Quando o Galveston Daily News perguntou aos funcionários do Walmart sobre os itens de férias mais vendidos em 1989, eles obtiveram uma lista dos suspeitos de sempre: Nintendo Entertainment System; videocassetes; Game Boy; e aparelhos de fax. Mas o único item que realmente fascinava os compradores, disse um gerente de loja, era um aparelho de telefone fixo. Esses telefones compactos com botão de pressão tinham caixas de plástico translúcidas para que os usuários pudessem ver todos os componentes. Eles se iluminavam com leds em cores neon quando o telefone tocava. |
E por um período nas décadas de 1980 e 1990, eles foram a maneira preferida de pedir uma pizza, pregar peças em alguém ou chorar depois da sua paixão do colégio dizer que só queriam ser amigo.
Durante décadas, os telefones foram utilitários em propósito e aparência. Montados nas paredes da cozinha ou apoiados em mesas, eles geralmente eram pretos e praticamente sem enfeites. Isso se deveu em grande parte à AT&T, que detinha o monopólio da indústria de telefonia e via pouca necessidade de torná-los esteticamente mais agradáveis.
Mas as coisas mudaram no início dos anos 1980, após a intervenção do governo americano; a consequente desregulamentação da indústria telefônica significava que qualquer um poderia fazer um, e suas ideias eram muito mais ousadas do que os modelos enfadonhos oferecidos. Os telefones podiam ser divertidos ou kitsch. Melhor ainda, eles podiam se tornar algo que os adolescentes gostariam de receber como presente de aniversário ou feriado.
Tentar determinar a parte responsável pelo primeiro telefone transparente é uma tarefa formidável, embora aparentemente tenha levado algum tempo antes que a ideia ocorresse a alguém. Um guia do Los Angeles Times de 1988 alertava os leitores para conferir a Premiere Shop em Tomorrowland, que oferecia um "telefone transparente" por US$ 125, ou o equivalente a US$ 322 hoje (uns 1500 reais).
Mais tarde naquele ano, o Honolulu Advertiser mencionou que uma loja de presentes chamada Nothing You Need (But Everything You Want) oferecia um telefone transparente do fabricante Roxanne por US $ 300, ou quase US $ 800 hoje (3.800 reais). (A loja também vendia um colchão de ar movido a gasolina que supostamente podia se impulsionar sobre a água.)
Outro modelo era da BellSouth and Fun Products. Apelidado de Metrolight, ele apresentava um design "trimline" com botões no aparelho e podia ser montado na parede, o que é mais próximo do tipo de telefone transparente que as pessoas lembram.
Embora esses telefones tenham sido os primeiros a serem comercializados, provavelmente foi a Conair -sim, uma empresa de secadores de cabelo- que os trouxe para o mainstream. De acordo com um artigo do Capte de 2020, o executivo da Conair, Barry Haber, estava viajando quando se deparou com um telefone transparentes, embora ainda de aparência desajeitada. Barry acreditava que uma versão mais elegante com um preço mais acessível ao consumidor seria melhor. Ele estava certo: a empresa vendeu de 2 a 3 milhões de telefones nos cinco anos seguintes, com um preço de varejo típico de US$ 25, ou cerca de US$ 64 agora (300 reais), considerando a inflação.
Alguns puristas do telefone descartaram esses telefones transparentes como uma moda passageira, alegando que eles não tinham recursos úteis. Poucos, se algum, tinham secretárias eletrônicas ou vinham em versões sem fio. Mas realmente, esse era o ponto. As crianças eram o principal grupo demográfico para os telefones e realmente não precisavam de nada sofisticado. Os telefones eram vistos mais como uma decoração de quarto do que como um dispositivo eletrônico multifuncional.
O telefone transparente não foi o único dispositivo a sair do colapso da indústria de telefonia. Telefones em forma de Garfield, Snoopy, Mickey Mouse e hambúrgueres eram alternativas divertidas para aparelhos geralmente com campainhas bem barulhentas.
No Brasil o aparelho também virou moda entre os adolescentes, mas eram muito caros e poucos pais tinham condições suficientes para comprá-los. Isso mudou quando a RadioShack começou a vender seu aparelho com um preço mais módico. E mais tarde os camelódromos passaram a vender uma versão made in Paraguai, que não custava mais do que 50 reais. Mas a febre não demorou muito pois logo os primeiros celulares, que custavam uma fortuna, estavam disponíveis nas operadoras.
Como a maioria das tendências, os telefones transparentes perderam a novidade com o tempo e agora se tornaram objetos de interesse de colecionadores. Hoje, há apelos periódicos para a Apple fechar o círculo do fenômeno do telefone transparente e lançar um iPhone transparente. Um telefone Android, fabricado pela marca Nothing, vem com um chassi transparente.
A Apple ainda não atendeu a chamada. É mais provável que telefones transparentes sejam relegados à pilha de nostalgia, um lembrete do marketing de consumo em sua forma mais transparente.
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