Os filósofos e poetas esgotaram por séculos as margens da beleza, seja tratando de defini-la ou produzi-la. No que toca à beleza física, os critérios são étnicos, culturais e históricos: as modelos de cadeiras largas do Renascimento foram substituídas por uma modelo ideal de cintura fina e mais próxima à inanição que à plenitude carnal de suas predecessoras do século XVI. |
A loteria genética tem um importante papel na percepção da beleza. Associamos um fenótipo, uma idade e uma imagem com certos estereótipos desejáveis. Associamos, por exemplo, a pele branca com a abundância econômica, e a pele negra com a criminalidade. É algo que todos sabemos, mas que no interior do mundo da beleza profissional é bem mais patente, segundo a modelo da Vitória's Secret e Chanel, Cameron Russell.
Através de uma palestra TED, a modelo qüestiona a construção social da beleza em nossa sociedade através de pequenos performances em cena. Por exemplo, troca de roupa de um pretinho básico a uma saia florada e um suéter, que por verdade fazem com que pareça mais apta para a cena em que se encontra, ainda que a gente não saiba dizer o por quê. Do mesmo modo, Cameron passa logo a uma série de perguntas que as modelos sempre devem responder -e ao que parece sempre mentem, ou omitem grande parte da verdade-.
Valendo de várias fotografias de passarela e capas de revistas, a modelo demonstra que a imagem que aparece nos meios não é a imagem dela mesma: de um lado da tela, uma glamourosa capa da Vogue, traje de banho e óculos de sol; do outro lado, uma fotografia dela aos 18 anos ou menos, despenteada e sem maquiagem, como uma jovem adolescente comum de domingo.
A imagem das revistas e passarelas, afirma a modelo, precisamente está modelada por uma equipe de profissionais da imagem. Cameron diz isto sem nenhum ressentimento: admira de seus colegas a paixão e criatividade, ao mesmo tempo em que adverte que a imagem que vemos nas revistas é mais próxima dos projetos de um edifício ou ao esquema de um roteiro de cinema que a uma pessoa "de carne e osso".
E enquanto perguntamos-nos se poderia existir tal coisa como "pessoas de carne e osso", no universo das pessoas as há "belas" e não belas. Mas a beleza é precisamente essa engenharia da imagem, a luz precisa, a roupa, o star system -o Photoshop é apenas mais um detalhe dentro de uma galáxia de circunstâncias que mantêm às estrelas em órbita-.
A beleza, pois, é uma construção profissional. Cameron não fala da "beleza interior" como a verdadeira beleza inata das pessoas nem nada disso; vai direto à jugular:
- "Aquilo que nunca falamos em frente às câmeras [quando nos perguntam por que somos modelos]... é 'eu sou insegura'. E sou porque tenho que pensar todos os dias em como devo parecer. E se vocês se perguntam, 'oh, se tivesse as coxas mais finas ou o cabelo mais brilhante', bom, deveriam se juntar com um grupo de modelos. Elas têm coxas finas, o cabelo mais brilhante e a roupa mais bacana, mas provavelmente são as mulheres fisicamente mais inseguras do planeta".
O argumento não é superficial quando pensamos que mais da metade das garotas de 17 anos não estão seguras de seu corpo e de sua aparência; e ao mesmo tempo, que a beleza é uma qualidade que deve manifestar de um modo ou outro todas as horas, pois disso depende a aparência do próprio sistema, bem como sua vigência: revistas de variedades, cenografia teatral, roupa que deve ser usada não em relação a sua funcionalidade senão ao periódico relevo das estações, cujos desfiles alimentam a indústria.
Apesar de que a modelo não se mostra apologética com respeito ao mundo da moda (de fato afirma que pessoas como ela -isto é, as modelos- se aproveitam da loteria genética para seu próprio benefício inclusive na vida real, como sendo amáveis com a polícia para evitar multas de trânsito), também não a demoniza como tal. NA verdade trata-se de não acharmos que tudo o que vemos nos meios é real, e que a beleza é o espelhismo mais brutal de todos.
Fonte: TED.
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Comentários
Sinceridade estranha, mas bem-vinda
Como agir como um babaca: escolha um alvo qualquer, vista a carapuça de idiota e comece a persegui-lo pelos posts (se não forem desejos reprimidos). V
14:41 plim! 14:53: argh! PH em cena: como viver a pária livre...
Confuso, sem sombra de dúvida. V
Não sou belo, mas não sou feio... sou inseguro? Sou confuso? :?
Nossa...
Primeiro que ela quebra o esteriótipo de "modelo burra", só pelo vocabulário e construção lógica da palestra.
Depois: bacana, muito sincera a palestra. Espero que ela continue, até pra pegar mais prática e concatenar melhor as ideias (depois dela, tenho que usar meu vocabulário também, né?)
E... nossa.
Inseguras.... e.e
Sei.
O ideal de tantas mulheres é uma "realidade ilusória"; a busca de uma perfeição, a qual, na verdade, não existe.