Por que os cachimbos esculpidos em sepiolita são tão caros?

Conta a história que, em 1723, marinheiros alemães viram um pedaço de um material branco flutuando na água e o chamaram sugestivamente de "meerschaum", tradução literal para "espuma-do-mar", daí o nome comum atual. Aí nasceu a confusão toda: não existe a tal "espuma-do-mar", senão que a sepiolita, um tipo de argila composta naturalmente por magnésio e hidrossilicato. Os marinheiros usaram o material para fazer um cachimbo, que rapidamente se tornou valorizado como o material perfeito para fornecer uma fumaça fresca, seca e saborosa.

Devido à natureza porosa da sepiolita, a umidade e o alcatrão do tabaco são atraídos profundamente para dentro da pedra. A sepiolita pode ser encontrada em muitos lugares ao redor do mundo, mas a pedra de mais alta qualidade, o meerschaum mais puro, é obtido principalmente da planície de Eskişehir na Turquia.

Meerschaum é uma das substâncias mais naturalmente porosas do mundo, o que o torna perfeito para cachimbos, pois acaba absorvendo os alcatrões, óleos e nicotina do tabaco -como se fosse um filtro do cigarro-, características muito apreciada pela a maioria de fumantes.

Por ser uma argila de ocorrência natural, combinada com sua natureza porosa, a sepiolita também é um dos materiais mais resistentes ao calor, capaz de suportar até 2.000 graus Celsius.

Uma coisa incrível sobre o meerschaum é como ele seca sem perder tamanho ou encolher. Isso é tremendamente importante para os cachimbos devido à umidade que absorvem enquanto o fumo é queimado.

O meerschaum tornou-se um substituto de luxo para os cachimbos de barro da época e continua sendo valorizado até hoje, embora desde meados do século XIX os cachimbos de madeira de betouro tenham se tornado os mais comuns e mais baratos. O uso de betouro reduziu bastante a demanda por cachimbos de barro e, em menor grau, pelos de sepiolita. Com efeito, as qualidades de ambos foram combinadas, revestindo os cachimbos de betouro com tigelas de o meerschaum.

Os produtos esculpidos de sepiolita turca eram tradicionalmente feitos em centros de fabricação como Viena. Desde a década de 1970, porém, a Turquia proibiu a exportação de nódulos do material, tentando estabelecer uma indústria local e o preço disparou. Os fabricantes de cachimbo outrora famosos desapareceram e os produtores europeus de cachimbos recorreram a outras fontes para seus cachimbos como o betouro, gesso de Paris e estevensita, entre outros.

A sepiolita é usada na arte e decoração há milênios. Achados arqueológicos descobriram que foi usada para decorar pisos no início da Idade do Bronze há quase 5.000 anos, e até mesmo foi encontrado um selo no túmulo de uma criança que remonta a 3.700 anos atrás.

A facilidade de esculpir a rocha é outra razão pela qual veremos o incrível trabalho que é feito nos cachimbos de hoje. O que pode encarecê-los ainda mais

Os escultores passam anos dominando seu ofício, levando a verdadeiras obras de arte. É possível esculpir uma tigela com a forma de uma pessoa famosa, um animal ou qualquer design que se possa imaginar.

Uma vez seco, o meerschaum é difícil de trabalhar. O truque que os artistas usam é submergir a argila na água. Por ser tão porosa, absorve a água e fica muito mais maleável e fácil de esculpir.

Tudo isso faz com que os cachimbos de sepiolita estejam entre os mais caros do mundo. Enquanto alguns cachimbos de betouro ou bétula custam menos de 50 reais, os cachimbos turcos mais simples podem custar 20 vezes mais. Os mais intrincados podem custar mais de 35 mil reais.

Como o meerschaum é um mineral muito poroso, que absorve elementos do tabaco durante o processo de defumação, gradualmente muda de cor para um marrom dourado. Assim, cachimbos velhos e bem defumados são ainda mais valorizados por colecionadores por sua coloração distinta e acabam sendo vendidos em casas de leilões famosas por dezenas de milhares de dólares.

Os cachimbos também podem ser feitos com o pó da sepiolita coletado após a escultura, misturado com um aglutinante e depois prensado em forma de cachimbo. Estes últimos são muito menos absorventes, cheio de manchas e os fumantes de tabaco dizem que é pior que o cachimbo feito de espiga de milho.