Em 14 de fevereiro de 1990, quando completava seu objetivo primordial, o comando da missão Voyager 1 manobrou-a para que desse uma olhada para trás e tirasse fotografias dos planetas que havia visitado. Em uma dessas imagens estava a Terra, a 6,4 bilhões de quilômetros de distância, mostrando nosso insignificante planeta como um "pálido ponto azul". Uma das primeiras imagens que nos brindou a certeza de nossa insignificância e que somos apenas poeira neste vasto Universo. |
Antes disso, a famosa fotografia realizada pela missão Apollo 8, mostrando a Terra acima da Lua, já havia levado a espécie humana a olhar a Terra como apenas uma parte do universo, mas ainda não permitia vislumbrar que somos quase nada. E foi exatamente isso que Sagan queria mostrar ao pedir que a Voyager tirasse uma foto da Terra onde se encontrava nos confins do Sistema Solar. Essa foto única terminou inspirando Carl Sagan a escrever o livro "Pálido Ponto Azul" em 1994 e também um discurso épico, em 11 de Maio de 1996, que é todo um marco para a ciência:
"Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um dos que escutamos falar, cada ser humano que existiu, viveu a sua vida aqui. O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colhedor, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.
A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pensai nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fração desse ponto. Pensai nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores de algum outro canto, quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.
As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são raptadas por este pontinho de luz tênue. O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios.
A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que alberga a vida. Não há mais algum, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie puder emigrar. Visitar, pôde. Assentar-se, ainda não. Gostarmos ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.
Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido."
Quase um quarto de século depois "Um Pálido Ponto Azul" e o texto escrito por Carl Sagan que o acompanha seguem sendo fonte de inspiração para muitas pessoas. Hashem Al-Ghaili criou Pale Blue Dot (Original - HD), uma versão com vídeo em alta resolução com algumas cenas e trilhas acrescentadas à voz de Carl Sagan para dar-lhe melhor ambientação. Carl Sagan assentiria com glória.
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