Foi por isso que se tornou-se fã ardoroso de Elvis Presley, fundando aos 14 anos um fã-clube brasileiro do cantor. Engana-se porém quem pensa que Raul renegou a cultura brasileira adotando o rock and roll; ele odiava a bossa nova, mas, como todos sabemos, acrescentou ao seu rock elementos de música nordestina como o baião, xaxado, música brega.
Aluno relapso -repetiu várias vezes a segunda série ginasial- apesar de muito inteligente e leitor voraz, rapidamente se cansou da escola decidindo pela profissionalização como músico. Em 1962 em meio ao movimento bossa nova que explodia no Brasil, Raul montou sua primeira banda, Os Relâmpagos do Rock, que mais tarde mudou seu nome para The Panthers e finalmente Raulzito e os Panteras. Pela formação do grupo passaram entre outros além de Raul (vocal e guitarra), Thildo Gama, Pedrinho (guitarra), Mariano Lanat (baixo), Carleba (bateria). Logo abandonou a faculdade de direito.
Já como Raulzito e os Panteras gravaram um compacto que foi distribuído para rádios com duas músicas (sendo uma versão de Elvis Presley). Apresentavam-se em clubes e algumas vezes em rádio e TV. Assim começaram a ficar famosos como expressão local do movimento Jovem Guarda da época -liderado por Roberto Carlos, Jerry Adriani, Erasmo Carlos, Wanderléa, etc, por sua vez versões brasileiras de sucessos dos Beatles-.
Com o apoio de Jerry Adriani o grupo saiu em turnê pelo Brasil com os Panteras -abrindo os shows do primeiro- e em 1968 gravou o seu primeiro LP que não alcançou nenhuma repercussão a nível nacional. Por isso Raul voltou para Salvador possivelmente pretendendo abandonar a música. Raul saiu da Bahia novamente para tentar carreira de produtor na CBS onde produziu e compôs para Jerry Adriani, Renato e Seus Blue Caps, Trio Ternura, Sérgio Sampaio, entre outros astros da época. Perdeu este emprego por produzir e gastar dinheiro sem conhecimento dos seus superiores na prensagem de seu segundo LP, Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez.
Em 1972 alcançou a tão desejada repercussão nacional classificando duas músicas no Festival Internacional da Canção, evento de grande repercussão montado anualmente pela Rede Globo, um concurso de músicas. Raul participou com Let Me Sing Let Me Sing (que chegou às finais) e Eu Sou Eu Nicuri é o Diabo. A boa aceitação lhe valeu seu primeiro contrato com uma gravadora, a Philips Phonogram onde lançou um compacto de Let Me Sing Let Me Sing e o LP coletânea de covers 24 Maiores Sucessos da Era do Rock que nem tinha o nome de Raul. O segundo compacto, Ouro de Tolo, foi o seu primeiro grande sucesso, uma música com letra quase autobiográfica, mas também um deboche com a ditadura e o milagre econômico.
Em 1973 saiu o LP Krig-Ha Bandolo! que se tornou uma grande referência da obra de Raul e que apresentava as primeiras parcerias de Raul com o companheiro de estudos esotéricos Paulo Coelho.
Raul Seixas finalmente alcançou grande repercussão nacional como uma grande promessa de um novo compositor e cantor. Porém logo a imprensa e os fãs da época foram aos poucos percebendo que Raul não era apenas um cantor e compositor.
No ano de 1974, por divulgar a Sociedade Alternativa, com Paulo Coelho nas suas apresentações, acabou sendo preso e torturado pelo DOPS, exilando-se nos Estados Unidos. Foi ali no exílio que Raul veio a conhecer alguns de seus ídolos como Elvis Presley, John Lennon e Jerry Lee Lewis.
Voltou ao Brasil em 1974 em meio ao sucesso do segundo LP, Gita, possivelmente o seu lançamento de maior vendagem e repercussão, ganhando discos de ouro e participando da trilha sonoras da novela O Rebu. A Philips chegou mesmo a relançar 24 Maiores Sucessos da Era do Rock com um novo nome, 20 Anos de Rock e dessa vez tinha o nome de Raul em destaque. Seguiram-se então LPs de grande repercussão, Novo Aeon, Há 10 Mil Anos Atrás (último em parceria com Paulo Coelho), Raul Rock Seixas, O Dia Em Que a Terra Parou.
A partir do final da década de 70 Raul Seixas começou a apresentar problemas de saúde em virtude do consumo exagerado de bebidas alcoólicas. Não parou porém de lançar discos e projetos, Mata Virgem, Por Quem os Sinos Dobram, Abre-te Sésamo. Passou a sofrer de hepatite crônica em virtude da bebida e cancelou diversos contratos e shows.
Após a queda de vendagens nos últimos discos e um longo boicote de gravadoras, estourou novamente em 1983 com a música Carimbador Maluco, lançada em um single encartado junto com o LP Raul Seixas, mais tarde acrescida como faixa deste mesmo LP, mais famosa por ter sido usada no especial infantil Plunct Plact Zumm da Rede Globo. Seguiram-se os discos Metrô Linha 743, Uah Bap Lu Bap La Bein Bum (com aquele que foi seu último grande hit, Cowboy Fora da Lei) e A Pedra do Gênesis.
Em Uah Bap Lu Bap La Bein Bum e A Pedra do Gênesis foram usadas faixas que deveriam ser parte de um projeto maior nunca lançado chamado Opus 666, elaborado a partir de 1982, após o fracasso de um outro projeto, Nuit. O projeto Opus 666 consistia de discos lançados em inglês e distribuídos fora do circuito padrão das gravadoras. A capa projetada para o Opus 666 terminou sendo usada em A Pedra do Gênesis.
Em 1988 Raul passou a compor, gravar e excursionar com o também baiano Marcelo Nova, vocalista da banda Camisa de Vênus. O abortado Nuit teve música homônima lançada no LP A Panela do Diabo, sendo esta praticamente a única música que veio a público de todo o projeto original de Raul -que data de 1981, em parceria com Kika Seixas-. Alguns rumores davam conta de outro projeto, Persona, que também não deu certo.
Em 21 de Agosto de 1989, apenas dois dias após o lançamento de A Panela do Diabo, Raul Seixas morreu, aos 44 anos. Seu corpo foi encontrado às oito horas da manhã, pela sua empregada, Dalva. Foi vítima de uma parada cardíaca: seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante. O LP A Panela do Diabo vendeu 150.000 cópias, rendendo a Raul um disco de ouro póstumo, entregue à sua família e também a Marcelo Nova, tornando-se assim um dos discos de maior sucesso do eterno Maluco Beleza.
Curiosamente após a sua morte teve o seu talento mais reconhecido do que nunca, arregimentando a cada dia mais fãs e seguidores, sendo lançados postumamente registros inéditos e coletâneas, todos sucessos de vendas.
Em sua carreira foi pioneiro na mistura de todo tipo de influência musical ao rock and roll, passeando e acrescentado com desenvoltura e sem preconceitos ritmos nordestinos, Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor; folk ao estilo Bob Dylan, Ouro de Tolo; música brega, Sessão das 10; umbanda Mosca na Sopa. Em suas letras abordava com igual desenvoltura assuntos tão díspares quanto sentimentos humanos, críticas ao sistema, esoterismo e agnosticismo. A sua mensagem muitas vezes está implícita em letras que podem ser taxadas de bobas pelos menos perspicazes -vide a letra de Carimbador Maluco- e em outros momentos é pura poesia, como na Canto Para Minha Morte.
Raul forever...
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Comentários
Lokaum!
Parabéns pela homenagem ao nosso eterno Raul. Pena que morreu cedo demais, pois certamente ele iria produzir ainda inúmeras obras maravilhosas.
Adorei essa homenagem que voce fez para ele Admin!! Ele realmente merece!
Há um tempo atrás fui no teatro assistir uma peça, com Marcos Caruso, que contava a historia de Raul! Foi emocionante!
Raulzinho é meu conterrâneo (: , Pena que ele já se foi, Deus o tenha, ou não. hehe, raul forever \o
Oh! Morte, que alguns dizem assombrosa
E forte, não te orgulhes, não és assim;
Mesmo aquele a quem visastes o fim,
Não morre; não te vejo vitoriosa.
Vens em sono e repouso disfarçada,
Prazeres para os que tu surpreendes;
E o bom ao conhecer o que pretendes
Descansa o corpo, a alma libertada.
Serves aos reis, ao azar e às agonias,
A ti, doença e guerra se acasalam;
Também os ópios e magias nos embalam,
Como o sono. De que te vanglorias?
Um breve sono que a vida eterna traz,
Golpeia a morte, Morte morrerás.
John Donne
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eh neh