Os pilotos soviéticos que ficaram obcecados em levar seus MiGs à maior altura possível

Ao terminar a Segunda Guerra, os soviéticos ficaram estigmatizados pelo fato de ter que depender de motores de avião desenhados e fabricados pelos britânicos, inclusive o MiG-15, um avião produzido muito tempo após terminada a guerra e que fez estragos na Coréia, que utilizava um motor cópia do Rolls-Royce RB.41 Nene. Isto não podia seguir assim, e as autoridades soviéticas sabiam muito bem, motivo pelo qual armaram os lendários engenheiros Mikoyan e Gurevich com todos os recursos industriais, econômicos e pessoal necessários para levar a tecnologia aeronáutica soviética a novos níveis.

E assim foi feito (aliás o prefixo MiG vem de "Mikoyan e Gurevich"). Em pouco mais de 15 anos a União Soviética deixou de utilizar motores copiados para produzir os melhores aviões de combate do mundo, a jóia da coroa foi o MiG-25, o avião que simplesmente estabeleceu todos os recordes existentes para aviões de combate: o recorde de velocidade com carga útil (mísseis) em 1965 chegando a 2.319.12 km/h, o recorde de velocidade sem carga útil em 1967 tocando os 2.981.5 km/h, o primeiro jato de combate em romper a barreira de altura dos 20 quilômetros e depois dos 30 quilômetros em 1973, o recorde de velocidade em atingir os 25 quilômetros de altura em 1973, entre vários outros. Ao todo o MiG-25 demoliu um total de 29 recordes mundiais, muitos dos quais ainda se mantém.

Eventualmente, entre os pilotos soviéticos, começou uma competição para ver quem podia levar seu MiG-25 a maior altura, e isto não é tão simples como apontar o avião para cima e acelerar, requer de manobras muito complexas para maximizar o ponto vértice da altura máxima atingida uma vez que a trajetória de vôo se torna parabólica ao atingir certa altura com pouca densidade de ar e o motor de reação experimenta o que é denominado "apagão de chama", fenômeno no qual se apaga a chama na câmera de combustão do motor tanto pela falta de oxigênio quanto pela baixa densidade de ar que leva à perda do compressor.

Alexander Fedotov

Foi assim que no dia 31 de agosto de 1977 Alexander Fedotov, que já tinha levado seu avião ao limite várias vezes anteriormente, levou seu avião a quebrar o maior recorde de altura alguma vez atingido por um jato de combate, e que ainda, no dia de hoje quase 40 anos depois, permanece invicto. Fedotov voou um MiG-25RB experimental com um motor R15BF2-300 a uma velocidade e trajetória tal que, apesar de seu motor ter se rendido aos 30 mil metros de altura, seu avião chegou a tocar os 37.650 metros de altura. Todo um testamento à engenharia soviética.

Hoje em dia, se você contar com uma pequena fortuna destinada ao lazer é possível contratar pilotos veteranos russos e MiG-29s para viajar a grandes alturas e ver a curvatura terrestre.