Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos colocaram milhares e milhares de seus próprios cidadãos em campos de concentração. O internamento de nipo-americanos durante a guerra é um evento histórico bem conhecido, e também excepcionalmente bem documentado, não apenas no sentido de ter sido documentado copiosamente, mas também com poder e arte excepcionais. Muito disso se deve à astuta observadora fotográfica do início do século 20, Dorothea Lange, que já havia sido aclamada por sua icônica foto da "mãe migrante que simboliza a Grande Depressão. |
Em 1941, Dorothea abandonou a Bolsa Guggenheim para se juntar a outra organização governamental, a Autoridade de Realocação de Guerra (WRA por suas siglas em inglês), e voltar suas lentes para os internos.
- "Após o bombardeio do Japão à base da Marinha dos EUA em Pearl Harbor, um ataque surpresa que deixou mais de 2.000 americanos mortos, os nipo-americanos tornaram-se alvos de violência e aumento da suspeita", diz o narrador do vídeo abaixo, que tem legendas em inglês.
Temendo o surgimento de uma "quinta coluna", o governo organizou a realocação de 120.000 nipo-americanos que viviam na costa oeste em campos remotos,como já documentamos através de fotografias da própria Dorothea Lange no artigo "Cenas comoventes de nipo-americanos sendo levados para campos de concentração em 1942".
- "O governo Roosevelt queria enquadrar a remoção como ordeira, humana e, acima de tudo, necessária." Daí a criação da WRA, um departamento encarregado de cuidar da remoção, e, mais importante, documentá-la, por meio de filmes de propaganda, panfletos e fotos de notícias.
O projeto dificilmente poderia ter feito uma contratação mais prestigiosa do que Dorothea, que começou a fotografar as rápidas mudanças acontecendo nas comunidades nipo-americanas, incluindo fazendas de propriedade de japoneses e empresas fechando. Seu trabalho capturou os dias finais, até mesmo horas, de uma sociedade multigeracional estabelecida prestes a ser desmantelada pela evacuação em massa.
O Exército desaprovou a narrativa criada pelas fotos espontâneas de Dorothea, muitas das quais foram apreendidas. As imagens ofensivas mostravam soldados americanos armados supervisionando o processo de remoção, prisões temporárias usadas enquanto os campos de concentração eram construídos, filas de alimentos nos centros de montagem e nipo-americanos em uniformes militares dos EUA.
Ao liberar Dorothea do programa depois de apenas quatro meses, a WRA manteve a maioria de suas fotos fora dos olhos do público. Ficaram de fora até uma série de exposições na década de 1970, que revelaram a verdadeira natureza dos campos de concentração.
Esse termo, "campo de concentração", está mais associado ao Holocausto, a cuja pura destruição da humanidade o internamento nipo-americano não pode, é claro, ser comparado. Mas, como mostram as fotografias de Dorothea, apenas ter uma posição moral elevada sobre a Alemanha nazista não é nada para se gabar.
Dois anos mais tarde a WRA contratou o lendário fotógrafo Ansel Adams para documentar a vida no Realocação de Guerra de Manzanar, por onde passaram mais de 11 mil nipo-americanos, muitos indignados pelo questionamento de seu patriotismo, simplesmente por causa de sua herança étnica. Apesar das dificuldades, os internos gradualmente transformaram o campo de concentração em uma comunidade produtiva e autossuficiente.
Os militares também não gostaram do tratamento dado por Ansel às fotos, que também foram retidas e liberadas apenas em meados da década de 70. Você pode ver quase todas elas no artigo Como era a vida no campo de concentração americano para japoneses de Manzanar.
Em 1988, o Congresso aprovou uma lei que se desculpava pelo "preconceito étnico, histeria de guerra e falha de liderança política com o povo americano de origem nipônica" que causou as internações e estabeleceu um pagamento de indenizações às vítimas. Os sobreviventes e herdeiros acabaram recebendo US$ 1,6 bilhões como compensação por sua internação inconstitucional.
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