Como cozinhar um frango a bofetadas, segundo a ciência

Faz um ano alguém fez a seguinte pergunta no Reddit: - - "Se a energia cinética converte-se em energia térmica, quão forte tenho que bater em um frango para que cozinhe?" A questão passou despercebida durante um tempo, mas recentemente se tornou o centro de um debate épico. Não é a primeira vez que fazem perguntas estúpidas na internet, mas até com as mais estúpidas podemos aprender coisas, sobretudo se nos conduzem a exóticos cálculos de termodinâmica.

Depois de várias respostas, o físico Parker Ormonde realizou os cálculos necessários para contestar a referida pergunta, via Facebook:

- "A fórmula para converter energia cinética em energia térmica é ½mv²=mcT. A mão de um ser humano pesa em média 400 gramas, enquanto uma bofetada normal tem uma velocidade de 11 metros por segundo", explicou Parker, enquanto acrescentou: - "Um frango cru para assar costuma pesar em torno de um quilo e tem uma capacidade calorífica específica de 2.720 joules por quilo. Assumamos que para ser assado há que elevar sua temperatura a 205 °C, e que partimos de uma temperatura de zero graus Celsius."

Depois de aplicar os correspondentes cálculos e conversões, Ormonde concluiu que para cozinhar um frango a base do tapa deveríamos executar uma única bofetada a uma velocidade de 1.665 metros por segundo (uns 5.996 quilômetros por hora).

A solução, por suposto, não foi do gosto de todos. Logo surgiu uma objeção muito lógica: assumindo que possamos esbofetear um frango cru a essa velocidade, não só o cozinharíamos, senão que desintegraríamos completamente sua estrutura em forma de uma violenta explosão.

Útil para fazer coxinhas, mas não tão útil para preparar frango assado. Isso por não mencionar que se falarmos de um humano normal, o impacto provavelmente também desintegraria a mão e não poderíamos amassar as coxinhas com o punho. O artista Aden encarregou-se de visualizar a solução (e os problemas que causa) nesta conveniente simulação.

A alternativa mais razoável é estapear repetidamente ao frango até incrementar sua temperatura sem desatar explosões. Lamentavelmente, a energia calorífica que se obtém mediante um tapa é pequena, e o que é pior, o tempo que demoramos entre uma bofetada e outra se traduz em um leve esfriamento. Parker estima que uma bofetada produz ao redor de 0,0089 °C, pelo qual seria necessário bater ininterruptamente no frango uma média de 23.034 vezes (algo mais se você gosta de carne passada).

Uma possível solução seria fabricar uma máquina de esbofetear frangos, e isso é precisamente o que fez o youtuber Louis Weisz. Sua notável criação alimentada por um motor de gasolina conseguiu elevar ligeiramente a temperatura do frango. O vídeo do experimento, não obstante, é bem legal.

O pior do assunto é que a questão nem sequer é nova. Em 1987, uma equipe de cientistas da Universidade de Ohio que supomos tinha muito tempo livre se fez a mesma pergunta. Em vez de um frango, os físicos propuseram a questão com um enorme peru. Intrigados subiram a um décimo andar e jogaram-no contra o asfalto, processo que repetiram 72 vezes em seis horas.

Extrapolando as mudanças de temperatura experimentados no peru, seu estudo concluiu que seria necessário jogar o peru durante 46 horas seguidas para conseguir cozinhá-lo. Provavelmente o forno continue sendo a melhor solução.