Confissões de uma loira feliz

Eu sempre fui a patinha feia da turma. Quinta num grupo de seis irmãos, com uma irmã escultural (minha mãe costuma dizer que ela foi feita a pincel por Deus). Espremida, assim cresci, pequena e cheinha, com sardas e cabelo loiro acobreado, assim fui eu, que sendo feia nunca perdi tempo com futilidades. Aprendi a ser eu mesma.

Estudava muito. Lia ao extremo. Assim fazia muitos amigos. Esses, aliás, jamais me faltaram. Brincava com as meninas e os meninos também. Um luxo.
Embora convivesse com apelidos carinhosos tipo: oncinha, ferruginha, isso nunca foi problema, aliás, solução. Explico: sendo feia não representava perigo nem ás meninas nem aos meninos. Assim transitava nos dois grupos. Era uma privilegiada.
Já adolescente conheci o amor muito sofrido dos amigos. Decidi escolher a dedo meu primeiro amor. Era lindo. Um verdadeiro modelo. Moreno, dentes alvos, cheiroso, educado e muito carinhoso. Ah! Sabia beijar muito bem (havia me informado com uma de suas exs).
Quando uma amiga soube deu risada. Ele era o mais cobiçado da turma, eu não teria chance.Aguardei. E assim depois de um tempo namoramos. Fechei com chave de ouro essa fase. Que chave!
Depois disso, amarguei muitos desencontros. Aprimorei meus conhecimentos. Fui ficando mais loira. As sardas? Foram cedendo a uma pele alva e rosadinha. Eu e meu espelho não nos entediamos. Desisti dele.
Os namorados? Bem, muitos. E aí é que não entendia. Como podiam se apaixonar por mim?
Grande mistério. Namorados inúmeros. Muitos amigos. Grandes amigas.
Era muito bom. As mulheres não me achavam nenhum perigo, os homens não ficavam com medo de mim, assim todos ouviam o que eu tinha a dizer.
O pior disso tudo eram as paixões despertadas. Acaba um namoro, ficava um apaixonado inconformado. Eu realmente nunca entendi. Deixa pra lá.
Houve um de meus namorados que me ensinou o sentido do conteúdo. Ele era lindo. Um dia se arrebentou num acidente de moto e quando o vi no hospital, fiquei pasma. Estava horrível. Conversando com ele vi que não havia nada além da aparência. Aprendi naquela tarde o significado do homem BB (bonito e burro). Desisti dele. Queria alguém com quem pudesse conversar assuntos variados. Resolvi dar um tempo. Agora devorava livros.
Quando finalmente me decidi por um marido a procura foi longa. Alguns possuíam um excelente conhecimento, mas não dava o “TCHAN”, ai não engatava.
Eu mais loira que nunca. E muito feliz. Afinal não me preocupava com longas horas em academia ou salão. Eu era simples e muito feliz. A natureza foi mãe comigo.
Afinal casei. Ele é perfeito. Um verdadeiro Deus. Um BIGM.
Descobri finalmente que sou feliz mesmo.
Entendi que durante anos as pessoas me viam pelo que eu sou. Ouviam o que eu tinha a dizer.
Assim não precisei querer parecer outra pessoa. Ficar me produzindo para ser aceita. Copiar modelos. Tentar agradar.
Descobri que sou loira e muito inteligente... sou feliz.