O mundo não vai acabar depois de amanhã

Ao longo da história ficamos sabendo de um monte de agoureiros que preconizaram o fim do mundo de forma iminente. Uns foram tachados de bobos, outros queimados como hereges e uns poucos tratados como reis. Todos falharam miseravelmente em suas predições. E depois de amanhã não deverá ser diferente, apesar de que os antes alarmistas do apocalipse maia, agora mais comedidos pregam um novo discurso de que a partir da próxima sexta feira, no 13º baktun, o mundo enfrentará mudanças radicais. (alguma novidade?)

Muitas destas cabalas acabaram com seus criadores, mas o problema é que também fizeram mal para pessoas inocentes que acreditaram de olhos fechados e chegaram inclusive à imolação e morte por esta causa. Não há que olhar bem longe para termos exemplos disso, e basta lembrar dos suicídios coletivos da seita das Portões do Céu em San Diego, a Restauração dos Dez Mandamentos de Deus em Uganda ou então da frustrada tentativa que acabou em matança do Ramo Davidiano no Cerco de Waco (Texas).

No momento de escrever estas palavras aproxima-se, segundo os conpiracionistas, o apocalipse maia e uma série de desastres naturais acabarão com nosso planeta. Na verdade parece um fim do mundo anunciado por um roteirista de filmes de Hollywood.

Estamos cansados dos profetas, dos adivinhos, dos agoureiros, de gente que fala em metafísica como se tivesse mesmo alguma transcendência para além das bordas místicas de seu mundo de faz de conta. Estamos fartos de que queiram comer nossos cérebros com suas estúpidas cabalas sem fundamento; de suas pretensões de sabe-tudo, reis da retoricidade medíocre para nos tirar do sério. Estamos até as tampas de que usem as notícias de descobertas científicas para enganar a população, ou de que inventem falsas histórias sobre civilizações desaparecidas.

Estas pessoas que têm por oficio o alarmismo a qualquer preço ou que acham que tudo é uma conspiranoia contra a humanidade deveriam ter como destino a camisa de força. Da mesma forma, àqueles que se crêem mais sábios que a ciência e põem em perigo a saúde dos demais, aplicando técnicas obsoletas, eludindo os avanços científicos e se submetendo a inúteis sessões de curandeirismo, ou impedindo a proteção oferecidas por vacinas e medicamentos àqueles que deveriam ser seus bens mais preciosos: seus filhos.

Precisamos, cada vez mais, do uso do pensamento crítico e da razão. Por sorte, todos somos -mesmo estes incautos- cientes da fragilidade da vida neste pequeno ponto azul pálido que é nosso planeta. Temos a nossa disposição uma imensa coleção de conhecimentos que nos explicam como nascemos, como vivemos e como morremos; como nosso planeta está mudando de forma por causa de nossas ações, e inclusive temos modelos muito complexos de como é possível transformar até o colapso da civilização humana.

Eu sinceramente gostaria de ter o direito a viver em paz sem  esses pressagiadores do mal. O conhecimento nos torna cada vez mais livres, mas é preocupante lembrarmos daquelas pessoas que são vulneráveis a estas mensagens, a viver com a angústia deste possível final ou, no pior dos casos, a morrer com ela. Por isso, se conhece alguém nesta situação não custa nada falar e acalmá-lo:

- "Certamente depois de amanhã não será o fim do mundo. Deixe de se preocupar e vá viver a vida".