O surpreendente espetáculo quase noturno da capital mundial do relâmpago

As condições meteorológicas extremas tornaram-se um tema de grande preocupação. As inundações, terremotos, tornados e tempestades catastróficas são o novo normal? Por um momento, vamos viajar para um lugar onde o clima extremo sempre foi a norma: o Lago Maracaibo, no noroeste da Venezuela. De acordo com o sensor de imagem de raios da Missão de Medição de Precipitação Tropical da NASA, ali encontramos a capital mundial dos raios, atribuído à geografia única e às condições climáticas próximas à confluência do lago com o rio Catatumbo.

À noite, o ar quente e úmido acima da água colide com a brisa fresca que desce dos Andes, criando uma média de 297 tempestades por ano. O local é mágico para qualquer amante da fotografia, mas a maioria deles aconselha a sempre manter uma distância segura da tempestade.

Embora visível a até 400 quilômetros de distância, a área mais próxima da atividade do fenômeno pode atingir uma média de 28 raios por minuto.

Mais de 400 anos atrás, o poeta espanhol Lope de Vega aproveitou o relâmpago de Catatumbo em seu poema épico de 1597, "La Dragontea", creditando-o, erroneamente, por ter frustrado os planos de Sir Francis Drake de conquistar a cidade de Maracaibo sob cobertura da noite. Sua licença poética foi persuasiva o suficiente para que ainda seja uma parte aceita do mito.

A "tempestade eterna" deu, no entanto, às forças navais venezuelanas uma assistência natural genuína, iluminando um esquadrão de navios espanhóis no lago Maracaibo, que eles derrotaram em 24 de julho de 1823, abrindo caminho para a independência.

O fenômeno meteorológico conhecido como raio Catatumbo, que se caracteriza pelo aparecimento de uma série de raios de forma quase contínua e praticamente silenciosa, ocorre em nuvens de grande desenvolvimento vertical que geram descargas elétricas entre 1 e 4 quilômetros de altura, e é o produto da combinação de alta umidade na superfície do lago, ventos recorrentes à tarde e um gradiente altitudinal acentuado entre a bacia do lago e as serras circundantes.

Era uma vez, um grande número de pescadores locais aproveitava sua posição privilegiada para pescar à noite, embora com o recente desmatamento, conflito político e declínio econômico dizimando as aldeias onde vivem em palafitas tradicionais, seu sustento está em declínio.

Enquanto isso, a própria Tempestade Eterna foi afetada por forças do clima extremo. Em 2010, uma seca ocasionada por um El Niño particularmente forte, fez com que as descargas atmosféricas cessassem por 6 semanas, seu desaparecimento mais longo em 104 anos.

Por isso, o governo venezuelano formulou uma proposta para torná-lo o primeiro fenômeno natural a ser incluído na lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO. Isso não seria apenas um resultado fantástico para os moradores da área, mas também para a Venezuela como um todo, atraindo mais turistas e caçadores de tempestades.

O registro geológico mostra que no passado foi um lago indiscutível e, como tal, o segundo mais antigo da Terra, datando entre 20 e 36 milhões de anos. Embora ligado ao mar de forma semelhante a uma lagoa, a sua enorme idade, a sua história geológica e a grande profundidade do Maracaibo diferenciam-no das verdadeiras lagoas, que têm uma história geológica moderna -com antiguidades de alguns milhares de anos- e uma profundidade rasa.