Sabe aquele amigo que fala com as mãos e não consegue emitir qualquer opinião sem tocar seu interlocutor a cada certo tempo? Pois é! Pode parecer ou não inacreditável, mas a verdade é que o contato corporal não é recebido da mesma maneira por todas as pessoas. Em alguns casos, esta diferença origina-se na cultura: como é sabido, algumas sociedades são mais reservadas que outras, enquanto em algumas o corpo é um protagonista de todo tipo de intercâmbio social. De qualquer forma, se você odeia ser abraçado, o mundo pode ser um lugar desafiador. |
O contexto cultural poderia não ser a única causa que explique as formas tão variadas em que uma pessoa se expressa através do corpo e, mais particularmente, a dificuldade ou o franco incômodo que uma pessoa pode sentir ao ser tocado espontaneamente por alguém mais, inclusive quando se trata de um contato afetuoso ou amistoso. Há quem experimente certo desconforto quando recebe um abraço, inclusive se vem de alguém confiável ou amado.
Este peculiar fenômeno foi explicado por um estudo realizado pelos pesquisadores suecos Lena M. Forsell e Jan A. Åström, que analisaram o fenômeno do abraço segundo expressão em diferentes culturas, bem como a história do gesto e seus efeitos em termos psicológicos e inclusive bioquímicos, para entender desde essa perspectiva todas as circunstâncias implícitas em algo aparentemente tão simples como a ação de abraçar ou tocar alguém.
Nessa análise, os pesquisadores notaram que a reação que uma pessoa tem em frente aos abraços está relacionada diretamente com o meio familiar onde cresceu. Nossa tendência a nos envolvermos em contato físico, seja abraçar, dar um tapinha nas costas ou ficar de "pegação" com os amigos, é muitas vezes um produto de nossas experiências iniciais.
Primeiramente, as crianças que crescem em famílias que não tem o costume de praticar as demonstrações de afeto mediante o corpo repetem esse mesmo padrão na sua vida adulta e inclusive com seus próprios filhos,sem levar em conta que os abraços são elementos importantes na educação emocional de uma criança.
Por outro lado há casos em que ocorre um fenômeno peculiar. Em vez de preservar dita conduta de reticência em frente ao contato corporal, as crianças que cresceram em dito contexto experimentam verdadeira "vontade" pelo toque e então se voltam para o extremo oposto, isto é, desenvolvem a necessidade de acompanhar toda mostra de afeto de algum gesto, desde um abraço até um tapinha no ombro ou algum outro gesto desse tipo.
Se você cresceu em uma família que sempre abraçou ou foi criada em um ambiente que não tinha contato, esses fatores podem deixar um impacto fisiológico duradouro. Isso se deve ao fato de que a falta de toques e contatos podem afetar um corpo em crescimento, gerando um nervo vago subdesenvolvido, um feixe de nervos que vai da medula espinhal até o abdômen, que, as pesquisas indicam, pode diminuir a capacidade das pessoas de serem íntimas ou compassivas, e pode levar a um sistema de ocitocina subdesenvolvido, as glândulas que liberam o hormônio oxitocina que pode ajudar os humanos a se relacionarem com outras pessoas.
Sem esse hormônio, pode ser mais difícil perceber pistas sociais e até ser mais sociável. Então, abraçar e tocar são incrivelmente importantes para os jovens, mesmo que você não goste particularmente deles como um adulto.
Problemas de auto-estima e corpo também podem desempenhar um papel na predileção dos abraços de alguém. As pessoas que estão mais abertas ao contato físico com os outros geralmente têm níveis mais altos de autoconfiança. Já as pessoas que têm níveis mais altos de ansiedade social, em geral, podem hesitar em se envolver em toques carinhosos com os outros, incluindo amigos.
Contudo, abraços podem fazer um bem danado. Em um estudo de 2015, pesquisadores da Universidade Carnegie Mellon analisaram os efeitos que abraços e outras formas de afeto podem ter sobre o sistema imunológico. Especificamente, os pesquisadores queriam saber se as pessoas que se sentiam amadas eram menos suscetíveis ao resfriado comum, e eram: 32% desse estímulo imunológico provinha dos efeitos atenuantes do abraço.
Embora ninguém deva se sentir obrigado a abraçar alguém, se quiser superar sua aversão ao abraço, tem que dar o primeiro... abraço. O desconforto temporário inicial pode dar forma ao alívio, gratidão, surpresa, aceitação e até mesmo ao arrependimento por ter se fechado de si mesmo por tanto tempo.
Ademais é necessário levar em conta que o ser humano é um animal social. Nossos antepassados sobreviveram graças à capacidade de formar comunidades e evoluíram também pela fortaleza que encontraram nessa comunhão. Sem dúvida, esse elemento também explica a necessidade de contato corporal que experimentamos ao longo de nossas vidas.
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Comentários
Não gosto de abraço e nem toques. Me sinto amada com outras demonstrações de carinho como sorrisos e brincadeiras. Não tenho autoestima baixa. Cada um é do seu jeito. Tenho aversão a toques
Muito interessante e explica um pouco de porque, por mais que anseie ser abraçada, me causa desconforto. Fui criada num lar onde qualquer demonstração de carinho físico era rechaçada imediatamente. Hoje, fico sem saber como lidar com as pessoas, me aproximar, tenho autoestima baixa e nenhum relacionamento, e fico desconfortável quando alguém me abraça (não sei como agir). Porém, em compensação, meu cachorrinho "sofre", pois chego em casa, espremo, aperto, coloco no colo, dou beijo e custo a soltar kkkkkk