Ken teria tido muito mais "protuberância" se a criadora da Barbie conseguisse o que queria. Ruth Handler, que apresentou a boneca de plástico ao mundo em 1959, queria dar um namorado à Barbie. Então, dois anos depois, a Mattel começou a vender o Ken, batizado em homenagem ao filho de Ruth, Kenneth. - "Quando começamos a projetar Ken, senti que ele precisava do que todos nos referíamos naquela época como 'protuberância'", escreveu Ruth em sua autobiografia "Um Sonho de Boneca", que foi publicada em 1994. |
- "Tanto a equipe de design masculino quanto a de marketing, no entanto, discordaram, então a virilha do primeiro boneco Ken era tão lisa quanto a da Barbie", explicou Ruth.
Ruth se via à frente de seu tempo, argumentando que deveria haver pelo menos uma protuberância que sugerisse realismo. Cy Schneider, um executivo de publicidade da Mattel, disse que os funcionários da empresa não tinham certeza de "quão explícito" podia ser.
Eles temiam que adicionar genitália pudesse fazer com que algumas mães se opusessem, mas omiti-la poderia fazer com que as bonecas parecessem "algum herói ferido de Hemingway".
Ao projetar as bonecas da marca Barbie, a Mattel consultou Ernest Dichter, psicólogo e especialista em marketing com especialização em conceitos psicanalíticos freudianos. Ele apontou que o principal modo de brincadeira para as bonecas Barbie e Ken era vesti-las e despi-las. Ele questionou se as crianças entenderiam que Ken era um namorado ou compreenderiam o que um namorado realmente era.
Dizem que uma tempestade se abateu na Mattel, com Ruth e a designer de roupas da Barbie Charlotte Johnson lutando por um boneco com uma virilha perceptível e os outros executivos lutando contra isso.
- "Mas até querubim de igreja tem pipi. Qual é o problema de vocês?" disse Ruth em uma das recorrentes e intermináveis reuniões sobre o "saco" do Ken. O chefe da seção de design, muito religioso, disse que o "pipi" dos anjos eram sagrados. Ruth riu resignada.
Depois que um boneco com a mesma virilha completamente lisa da Barbie foi vetado por Ruth e Charlotte, três novas versões foram esculpidas com vários graus de saliências. Os homens, especialmente um dos vice-presidentes, ficaram terrivelmente envergonhados. Depois que Ruth escolheu o do meio, o vice-presidente disse que ele nunca o colocaria na linha de brinquedos, a menos que pintasse cuecas.
Ruth sentiu que faltava 'coragem' à equipe de design para dar ao boneco Ken até mesmo a sugestão de órgãos sexuais masculinos. Apesar de encomendar protótipos com vários graus de protuberância na virilha, os designers resistiram a tudo, exceto ao menor indício de um pênis.
Ruth, de fato, nunca quis um Ken com um pênis explícito, mas achava estranho que o Ken tivesse praticamente o mesmo corpo da Barbie, sem os peitinhos -o que tornava os seis da Barbie socialmente aceitáveis era que não tinha mamilos-. Então todos chegaram à conclusão de que ele deveria ter um short pintado de forma permanente. Mas Ruth discordou:
- "Sabe o que toda garotinha deste país vai fazer?. Elas vão sentar lá e arranhar a tinta para ver o que há embaixo dela. O que mais elas fariam?", disse Ruth.
No final das contas, os diretores da Mattel concordaram "relutantemente" e decidiram dar uma protuberância para o Ken. Mas isso acabou não ocorrendo porque durante o processo de fabricação do boneco no Japão, um dos supervisores de engenharia determinou que a moldagem dos shorts era muito difícil e que a protuberância adicionava cerca de dois centavos de plástico ao produto, então ele eliminou ambos arbitrariamente.
Assim, o primeiro Ken a ser lançado no mercado veio com uma virilha bastante suavizada que contrastava com suas nádegas claramente definidas. Suas duas pernas foram criadas como peças separadas e móveis. Nenhuma cueca foi pintada, mas ele veio com um pequeno calção de banho vermelho para cobrir sua (in)dignidade. A primeira Barbie à venda também veio com roupa de banho: um maiô listrado de zebra.
Ken evoluiu ao longo desses anos. No final dos anos 60, ele adquiriu uma constituição mais atraente, um rosto mais bonito, cabelos mais longos e um tom de pele mais saudável. Desde então, dezenas de reencarnações do boneco foram lançados. Versões recentes incluíram cabelos longos, diferentes tipos de corpo e tons de pele variados.
O ex-executivo de publicidade Harvey Rosenberg não teve tanto pudor assim quando em 1977 criou e comercializou através de sua empresa, Gizmo, um boneco que causou polêmica e muita celeuma na época: Bob, o primeira boneco do mundo assumidamente gay.
Se por um lado o boneco causou uma sensação, por outro consumidores enfurecidos reclamaram que o brinquedo poderia perverter as crianças da América. Um grupo de lobby chamado Proteção das Crianças Americanas chegou a publicar uma declaração no jornal News-Press: Fort Myers, da Flórida, que Bob era "um estilo de morte para o povo americano", que inevitavelmente colocaria outros exemplos como ele no mercado.
Bob, que era anatomicamente correto e bem dotado, vendeu pelo menos 5.000 cópias nos primeiros dois meses, foi o centro de batalhas políticas. Não foi um verdadeiro ponto de conflito por si só, mas serviu como um troféu bem-humorado -e um sinal de mudança dos tempos-.
A caixa do Bob tinha a forma de um "armário" e incluía um catálogo onde os consumidores podiam comprar acessórios e roupas adicionais. Harvey descreveu o boneco como um cruzamento entre Paul Newman e Robert Redford. Por essas e outras, Bob recebeu o prêmio de Mérito Duvidoso da revista Esquire em 1978.
Inicialmente vendido por meio de anúncios por correspondência em revistas com temática gay, Bob logo se expandiu para ser comercializado nas butiques de Nova York e São Francisco. Harvey até o apresentou a grandes redes de lojas de departamentos, uma das quais gostou da ideia, mas acabou não comprando.
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