Como os alunos do MIT ganharam milhões de dólares na loteria durante anos

Que faria se você fosse um superdotado da matemática? É possível que entre as respostas se inclua alguma maneira de ganhar dinheiro, de se tornar milionário. Pois foi isso o que ocorreu faz mais de 10 anos com um grupo de estudantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos, que encontraram uma fórmula para ganhar milhões de dólares na loteria do tipo mega-sena, mas com algumas regras um pouquinho diferentes.

Não foi a primeira vez que ocorreu um caso parecido. No final da década dos 70, mas mesma universidade privada formaram o conhecido como MIT Blackjack Team, um grupo de alunos e ex-alunos do próprio MIT e da universidade de Harvard que fizeram uso de sua capacidade nos cálculos e de técnicas para contar as cartas, técnicas que resultaram estratégias ganhadoras para vencer nos cassinos de todo mundo no Blackjack.

Uma história que ademais se liga com o livro que deu origem a esta curiosa equipe de estudantes das mais elitistas universidades. O livro seria "Beat the Dealer: A Winning Strategy for the Game of Twenty-One", escrito décadas atrás por Edward Thorp, professor do... adivinham? Sim, do MIT também. O caso é que este livro foi uma guia no começo para Bill Kaplan, um dos estudantes do MIT Blackjack Team. A história, como em outros casos similares, foi levada ao cinema em Hollywood sob o título de "Quebrando a Banca", de 2008.

Mas voltemos ano 2005... não era nem muito menos a primeira vez que alguns estudantes do MIT faziam uso de sua capacidade no cálculo para ganhar dinheiro no jogo. O curioso da história é que muitos anos depois o Estado descobriu o "golpe". Comecemos pelo princípio.

No começo de 2000 e enquanto realizavam uma pesquisa para um projeto, um grupo de estudantes do MIT encontrou a maneira de ganhar dinheiro de maneira relativamente fácil através do jogo da loteria de Massachusetts chamado Cash WinFall. Ao verificar as estatísticas, que não falhavam, descobriram que durante alguns poucos dias a cada três meses, o jogo permitia gerar dividendos.

Como? Devido à particularidade e as regras da própria loteria. O jogo era similar a nossa mega-sena, com o diferencial que quando não tinha um único ganhador o prêmio se acumulava até um máximo de 2 milhões, que era dividido nos prêmios menores, que se inflavam em comparação ao montante normal. Um exemplo: se um prêmio menor acertando 4 ou 5 números era de 2 ou 4 mil dólares, no caso do acumulado o bolão ascenderia a 20 ou 40 mil dólares.

O grupo estudou o processo chegaram a uma fórmula: se comprassem ao redor de 100.000 dólares em cartões estariam bem perto de conseguir o sucesso. Se comprassem 600.000 dólares em cartões certamente se asseguravam de ganhar em tono de 15% e 20% de volta sobre o investido, ou seja receberiam em torno de 690 e 720.

Assim, quando o acumulado principal chegava ao topo dos 2 milhões de dólares, os estudantes punham em marcha o plano comprando todos os cartões possíveis, cujos rendimentos eram repartidos entre todos. O que ocorreu a partir daqui é fácil de imaginar: cada centavo e dólar que entrava era jogado de novo na seguinte loteria, uma mecânica que não só lhes gerou muito dinheiro, deixaram suas carreiras e o tornaram em seu modo de vida chegando a atrair investidores, que lhes forneciam o dinheiro necessário para pôr em jogo a técnica e engordar os números dos ganhos.

A explicação para que acertassem tanto pode ser encontrada na probabilidade matemática. Por exemplo, a chance de uma pessoas ganhar na mega-sena jogando apenas um bilhete de seis números é de 1 em 50 milhões. Já a chance de acertar a quina na mega-sena é de 1 em 154 mil e a quadra é de 1 em 2.300. Como apostavam dezenas de milhares de cartões suas chances de acertar na quina e quadra eram substancialmente maiores, contando com a vantagem de que os prêmios acumulados também eram.

Em 2005 o grupo já tinha conseguido 8 milhões de dólares com seu sistema, e 5 anos depois, em 2010, tinham descoberto a maneira de ganhar o acumulado principal -os 2 milhões de dólares- em apenas uma tentativa. Finalmente dois anos depois, em 2012, os estudantes tiveram que parar com este lucrativo sistema.

Uma investigação realizada por jornalistas do diário Boston Globe revelou o esquema praticado por estes jovens durante vários anos. Não só isso, o jornal descobriu também que o próprio Estado, com a loteria de Massachusetts em primeiro lugar, tinha conhecimento do que estava ocorrendo desde o princípio. Afinal, parece lógico detectar um grupo que se dedicava sistematicamente à compra de centenas de milhares de cartões, mas para que iam bastar com isso se continuava gerando dividendos para o próprio estado?

A reportagem x9 do Globe também revelaria que havia outro grupo praticando o "golpe": uma empresa chamada G.S. Investment Strategies, propriedade de um casal de aposentados, Jerry e Marge Selbee, cuja história nós contamos no MDig ontem.

Se você leu a história sabe que o Estado de Massachusetts iniciou uma investigação que não deu em nada, pois o próprio estado sabia do esquema e os apostadores não estavam fazendo nada à margem da lei. Ao não existir nenhum tipo de armadilha, manipulação ou ilegalidade, e sem a implicação de nenhum dos vendedores da lotéricas, os estudantes e o casal estavam livres de qualquer acusação.

Até então, os apostadores podiam comprar quantos cartões quisessem, mas a partir daquele mesmo ano mudaram as leis do Cash WinFall limitando o número de cartelas que uma mesma pessoa podia comprar. Acabou o esquema!