Estar enterrado vivo é uma das piores situações que alguém possa imaginar. Uma que seguramente está no top 3 das piores mortes. Agora tente imaginar o que deve ser estar enterrado no fundo do oceano respirando em uma pequena bolsa de ar. Pois foi isso que ocorreu a |
O homem encontrava-se em um rebocador de tanques de petróleo (o AHT Jascon-4) da multinacional Chevron no Atlântico, sobre o delta do Níger. A embarcação tinha uma tripulação de 12 pessoas e dirigia-se através das turbulentas e agitadas águas da costa da Nigéria. Ainda que este detalhe segue sem estar suficientemente esclarecido, tudo parece indicar que uma grande onda rompeu a corda do reboque que acabou virando.
Como dizíamos, Harrison estava no banheiro quando ocorreu o incidente e o barco começou a afundar. A maioria dos membros da tripulação estavam em seus camarotes, uma medida de segurança necessária contra os piratas que regularmente saqueiam e sequestram navios nessa zona. No entanto, naquele dia a medida de segurança selou a condenação dos demais membros da tripulação. Morreram todos.
Mas não a de Harrison. Na escuridão da madrugada o homem foi jogado do banheiro deixando-o unicamente de cuecas. Como diria mais tarde:
- "Estava aturdido, tudo estava escuro quando fui jogado de um extremo do pequeno cubículo ao outro."
A água fluiu e arrastou-o pelas entranhas do barco até que se encontrou no banheiro da cabine de um oficial. Passaram minutos, talvez mais, até que o barco se estabeleceu no fundo do oceano. Então a água deixou de subir.
O que ocorreu a partir de então dá para um filme de suspense e medo asfixiante, quase tanto como a cena que viveu o homem. Durante as 60 horas seguintes Harrison escutou os sons das criaturas do oceano que atravessavam a nave com o resto da tripulação morta.
Ele encontrou uma pequena bolha, uma bolsa de ar que ia ser sua cruz e salvação. Com ela pôde fazer frente a um local cada vez mais frio e úmido, a um fornecimento a cada vez mais falho de oxigênio. Quase nu, sem comida, sem água e sem luz.
Isto, não é necessário dizer, é o pior dos pesadelos. Mas o incrível desta história é que Harrison sobreviveu a seu calvário subaquático o tempo suficiente para ser resgatado. Como demônios conseguiu sobreviver tanto tempo em uma bolha?
A bolha e a física na vida de Harrison.
A primeira coisa que a maioria pensou e muitos físicos se puseram a estudar é o tamanho que devia ter uma bolha para poder sustentar uma pessoa com ar respirável. Entre outros, o físico Maxim Umansky, do Lawrence Livermore National Laboratory.
A bolsa de ar que Harrison encontrou foi, segundo sua estimativa, de apenas 1,2 metros de altura, e os seres humanos inalam aproximadamente entre sete mil e oito mil litros de ar a cada 24 horas. Desta forma, Umansky começou a realizar seus próprios cálculos para quantificar os fatores responsáveis da sobrevivência de Harrison, estimando que a bolsa de ar de Harrison tinha sido comprimida por um fator de quatro.
Segundo o físico, provavelmente a bolsa de ar a pressão continha o suficiente oxigênio para manter a Harrison vivo durante os quase três dias que esteve aí. Mesmo assim, existe um perigo adicional: o dióxido de carbono (CO2), que é letal para os seres humanos em concentrações muito pequenas.
O medo da asfixia.
Se você for fã dos filmes de terror certamente já notou como funciona a asfixia nas vítimas enterradas vivas. O dióxido de carbono representa aproximadamente 0,03 % do ar normal. No entanto, se alguém estiver preso em um espaço fechado exalando CO2 com cada respiração, a proporção de oxigênio diminui constantemente enquanto o nível de dióxido de carbono aumenta.
É o CO2, não a falta de oxigênio, o que em última instância mata uma pessoa. Uma vez que o ar atinge ao redor de 5% de CO2, a vítima fica confusa e entra em pânico, começa a hiperventilar e eventualmente perde o a consciência. A morte é o que segue. Pensemos que em um caixão fechado uma pessoa pode produzir níveis mortais de dióxido de carbono dentro de duas horas mais ou menos.
O curioso é que Harrison não se asfixiou apesar de estar preso em um espaço pequeno e selado durante 60 horas. Como isto foi possível?
Neste caso acham que a água que encapsulou sua bolha de ar pôde ter tido um papel em sua sobrevivência. O dióxido de carbono, mais que o oxigênio ou o nitrogênio, se dissolve facilmente na água, especialmente em água fria. A velocidade à que isto ocorre segue a lei de Henry, uma regra da física que estabelece que a solubilidade do gás em um líquido é proporcional à pressão do gás sobre o líquido.
Quando Harrison respirou, exalou dióxido de carbono, e os níveis do gás se acumularam lentamente em sua diminuta câmera de ar. No entanto, o dióxido de carbono também é absorvido pela água, e ao salpicar a água dentro de sua bolsa de ar Harrison aumentou inadvertidamente a superfície da água, aumentando assim a absorção de CO2 e mantendo os níveis do gás abaixo do nível mortal de 5%.
O frio de Harrison.
O vídeo mostra-nos o momento do resgate do cozinheiro. É tremendo e recorda outro perigo que ele teve que passar: a hipotermia. Esta ocorre quando a temperatura central de uma pessoa cai a 35 graus ou menos. A hipotermia pode resultar em uma confusão, transtornos do movimento, amnesia e em casos severos, comportamentos incomuns onde uma pessoa luta para encontrar um pequeno refúgio fechado, não muito diferente de um animal hibernando.
A morte pode resultar de hipotermia extrema. Mas uma vez mais, a sorte estava do lado de Harrison. Ele foi capaz de se colocar sobre uma pequena plataforma com um colchão justamente acima do nível da água. Se seu corpo tivesse ficado exposto à água fria do oceano, Harrison teria morrido em poucas horas. Segundo Umansky:
- "Este homem teve a sorte de sobreviver principalmente porque uma quantidade suficientemente grande de ar preso estava em sua bolsa de ar. Não foi envenenado pelo CO2 após 60 horas que passou ali porque se manteve em níveis seguros, e podemos especular que foi ajudado pela água do oceano selando seu recinto."
É possível que odisseia que Harrison Okene passou seja uma dessas situações próximas ao que muitos chamam de milagre, uma aventura que dificilmente poderá ser repetida, já que se têm que somar muitos elementos a seu favor. A física neste caso teve um papel fascinante e fundamental.
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Comentários
Sabem a profundidade que ele ficou? acredito que isso também foi um fator determinante para sua sobrevivência.