alguma delas você ja viu aqui no MDig.
"Commune de Paris, a colonne Vendôme à terre, 16 mai 1871", de Bruno Braquehais.
Esta é a fotografia do famoso escritor irlandês Oscar Wilde que criou jurisprudência de que a fotografia tem, sim, propriedade intelectual.
Napoleon Sarony, "Oscar Wilde".
Argélia, 1960. Garanger fotografou milhares de mulheres argelinas por ordem do Governo francês, que tinha decidido que todos os habitantes da sua colônia, à época, tivessem um documento de identidade.
O fotógrafo encontrou uma grande oposição por parte das retratadas, que durante toda sua vida tinham escondido seu rosto sob um véu. O desgosto e o desconcerto pode ser visto em muitos dos rostos das mulheres.
Marc Garanger, "Retrato de Cherid Barkaoun"
Nesta imagem, a atriz e modelo Brooke Shields posa nua com dez anos de idade para um projeto de Garry Gross: "A Mulher na Menina". Sua mãe assinou um contrato cedendo todos os direitos das imagens a Gross.
Em 1981, Brooke Shields quis recuperá-los e estabeleceu uma batalha legal com o fotógrafo. Os tribunais consideraram que o contrato fechado pela mãe era válido.
Shields propôs outro julgamento acusando a Gross de invadir sua esfera privada, mas também perdeu. Gross ficou arruinado pela sucessão de julgamentos.
Omayra morreu em 1985, aos 13 anos, vítima da erupção do vulcão Nevado Ruiz, Colômbia. Seu caso adquiriu fama mundial porque agonizou durante três dias, submersa no lodo e entre os cadáveres dos pais, sem que os socorristas pudessem fazer nada para ajudar.
A fotografia foi publicada vários meses após a morte da menina e originou uma grande polêmica sobre a atitude do Governo colombiano com respeito às vítimas.
Frank Fournier, "Omayra Sánchez"
As duas eram duas meninas quando usaram a máquina do pai de Elsie para provar a existência de seres sobrenaturais com os quais asseguravam se relacionar. Depois de revelar as fotografias, a família constatou, estupefata, a presença das fadas.
Sir Arthur Conan Doyle publicou as imagens, que provocaram grande polêmica. Aos 83 anos, Elsie declarou que tinham fabricado as fadas com duas figuras de um livro, mas sua prima nunca confirmou essa explicação.
Elsie Wright e Frances Griffiths, "A fada oferece flores a Íris".
A fotografia foi realizada o 11 de setembro de 2001 em Nova York. Foi publicada pelo New York Daily News e provocou uma grande polêmica, porque rompeu o consenso que tinham atingido todos os meios de comunicação estadunidenses, pelo qual não mostravam imagens explícitas dos atentados.
A imagem mostra um crucifixo submerso num vaso com a urina do próprio artista. O fotógrafo, de origem estadounidense, ficou famoso com as suas fotografias de mortos.
Muitas das fotografias de Serrano contêm fluídos corporais, tais como sangue (às vezes do ciclo menstrual), sêmen (por exemplo, "Blood and Semen II" - 1990, capa de um disco do Metallica) ou leite materno.
Andres Serrano, "Piss Christ".
Em 2004, a CBS difundiu seis fotografias de prisioneiros iraquianos torturados na prisão de Abou Ghraib. Mais tarde, o New Yorker publicou mais imagens das mesmas torturas perpetradas neste cárcere, dirigida pelas tropas estadunidenses.
A publicação das fotos levou a proisão a vários soldados e tornou-se manifesto do conflito entre a propaganda militar e o respeito da dignidade humana.
Esta foto realizada para uma campanha publicitária da Benetton foi proibida na Itália e França graças às pressões do Vaticano. Apesar disso, ganhou o prêmio de Melhor Publicidade do ano na Grã-Bretanha.
Oliverio Toscanini, "Kissing-nun, 1992".
À margem das besteiras de Serrano a exposição parece estar fadada ao sucesso. Após vê-la, seguramente nuitos hão de recordar de imagens com sua própria história e/ou polêmica.
Curiosamente, muitas destes instantâneos mostram muitas cenas trágicas e são totalmente explícitas: mostram-nos a realidade tal qual ela é, seja o que for. As perguntas que perduram... É necessário a mostra destas fotografias para se conhecer a realidade? Criam consciência estas imagens ou conseguem exatamente o efeito contrário e ficamos imunizados ante o horror das mesmas? Onde termina a informação e começa o sensacionalismo?
Por outro lado, muitos destes fotógrafos resultaram premiados ao longo da história. Um claro exemplo foi o de Kevin Carter, que recebeu o prêmio Pulitzer em 1994 pela famosa imagem da menina com o urubu à espreita. No entanto é lícito que uma pessoa ganhe prestígio graças à dor ou a desgraça dos outros? Deveria ele primar por seu trabalho ou parar e ajudar a uma pessoa em apuros em casos como este?
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Comentários
Foda hein , as imagens são bem chocantes mesmo.
Essas imagens parecem muito fortes, principalmente aquela do menino.
Legal
a de Omayra que deveria ser colocada assim pra gente naum ver logo de cara
nossa xocante
"Deveria ele primar por seu trabalho ou parar e ajudar a uma pessoa em apuros em casos como este?"
Ele deveria parar, é claro. É importante mostrar a realidade como ela é... simplesmente porque, sem conhecer a realidade, não podemos fazer nada para mudá-la.
Ele teve a chance de tentar mudar a realidade, e preferiu não fazê-lo. Se todo mundo que ver esse tipo de foto agir como o fotógrafo, de que adianta?
É difícil saber qual a real intenção do organizador dessa mostra de fotografias, mas eu espero que o resultado seja positivo.
imagens que retrata fatos da vida exposta, para avaliação dos que as vêem, é bom lembrar que cada "personagem" das fotografias tinham suas próprias historias de vida seu sonhos suas virtudes, que foram interrompidas, seja pelo homem ou pela natureza, a mão inocente que ali estava no solo, tinha vida ,que provavelmente tinha família filhos sonhos e conquistas e foi interrompida,por ideologias próprias de outra mão que tinha ódio e sede de vingança, assim e o nosso mundo, feito apenas para nossos próprios ideais, e o resto que se ???????
:cry:
...boas fotos!
...a de Omayra quem nâo se lembra?
nossa...
8O :| :clap: