Uma das coisas que venho percebendo ultimamente é o padrão cíclico das tendências, das modas, dos assuntos e até das tecnologias. Quando menos se espera, algo ressurge das cinzas de uma década qualquer e faz um retorno triunfante (ou não!), pegando todo mundo de surpresa e fazendo o pessoal se perguntar em que ano estamos afinal. |
O gosto pelo som mecânico e arranhado do vinil, muito provavelmente alinhado ao prazer de poder trocar de música com as próprias mãos diretamente no disco, tinha mexido com a nostalgia de alguns de nós que cresceram com um aparelho deste dentro de casa. Havia gente vendendo discos velhos de vinil por preços consideráveis! E discos novos não são muito mais baratos. A qualidade do som, segundo alguns, é a mesma de um arquivo digital, mas eu tenho lá minhas dúvidas.
No entanto, a brincadeira não parou por aí. Temos várias boybands, girlbands, bandas de rock e afins que ensaiaram um retorno (e ainda estão ameaçando voltar) como Spice Girls, Black Sabbath, Take That, The New Kids On The Block, N'Sync, Backstreet Boys, No Doubt e o próprio Michael Jackson e a Whitney Houston, que não tiveram tempo de completar o serviço. Lógico que há vários outros, porém alguns deles, apesar do sucesso que tiveram no passado, não conseguiram agradar o público de hoje e voltaram ao ostracismo.
Uma teoria que tenho é a de que, neste meio e final de século, a prosperidade começou a se tornar o objetivo principal no mundo e vários países enriqueceram como nunca. Uma incomum estabilidade política pós guerra fria também levou a uma vida mais tranquila, sem preocupações, onde os residentes de países desenvolvidos puderam criar um padrão contínuo de vida jamais visto na história da humanidade. Os trabalhadores arranjavam emprego fácil, tinham salários satisfatórios, compravam o que queriam e não sentiam falta de nada. A classe média tinha se tornado predominante e comprar aquilo que se desejava, sem muita dificuldade, era agora visto como a norma.
Por causa desta calmaria toda, a indústria do entretenimento cresceu como fogo de palha morro acima e começou a concentrar seus esforços na parcela da população que tinha tempo e dinheiro para gastar com bobagens, eram facilmente impressionáveis e se viciavam em qualquer coisa rapidamente: as crianças e os adolescentes.
Eu digo: não houve nenhum outro grupo de pessoas na história humana que viveu uma vida tão abastada, tão cheia de prazeres, tão vazia de preocupações, tão segura e tão fácil quanto os adolescentes do final do século XX. E digo isso sem medo de estar errado.
Essa felicidade toda, nunca antes imaginada e sequer testada numa população tão grande, sequestrou o juízo de realidade e o senso de proporções e medidas desses jovens. Foi uma geração quase como a hippie, mas sem todo aquele cheiro onipresente de incenso e sem toda aquela irresponsabilidade e ingenuidade social e política (as drogas, no entanto, continuam as mesmas).
Ao contrário da chamada “geração silenciosa” dos anos 60, que andava descalça, fazia filhos como se fosse nada, gastavam o dinheiro dos pais, moravam ao relento e se distanciavam da cultura onde nasceram, essa geração está completamente integrada e é um desdobramento natural daquela que a antecedeu. Não são revoltados, não se rebelam contra as normas morais dos mais velhos para viverem uma vida de prazer e luxúria, não lutaram contra nada e viram como o mundo é no seu melhor: a vida deles é assim por que a sociedade mesma criou condições pra isso. Essa mudança só foi possível pelo avanço de tecnologias.
É uma “corrida pelo novo” tão rápida que a cultura não a acompanha. Há aparatos tecnológicos avançadíssimos que, apesar de muito bons, nem chegaram às prateleiras ou saíram delas rapidamente; foram suplantados por coisas ainda mais novas e arrojadas antes mesmo de poderem se instalar no mercado. Uma sociedade saudável não consegue acompanhar isso. A quantidade de novidades e o impulso de experimentar todas elas criou uma série de desencontros, mal entendidos, medos e disparidades que não conseguiram se firmar e se espalhar uniformemente pela população. Na sua busca pelo novo e moderno, o povo acaba não se acostumando com nada. E devido a essa agilidade toda, o pessoal viu que há uma necessidade de voltar e ficar com o que é bom. Acredito que isso também conta nessa onda de revivals.
Se isso for um padrão, no entanto, as crianças de hoje vão ver seus programas e filmes favoritos, suas bandas e artistas prediletos, que hoje são novidade, serem repetidos e ganharem sequências e remakes nos anos que vierem. Mas estou firmemente convencido de que não seja esse o caso.
A qualidade de tudo vem caindo vertiginosamente. Vejo com espanto gente que nasceu em 2000 falar que prefere as músicas das décadas passadas, algumas até de artistas que já morreram. Vejo fandoms sendo criadas nessa época que idolatram artistas como Nirvana e Queen. Se por um lado isso é legal e interessante, por outro também é triste, uma vez que deixamos de produzir artistas de qualidade, certo? Errado!
Há muita gente boa por aí, que tem talento suficiente para deixar muito super-astro no chinelo, como acompanhamos aqui no MDig quase toda semana. E tem muita gente de sucesso hoje que morreria de fome trinta anos atrás. Isso, no entanto, pra mim é um mistério. Não consigo entender por que a mediocridade faz sucesso. Deveria ser objeto de estudo.
Os filmes já são um caso diferente. As histórias e os atores eram mesmo melhores, mas os efeitos visuais de hoje não se comparam, e isso faz uma grande diferença em um filme. É por isso que eles estão refilmando tudo, desesperadamente, na esperança de fazer com que as boas ideias do passado continuem rendendo. Por exemplo: voltaram a filmar musicais. Um dos primeiros grandões foi High School Musical. Vários vieram antes, e também depois, como: "Mamma Mia!", "Hairspray", "Moulin Rouge", "Chicago", "Dreamgirls", "Sweeny Todd", "Caminhos da Floresta" ("Into the Woods") e, na minha humilde opinião, o melhor de todos, "Os Miseráveis". A Broadway percebeu um aumento de público também, e por consequência, houve um aumento na diversidade shows ofertados. A maioria dos filmes dessa lista, no entanto, é de peças musicais que já fazem sucesso no palco. Pouca novidade.
A falta de qualidade na música, de originalidade e criatividade nas histórias dos filmes, o excesso de virtualização e digitalização, principalmente da vida social, são fatores que não estavam presentes na vida dos que cresceram no final do século passado e, para eles que podem fazer uma comparação entre as duas épocas, a forma antiga de levar a vida e o retorno ao que se deixou para trás parece ser um tanto melhor.
Antigamente o mundo era chato, então as pessoas eram interessantes. Depois, o mundo ficou interessante, e isso deixou as pessoas chatas. Hoje, o mundo voltou a ser chato (o que não é lá muito verdadeiro) e as pessoas vão demorar bastante até voltarem a ser interessantes. Este acúmulo aparente de chatices faz com que as pessoas queiram rebobinar o tempo (um termo que não se usa mais, aliás) e voltar para onde ao menos um dos dois, homem ou mundo, era interessante de alguma forma. Mal sabem eles que nenhum dos dois jamais perdeu a capacidade de fascínio e mistério. O mundo é o mesmo e o homem também, trata-se apenas de se olhar para o lado certo.
Temos como exemplo alguns trailers de filmes icônicos que receberam sequências e refilmagens.
Há também os "Transformers", "Tartarugas Ninjas", "Robocop", "O Exterminator do Futuro", "Jurassic World" e o retorno da série "Arquivo X". Alguns projetos estão em andamento, como "A Coisa (It)" de Stephen King, "A Múmia" (estrelado por Tom Cruise), "Gremlins 3", "Jumanji", "Power Rangers" (filme), "Mudança de Hábito" e uma nova temporada do anime japonês que marcou época, o "Dragon Ball Super".
Outra coisa interessante que aconteceu nos últimos tempos foi o lançamento do aplicativo para celular Pokemon Go, que pegou todo mundo de surpresa pela quantidade de downloads que teve em um curto espaço de tempo e a movimentação que causou nas ruas, com pessoas que se perdem nas redondezas e se juntam em lugares inusitados, em busca de algum bichinho raro pra capturar. Ao mesmo tempo, a Nintendo anunciou o relançamento do console clássico NES: um aparelho com uma tecnologia de quase trinta anos com 30 jogos na memória. Qual o motivo disso, outro que a nostalgia dos anos 90? Nenhum.
É um nicho bem grande de mercado que nasce da saudade dos bons e velhos tempos que, por esforço de muitos, estão voltando com toda força.
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Comentários
Excelente texto.