Nascida de pais brancos, ultra conservadores e proselitistas do Apartheid, Sandra Laing herdou pela graça de Mendel e de longínquos antepassados, a pele negra de uma raça por sempre agravada. O pigmento silencioso de um ancestral desconhecido acordou no pior lugar e momento. Sandra nasceu negra, mas o ofuscamento e pressão familiar converteram-na em uma branca postiça até que a mentira apareceu. Esta é a fantástica e ridícula história da busca de uma identidade perdida dentro de um regime tão absurdo quanto irracional. |
Sandra Laing posa junto a seus pais Abraham e Sannie
Sandra Laing tem agora mais de 50 anos. O traço intenso de sua face mostra um passado difícil. Meio século lutando para encontrar um vão na mesma sociedade que pela manhã, no seio de uma família de fiéis "afrikaners", lhe dava de comer; enquanto pela tarde, tendo a pele como documentação, lhe impedia de circular livremente pelas ruas. Uma infância com duas identidades de direitos opostos que minaram sua confiança no sistema e ridicularizaram completamente as bases ideológicas do escuro regime.
- "Meu pai sempre me dizia que eu era branca. Ele pensava em mim como 'sua menina branca'". Sandra Laing
Sandra nasceu em 1955 em Piet Retief, epicentro do integrismo racial e afortunado lugar de bosques perenes e minas douradas. Contam as fontes familiares que a cara de seus pais ao recebê-la neste mundo foi épica. Duas árvores genealógicas mais brancas que o marfim africano polido atribuíam, pela graça de seu Deus branco, o castigo de uma menina de pele manchada, mas com sangue de seu mesmo sangue. Paradoxalmente o mesmo "princípio de segregação" que professavam em comunhão com a doutrina "afrikaner" foi o que determinou a cor da pele da menina:
Segunda Lei de Mendel ou Princípio da segregação: "Certos indivíduos são capazes de transmitir um caráter ainda que neles não se manifeste".
Seus progenitores (Abraham e Sannie) defendiam até morte a pureza de seus ancestrais; catalogação muito comum, por então, para atestar "alto pedigree" e a estirpe das pulcras linhagens. Mas um gene recessivo de alguma geração muito longínqua e não catalogada -com certeza por vergonha- passou a manifestar-se como justiceira nas mãos de uma inocente. Os olhos mostravam uma certeza que a razão anulava por desonra da impureza de sua casta. Um teste de DNA posterior confirmou a paternidade de Abraham e Sannie. Em 1967 o governo sul-africano, a pedido do pai de Sandra, aprovou uma lei que declarava brancos todos os filhos de pais brancos. Sandra Laing branca e a incoerência a serviço do racismo.
Sandra Laing com seu irmão e sua mãe e no colégio de brancos "Deborah Retief".
Os primeiros anos da infância de Sandra foram tão brancos como o expediente de seus progenitores no ritual burguês ultra conservador. Colégio e costumes de brancos salpicados de doutrinamento anti-subversivo na Igreja Reformista Holandesa. A cor da pele e cabelo pixaim eram obviados com dissímulo ignorante por seu progenitor, mas não acontecia o mesmo com os estranhos. Sempre que podia, sua mãe não deixava-a tomar sol para não reforçar ainda mais sua cor natural enquanto penteava seus cabelos diariamente com cremes oleosos numa luta alisadora impossível em épocas de chapinha inexistente. Sandra não entendia nada. Mais adiante seu pai abusaria dos cremes clareadores que queimariam várias vezes o rosto de Sandra.
Após 5 anos na ortodoxa escola infantil e depois da marginalização exercida por toda a criançada aos grito de "macaca" ou "negra suja" foi expulsa, com 10 anos, pela direção, que informou convenientemente às autoridades. Dois policiais escoltaram-na, entre lágrimas, a sua casa. Só o teste de DNA e a força de seu pai à frente do Partido Nacional-racista salvaram Sandra de uma segura deportação para o "gueto negro" da cidade, abandonando o domicílio familiar.
Mas a menina foi recusada pela igreja tradicionalista e repudiada por todo sua comunidade. Não podia se relacionar com nenhum branco nove colégios negaram sua nova escolarização. O pai apelou à requalificação de 1967, mas a lei fabricada por ele mesmo não mudava a cor de sua pele para evitar os preconceitos alheios.
Sandra começou a ir então a lugares frequentados por negros. Aos 16 anos fugiu para a Suazilândia com um quitandeiro zulu chamado Petrus Zwane com o qual se casou mais tarde e teve dois filhos. Seu pai não lhe perdoou nunca por trair os ambíguos princípios que tinha ensinado. Disse que não era mais sua filha -convenientemente-, acusou seu marido de sequestro e prometeu recebê-la a tiros se um dia pisasse de novo suas terras. Morreu antes de voltar a falar com ela.
À volta a sua terra natal, Sandra foi morar no gueto, sem água nem eletricidade e submetida à dureza do Apartheid. Teve retirada a custódia de seus próprios filhos pela mesma lei criada por seu pai e que impedia a convivência de duas raças sob um mesmo teto: ela era ainda legalmente branca. Sobreviveu até a queda do Apartheid em 1990 e a outro casamento, para, após 30 anos, voltar a ver sua mãe e reconciliarem-se.
O reencontro.
No próximo dia 30 estreará nas salas de cinemas de todo o mundo a história de Sandra no filme Skin dirigido pelo cineasta Anthony Fabian.
Sandra Laing com as atrizes Sophie Okonedo e Ella Ramangwane que representam-a respectivamente quando criança e adulta..
Fontes: Times Online, grioo.com e Geocities.com.
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Comentários
Deus realmente te senso de humor (3)
Deus realmente tem senso de humor...(2)
Tem peruca de touro na parada...
sei não, na minha epoca de biologia , dois pais negros podiam ter um filho branco , pq seria um gene ressessivo , porem seria impossivel dois brancos terem um filho negro por conta tb de serem dois genes ressessivos , mas quem sou eu né]? se o teste de DNA comprovou a paternidade da garota...
O exame de DNA comprovou que Sandra Laing era filha de pais brancos. E olha que aqui no Brasil isto é muito comum por causa da mestiçagem, não sei por que a polêmica. Questão de genética apenas. O óbvio foi pensado na época que a mãe da menina cometera adultério com um negro. Infelizmente, os pais continuaram racistas mesmo se comprovando que tinham antepassados negros com o nascimento da menina. O irmão mais novo na foto acima tinha traços negróides e era muito parecido com a irmã. Já o irmão mais velho era totalmente branco na aparência.
loucura loucura
O pai dela, era um otário -.-
Obrigado Deeh.
"Deus realmente tem senso de humor..." Gostei dessa frase, Near! :D
Deus realmente tem senso de humor...
nossa, esses dias aconteceu a mesma coisa em algum lugar do mundo, q eskeci agora e tô com preguiça de teclarrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
O nível de ignorância do Apartheid,
só perde para o genocídio da 2ª Guerra Mundial.
Ok, Henrique, está desculpado por parecer idiota... :lol:
Tá, vamos lá... Se tem uma coisa de razões perfeitamente questionáveis, esta coisa é o Apartheid. Mas esse período não foi diferente de tantos outros. Resumindo, o problema é sempre o ser humano...
Desculpe-mem se vou parecer idiota,mais vamos voltar ao assunto do post?
É verdade, Luna. Não vou mais discutir com idiotas. Eles vão me obrigar a me rebaixar ao nível deles e então vão me vencer usando a vasta experiência adquirida. 8)
hum, ela é filha de dois pais broncos e é morena... hum... :D
Não, Luna... Capaz... Eu lido muito bem com brincadeiras. Não lido bem com ignorância. Tá, tá. Vou falar abertamente: fiquei chateado com as discussões religiosas. Todo mundo querendo ser mais certo e ter mais razão do que o outro. Isso me dá vontade de vomitar.
Enfim, de vez em quando eu apareço aqui, mas ficar em primeiro, eu não sei... ando meio fora de forma... :-(
Hehe... Tá bom, Luna... Obrigado pela recepção...
Mas eu não sou muito bom em ignorar. Se rolar alguma coisa estranha, vou desaparecer de novo...
Oi, Luna... Não, não fiquei dodói... Eu me estressei com umas paradas aí e decidi dar um tempo.
Fora isso, tudo bem. Cá estamos! Vamos ver se a Maria percebe... 8)
Humanos = Erros
O mundo será um lugar melhor quando o homem se der conta que o caráter é mais importante do que a cor da pele. E acreditem, parece que o sistema ainda reluta em aceitar isso.
A Natureza sempre tenta ensinar as lições da vida para todos nós. Ir contra estas é gerar sofrimento sem fim.
Acho que nenhum de nós aqui no Brasil em 2009 pode ter uma idéia vaga do foi viver como esta mulher, nos anos do apartheid.
Coitado do pai
alem de toma chifre a filha nasceu pro lado do açougueiro
Pode falar o que quiser mas acho que a mamãe branquela era chegada num 'pirulito de chocolate'.
Nem a pau que a menina é filha dos dois... acho que o padeiro era negão...
Fui
Pata
Nossa do jeito que tá escrito lá parece até que eles tinham preconceito com a própria filha
Uma história muito bunita, mais trsite :|
united colors of benetton!!
O Apartheid foi um dos crimes mais hediondos deste século.
Só comparável ao fascismo de Hitler e outros mais.
Volvido esse tempo, a memória é curta, não foi considerado um genocídio.
"acho que a mãe dela dormiu com um negão!" [2]
:-)
É, o preconceito é algo muito triste... Essa menina foi um castigo para seus pais, que ridicularizavam negros. Foi muito bom ela ter nascido. Tudo o que você faz aos outros, volta para você. E os pais dessa garota sentiram isso na pele, e eu digo: bem feito.
Em quanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos havera guerra. Na África do Sul, a discriminação é uma doença diagnosticada. No Brasil, ela ainda não foi diagnosticada.
É a natureza infringindo penas severas a quem menospreza seus semelhantes. Cabe aqui aquele ditado antigo: "Quem com ferro fere, com ferro será ferido".
hehehe
acho que a mãe dela dormiu com um negão!
vai saber, no escurinho ninguem é de ninguem!
huahuahauhauhauhauhaa
a Suazilândia é reconhecida pelo Guinness World Records como o país com a maior taxa de mortalidade, cerca de 31,2 mortes por mil habitantes.
:sha: