Um friso de estuque monumental saqueado do local maia clássico tardio de Los Placeres, nas selvas de Campeche, no México, está no estágio final de uma restauração de quatro anos que visa devolvê-lo à condição em que estava antes de ser saqueado. Feito entre 450 e 600 d.C., o friso apresenta uma máscara central representando um jovem governante guardado de cada lado por dois homens idosos deificados, provavelmente representando ancestrais, estendendo-se ao poder e virilidade do governante. |
Foi pintado de forma vívida e grande parte da pintura policromada permaneceu quando foi saqueada em 1968. A pilhagem do Friso de Placeres foi uma das operações de saque e tráfico mais descaradas de todos os tempos, se não a mais.
Tudo começou com um negociante de arte em Nova York, Everett Rassiga. Ex-piloto da Força Aérea dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, o traficante ouviu falar da fachada escondida na selva e organizou uma equipe para saqueá-la. Seu homem no terreno era Lee Moore, um colecionador de orquídeas que viajou extensivamente pela América Central em busca de sua obsessão.
Mas o contrabando de um friso de estuque com mais de 8 metros de comprimento e 2,5 metros de altura que está preso a um templo há 1.500 anos é muito mais complexo do que contrabandear uma planta rara. Você não pode simplesmente caminhar pela selva com ele na mochila. Para este trabalho, os saqueadores tiveram que limpar um trecho de selva e criar uma pista de pouso para possibilitar o transporte do enorme friso para fora do país.
Uma equipe de saques foi enviada ao sítio arqueológico de Placeres, então completamente dominado pelo crescimento da selva. Eles limparam a fachada de matéria vegetal, revestiram-na com um gesso de polímero, para evitar que a superfície se desintegrasse, depois a cortaram do templo com serras de madeira.
Sabemos tudo isso porque toda a operação foi fotografada em detalhes. Isso mesmo. Eles documentaram meticulosamente sua destruição ilegal e roubo de um antigo sítio arqueológico. Ver fotos de 4 a 9.
Os saqueadores cortaram o friso em 48 pedaços e embarcaram em um avião com destino a Miami. Seu destino final era a cidade de Nova York, onde seria colocado à venda no Museu Metropolitano de Arte, que estava preparando uma grande exposição de arte pré-hispânica. O preço combinado era de US$ 400.000.
O MoMA decidiu esconder o friso por um tempo, então a fachada foi guardada no porão até o final de 1968, quando um dos curadores do museu rejeitou a oferta horrorizado com a brutalidade do roubo do friso. Ele entrou em contato com o Museu Nacional de Antropologia do México e juntos planejaram uma farsa para pegar o traficante Everett.
Em um confronto direto, os diretores de ambos os museus exigiram que o friso fosse devolvido ao México. Everett ainda tentou sair dessa mostrando que seu descaramento era mais maiúsculo do que imaginavam.
Ele realmente se atreveu a pedir que pelo menos lhe pagassem US$ 80.000 para reembolsá-lo pelas despesas que incorreu na construção de um aeródromo, brutalizando um monumento antigo e removendo-o ilegalmente do país. Eles riram na cara dele, é claro, e finalmente ele desistiu. O friso foi devolvido ao México. Nem o traficante, nem o colecionador de orquídeas nem qualquer membro da equipe de demolição foram punidos.
O friso está no Museu Mexicano de Antropologia desde então. Em 2018, os conservadores embarcaram em uma restauração abrangente do friso com o objetivo de devolvê-lo à condição desgastada, mas ainda ricamente colorida, em que estava antes de ser gatunado.
Ao longo dos anos, desenvolveu um tom geral avermelhado e os sais se acumularam estragando a superfície. Especialistas identificaram os pigmentos na pintura policromada: óxidos de ferro para os vermelhos, negro de fumo para as pupilas, cal branca para outros detalhes. Essas informações ajudaram os conservadores a direcionar os elementos indesejados para remoção sem danificar o pigmento original.
A fase seguinte de restauração visava estabilizar o friso que ainda se encontrava montado na estrutura metálica que foi trabalhada para sustentá-lo quando foi repatriado em 1969.
Com base em cálculos tridimensionais e volumétricos, soldaram uma nova estrutura que suporta cada fragmento com pelo menos quatro suportes, de modo que as duas toneladas que pesam o relevo repousam sobre uma estrutura estável.
Uma vantagem da nova estrutura é seu caráter móvel, que facilitará a manutenção da peça e promoverá o rearranjo temporário do conjunto para instalações museológicas.
Já estável, a peça passou por uma limpeza abrangente, que exigiu dois anos de trabalho, entre 2020 e 2021, para a retirada total do polímero usando produtos criados no museu.
A conservação está sendo feita à vista do público na Sala Maia do museu. A previsão é que seja concluído até dezembro deste ano.
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