A comunidade de San Basilio de Palenque, localizada no Departamento de Bolívar, na Colômbia, ainda comemora a lembrança de seu passado e a manifestação contundente de sua liberdade através das famosas tranças. Seu significado vai para além do cultural ou do belo enfeite de cabeça, nelas contam a história das rotas de fuga para os escravos. Ocorreu que as escravas africanas na Colômbia usavam suas tranças como mapas para indicar rotas de fuga. Ativistas recuperam hoje estes penteados para incutir nas suas descendentes o orgulho de serem negras. |
A socióloga Lina María Vargas Alvarez com em seu livro "Poética do peinado afrocolombiano", de 2003, a história da colônia e o período de escravatura no Atlântico, quando milhões de africanos foram separados violentamente de seus lares e enviados a trabalhar nas minas e fazendas de seus amos espanhóis.
As mulheres, cada vez que saíam para trabalhar, observavam o entorno e no fim de tarde, se reuniam nos pátios e ali penteavam as suas pequenas. Em suas cabeças desenhavam mapas cheios de trilhas e rotas de escape, localizando atalhos, árvores, áreas arborizadas, rios e montanhas.
Estes penteados se tornaram verdadeiros mapas de rotas de fugas que permitiam aos escravos fugirem para os palenques. Na Colômbia, os palenques eram as fortalezas de difícil acesso para onde os escravos fugiam, equivalentes aos quilombos brasileiros, onde os ex-escravos africanos e afrodescendentes conservavam seus costumes e tradições, que com a chegada da abolição se tornaram povoados.
Com o tempo, as tranças adquiriram alguns códigos com significados implícitos. Por exemplo, se o terreno era muito pantanoso, os pequenos nós sobre o couro cabeludo eram tecidos como ranhuras. Através de pequenos laços, nós e trançados as mulheres marcavam os pontos da paisagem: uma árvore, um caminho, uma plantação.
Os mapas começavam na testa e iam se estendendo até a nuca para revelar com certa riqueza de detalhes -para quem conhecia os códigos- onde estavam os postos com capitães do mato, assinalavam rios, caminhos, montanhas, pontes, árvores mais altas, fazendas ou lugares de armazenamento de grãos ou de armas. As tranças serviam também para estabelecer lugares de encontro.
Quando os homens por fim viam os elaborados penteados podiam saber que rota de fuga escolher. Como o código era conhecido somente pelos escravos e os "senhores" de escravos nunca notaram, isso permitiu a muitos deles lerem os mapas e abraçarem a liberdade.
Ao que parece a ideia das tranças foi de um líder de escravos chamado Benkos Biohó; Capturado como rei na África, tão logo pôde fugiu da escravatura e criou um palenque. Ali teve a ideia de pedir a uma mulher que criasse mapas e inclusive enviasse mensagens através de suas tranças para propiciar informação da localização do refúgio a mais escravos. Outra iniciativa de Biohó foi alentar às mulheres para que usassem sementes no enfeite de seus cabelos, as quais foram usadas depois para que os escravos libertados cultivassem seus próprios campos agrícolas.
Hoje em dia as comunidades negras do pacífico seguem com a tradição dos penteados africanos e, ainda que os símbolos já não representem rotas de fuga, os desenhos seguem iguais a como foram feitos há 500 anos quando ajudaram muitas pessoas a encontrar sua devida e sonhada liberdade.
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