Em 22 de Janeiro de 1977, P.K. Mahanandia, então com 24 anos, decidiu fazer um passeio de bicicleta de quatro meses desde Nova Deli, na Índia, até a cidade de Boras, na província de Västergötland, no oeste da Suécia, para encontrar a mulher que ele sabia que era sua alma gêmea. Sua história de amor surpreendente tornou-se o assunto de um best-seller de 2014, intitulado "Nova Deli-Borås - A história improvável do indiano que pedalou por amor até a Suécia", do escritor sueco Per J. Andersson. |
Mahanandia conheceu Charlotte Von Schedvin em 1975, completamente por acaso. Ele estava trabalhando como desenhista em Connaught Place, shopping e centro de negócios em Nova Deli, e Charlotte visitava a Índia como turista.
Um dia, enquanto caminhava pela cidade, ela notou um jovem encaracolado com um cartaz que dizia "um retrato em 10 minutos por 10 rúpias" e decidiu testar a capacidade do desenhista. Ela sentou-se para um retrato, mas algo deixou o rapaz nervoso e suas mãos não paravam de tremer. Desapontada com o resultado do desenho, mas intrigada pelo homem, ela decidiu retornar no dia seguinte para um novo retrato, mas o resultado foi ainda pior.
A turista sueca mais tarde saberia que P.K. Mahanandia tinha muito boas razões para estar nervoso. No momento em que a viu, o artista lembrou-se de uma profecia que sua mãe fizera quando era um menino. Mahanandia era um Dalit, a casta mais baixa na sociedade indiana, e enfrentou a discriminação mais estúpida dos estudantes da casta superior.
Sua mãe um dia disse que ele se casaria com uma mulher taurina da pele clarinha e cabelos loiros, que viria de uma terra distante, seria música e que morava em um bosque. Assim que a viu, Mahanandia soube que era ela.
- "Eu nem perguntei seu nome primeiro. Perguntei se ela havia nascido entre abril e maio, se era do signo de Touro e se morava no meio do mato. Ela respondeu sim a todas as perguntas", lembra Mahanandia. - "Eu sabia que estávamos destinados a nos conhecer. Disse a ela que ia ser minha esposa, e então fiquei com medo que fosse até a delegacia que ficava bem perto de onde estávamos."
Mas isso era a última coisa que Charlotte estava pensando. Ela também se sentiu atraída por ele, e apesar das estranhas perguntas que fazia, parecia um rapaz honesto, o que só a deixou mais curiosa sobre o porquê dele ter perguntado todas essas coisas.
Os dois continuaram se encontrando, ele contou sobre a profecia de sua mãe, o clima rolou e, menos de duas semanas depois, Mahanandia levou Charlotte para seu estado natal, em Orissa -agora conhecido como Odisha- onde se casaram de acordo com a tradição tribal. Logo depois disso, as férias da sueca terminaram e chegou a hora de voltar para casa com seus amigos, mas ela fez seu novo marido jurar que iria se juntar a ela na cidade sueca de têxteis de Boras. Ela até tentou deixar dinheiro para uma passagem de avião, mas o orgulhoso jovem se recusou a aceitar.
Eles mantiveram contato através de cartas por aproximadamente um ano, mas o estado financeiro de Mahanandia só fazia piorar e ele chegou a conclusão que jamais juntaria dinheiro para comprar um bilhete aéreo para a Suécia. Mas ele não ia desistir tão fácil do amor de sua vida também, então vendeu todos os seus pertences, comprou uma bicicleta por 60 rúpias, e decidiu pedalar até o país do norte da Europa na popular "trilha hippie" que muitos europeus atravessavam de moto para a Índia. Se eles podiam viajar de motocicleta, talvez ele pudesse também fazer a travessia em uma bicicleta.
Ele deixou Nova Deli em 22 de janeiro de 1977, passando pelo Paquistão, Afeganistão, Irã e Turquia para chegar à Europa.
- "A arte veio em meu socorro. Eu fiz retratos de pessoas e alguns me deram dinheiro, enquanto outros me deram comida e abrigo", disse Mahanandia. Mesmo quando não conhecia a língua do país em que estava, a arte atuava como uma linguagem universal e sempre o tirava de problemas.
- "Minhas pernas latejavam e a batata da perna queimava, mas a emoção de encontrar Charlotte e ver novos lugares me manteve firme", lembra o artista.
Em 28 de maio, ele finalmente chegou à Europa, e de Veneza pegou um trem até Gotemburgo, na Suécia, cerca de 70 km de Boras, onde Charlotte estava esperando.
- "Quando ela me viu, veio correndo me abraçar. Eu disse, 'Desculpe, estou fedendo!', mas ela me abraçou e me beijou mesmo assim", diz Mahanandia, com um largo sorriso no rosto. E eles estão juntos desde então. Apesar de vários choques culturais e alguns problemas iniciais com os pais de Charlotte, uma nobre família sueca, eles se casaram legalmente no país do norte e ela o ajudou a se adaptar a sua nova vida.
- "Eu não tinha idéia de nada sobre a cultura européia. Era tudo novo para mim, mas ela me apoiou em cada passo. Ela é uma pessoa especial, é um anjo. Eu estou ainda mais apaixonado por ela, assim como eu estava em 1975", disse Mahanandia à BBC.
P.K. Mahanandia tornou-se um professor de arte, recebeu um Honoris causa e suas pinturas foram exibidas em galerias de arte de toda a Europa, enquanto Charlotte optou por uma carreira na música. Os dois têm dois filhos: Emelie, de 31, economista da área de têxteis, e Karl-Siddhartha, 28, um piloto de helicóptero e são tão felizes como nunca.
Uma coisa que o artista indiano nunca foi capaz de entender sobre a Europa é o amor das pessoas pelo ciclismo.
- "Fiz o que tinha que fazer, eu não tinha dinheiro, mas tinha que encontrá-la. Eu pedalei por amor, mas nunca amei o ciclismo. É simples! Bicicleta, nunca mais!", ri o indiano.
Fonte: BBC.
Fotos: P.K. Mahanandia.
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Comentários
Gostei. Linda história.
Que história bonita! A prova que amor não conhece fronteiras e que um "impuro" pode fazer feliz uma "princesa". Também chorei!