Em 120 a.C., o pai de Mitrídates VI, o Grande, rei do Ponto na Anatólia, foi envenenado por inimigos. Temendo que sua mãe o envenenasse para usurpar o trono, Mitrídates se escondeu por alguns anos. Quando reapareceu, ele se comprometeu a desenvolver sua tolerância ao veneno, supostamente microdosando várias toxinas todos os dias. Ele chegou aos 70 anos e escolheu morrer pela espada, evitando a captura, enfrentado três dos melhores generais romanos da Baixa República.
Nenhuma substância talvez tenha sido uma aliada tão constante para esquemas insidiosos quanto o arsênio, o chamado "rei dos venenos". É um elemento metálico natural e amplamente distribuído. Em sua forma quimicamente pura, não é uma grande ameaça porque nossos corpos não o absorvem bem; é quando o arsênio se combina com outros elementos que as coisas ficam perigosas.
Quando o arsênio reage com o oxigênio, ele pode assumir sua forma venenosa mais comum: arsênio-branco, um pó que pode ser imediatamente letal ou matar ao longo do tempo. No nível molecular, o arsênio-branco se assemelha ao fosfato, que é essencial para as reações celulares básicas do corpo. Quando o arsênio-branco entra no corpo, ele substitui os fosfatos, comprometendo processos críticos como a produção de energia celular.
Os sintomas de envenenamento por arsênio se sobrepõem a doenças comuns na história. E o arsênio-branco é discretamente inodoro e insípido. Essas características o tornaram uma arma de assassinato preferida. No antigo Egito e na Grécia, as pessoas encontraram arsênio enquanto mineravam e fundiam metais e passaram a reconhecer seus poderes.
A primeira preparação de arsênio-branco registrada é atribuída ao alquimista islâmico da Era de Ouro Jabir ibne Haiane, por volta do século VIII. O envenenamento se tornou prevalente na Itália renascentista, onde elites como o Conselho Veneziano dos Dez decidiam quem assassinar e alistavam alquimistas, farmacêuticos e médicos para preparar o veneno apropriado.
A Casa de Bórgia dominava a arte assassina, supostamente empunhando um pó com arsênico chamado cantarella que eles borrifavam nas taças de convidados especiais. E durante o reinado do rei francês Luís XIV, o arsênico se espalhou pela alta sociedade parisiense, ganhando o apelido de "pó de herança". Em 1675, o Caso dos Venenos, que durou cinco anos, começou com uma nobre confessando ter assassinado seu pai e irmãos e revelando que Paris abrigava uma extensa rede subterrânea de tráfico de venenos.
Uma de suas figuras centrais era Catarina Monvoisin. Além de realizar adivinhações e missas negras, ela formulava as chamadas poções do amor, bem como misturas mais horríveis contendo acônito, beladona e arsênico. Um de seus clientes era um membro da corte real cujo marido morreu em circunstâncias misteriosas; outro era a amante do próprio rei.
O arsênico se tornou uma arma mais difundida durante a Revolução Industrial. A demanda por metais, como ferro, disparou. E conforme as pessoas derretiam minérios impuros em fornalhas, alguns subprodutos ficavam no ar e se acumulavam nas chaminés, incluindo o arsênico-branco. O pó era raspado em abundância e vendido barato para os moradores da cidade, que canalizavam seus poderes contra pragas e, às vezes, pessoas.
O arsênico também encontrou seu caminho para produtos onipresentes. Em 1775, o químico sueco Carl Wilhelm Scheele criou uma mistura de cobre e arsênico que produziu uma tonalidade verde brilhante. O verde de Scheele logo pigmentou tintas, tecidos, brinquedos, sabonetes, cosméticos e corantes alimentícios. No final dos anos 1800, 80% do papel de parede inglês continha arsênico.
Mas sua letalidade era iminente. Dizem que várias crianças morreram por ingestão inadvertida de arsênico, e uma campanha pública finalmente o proibiu das residências. Enquanto isso, o envenenamento deliberado por arsênico persistiu. E como os testes forenses de arsênico permaneceram rudimentares, as pessoas continuaram se safando.
Em 1832, o químico James Marsh foi consultor em um caso de homicídio em que um homem foi acusado de misturar arsênico ao café de seu avô. Marsh fez o teste padrão, que produziu um depósito amarelado, confirmando que a amostra era positiva para arsênico. Mas o resultado foi quimicamente instável. E quando Marsh o apresentou no tribunal, a cor havia se deteriorado, e o júri absolveu o acusado.
Então, Marsh criou um novo teste, pelo qual uma amostra contendo arsênico reagiria com zinco e ácido para produzir gás arsina. Uma vez inflamado, revelaria um depósito sólido de arsênico. Foi o primeiro teste de arsênico verdadeiramente confiável. Mais tarde, novos testes tomaram seu lugar e antídotos ficaram disponíveis, mas a história continua impregnada do poder perverso do arsênico, salpicado de escândalo e manchado de engano.
Curiosamente, o arroz pode absorver arsênio do solo e da água de irrigação. No entanto, a quantidade de arsênio presente no arroz consumido no Brasil é considerada segura, de acordo com a Anvisa. Um estudo publicado em 2021 no jornal Science of the Total Environment revela uma forma de cozinhar arroz que remove mais de 50% do arsênio que ocorre naturalmente no arroz integral e 74% no arroz branco. O melhor é que o método não reduz os micronutrientes presentes no grão.
Pensando na segurança alimentar de bebês e crianças, que acabam sendo expostos ao arsênio muito cedo, especialmente em países que consomem muito arroz, os cientistas testaram diferentes maneiras de cozinhar o grão para reduzir a quantidade do semimetal tóxico e a que se mostrou mais eficaz é chamada método de parboilização com absorção, que envolve o cozimento do arroz em água pré-fervida por cinco minutos antes de drenar e substituir a água e, em seguida, cozinhá-lo em fogo baixo para absorver todo o líquido.
]]>Em 120 a.C., o pai de Mitrídates VI, o Grande, rei do Ponto na Anatólia, foi envenenado por inimigos. Temendo que sua mãe o envenenasse para usurpar o trono, Mitrídates se escondeu por alguns anos. Quando reapareceu, ele se comprometeu a desenvolver sua tolerância ao veneno, supostamente microdosando várias toxinas todos os dias. Ele chegou aos 70 anos e escolheu morrer pela espada, evitando a captura, enfrentado três dos melhores generais romanos da Baixa República.
Nenhuma substância talvez tenha sido uma aliada tão constante para esquemas insidiosos quanto o arsênio, o chamado "rei dos venenos". É um elemento metálico natural e amplamente distribuído. Em sua forma quimicamente pura, não é uma grande ameaça porque nossos corpos não o absorvem bem; é quando o arsênio se combina com outros elementos que as coisas ficam perigosas.
Quando o arsênio reage com o oxigênio, ele pode assumir sua forma venenosa mais comum: arsênio-branco, um pó que pode ser imediatamente letal ou matar ao longo do tempo. No nível molecular, o arsênio-branco se assemelha ao fosfato, que é essencial para as reações celulares básicas do corpo. Quando o arsênio-branco entra no corpo, ele substitui os fosfatos, comprometendo processos críticos como a produção de energia celular.
Os sintomas de envenenamento por arsênio se sobrepõem a doenças comuns na história. E o arsênio-branco é discretamente inodoro e insípido. Essas características o tornaram uma arma de assassinato preferida. No antigo Egito e na Grécia, as pessoas encontraram arsênio enquanto mineravam e fundiam metais e passaram a reconhecer seus poderes.
A primeira preparação de arsênio-branco registrada é atribuída ao alquimista islâmico da Era de Ouro Jabir ibne Haiane, por volta do século VIII. O envenenamento se tornou prevalente na Itália renascentista, onde elites como o Conselho Veneziano dos Dez decidiam quem assassinar e alistavam alquimistas, farmacêuticos e médicos para preparar o veneno apropriado.
A Casa de Bórgia dominava a arte assassina, supostamente empunhando um pó com arsênico chamado cantarella que eles borrifavam nas taças de convidados especiais. E durante o reinado do rei francês Luís XIV, o arsênico se espalhou pela alta sociedade parisiense, ganhando o apelido de "pó de herança". Em 1675, o Caso dos Venenos, que durou cinco anos, começou com uma nobre confessando ter assassinado seu pai e irmãos e revelando que Paris abrigava uma extensa rede subterrânea de tráfico de venenos.
Uma de suas figuras centrais era Catarina Monvoisin. Além de realizar adivinhações e missas negras, ela formulava as chamadas poções do amor, bem como misturas mais horríveis contendo acônito, beladona e arsênico. Um de seus clientes era um membro da corte real cujo marido morreu em circunstâncias misteriosas; outro era a amante do próprio rei.
O arsênico se tornou uma arma mais difundida durante a Revolução Industrial. A demanda por metais, como ferro, disparou. E conforme as pessoas derretiam minérios impuros em fornalhas, alguns subprodutos ficavam no ar e se acumulavam nas chaminés, incluindo o arsênico-branco. O pó era raspado em abundância e vendido barato para os moradores da cidade, que canalizavam seus poderes contra pragas e, às vezes, pessoas.
O arsênico também encontrou seu caminho para produtos onipresentes. Em 1775, o químico sueco Carl Wilhelm Scheele criou uma mistura de cobre e arsênico que produziu uma tonalidade verde brilhante. O verde de Scheele logo pigmentou tintas, tecidos, brinquedos, sabonetes, cosméticos e corantes alimentícios. No final dos anos 1800, 80% do papel de parede inglês continha arsênico.
Mas sua letalidade era iminente. Dizem que várias crianças morreram por ingestão inadvertida de arsênico, e uma campanha pública finalmente o proibiu das residências. Enquanto isso, o envenenamento deliberado por arsênico persistiu. E como os testes forenses de arsênico permaneceram rudimentares, as pessoas continuaram se safando.
Em 1832, o químico James Marsh foi consultor em um caso de homicídio em que um homem foi acusado de misturar arsênico ao café de seu avô. Marsh fez o teste padrão, que produziu um depósito amarelado, confirmando que a amostra era positiva para arsênico. Mas o resultado foi quimicamente instável. E quando Marsh o apresentou no tribunal, a cor havia se deteriorado, e o júri absolveu o acusado.
Então, Marsh criou um novo teste, pelo qual uma amostra contendo arsênico reagiria com zinco e ácido para produzir gás arsina. Uma vez inflamado, revelaria um depósito sólido de arsênico. Foi o primeiro teste de arsênico verdadeiramente confiável. Mais tarde, novos testes tomaram seu lugar e antídotos ficaram disponíveis, mas a história continua impregnada do poder perverso do arsênico, salpicado de escândalo e manchado de engano.
Curiosamente, o arroz pode absorver arsênio do solo e da água de irrigação. No entanto, a quantidade de arsênio presente no arroz consumido no Brasil é considerada segura, de acordo com a Anvisa. Um estudo publicado em 2021 no jornal Science of the Total Environment revela uma forma de cozinhar arroz que remove mais de 50% do arsênio que ocorre naturalmente no arroz integral e 74% no arroz branco. O melhor é que o método não reduz os micronutrientes presentes no grão.
Pensando na segurança alimentar de bebês e crianças, que acabam sendo expostos ao arsênio muito cedo, especialmente em países que consomem muito arroz, os cientistas testaram diferentes maneiras de cozinhar o grão para reduzir a quantidade do semimetal tóxico e a que se mostrou mais eficaz é chamada método de parboilização com absorção, que envolve o cozimento do arroz em água pré-fervida por cinco minutos antes de drenar e substituir a água e, em seguida, cozinhá-lo em fogo baixo para absorver todo o líquido.
]]>Você já se perguntou por que os chineses usam hashis? Bem, tem algo a ver com Confúcio: ele odiava comer com facas pois achava que o talher, que podia matar, não podia dividir a mesa com o alimento que promovia a vida. Ele não foi o único. Cardeal Richelieu, o primeiro-ministro de Luís XIII também não gostava nem um pouco de facas. Agora, você pode se perguntar, o que há de errado com facas? Afinal, nós as usamos desde os tempos neolíticos.
Elas são a maneira mais simples de cortar, descascar, fatiar, picar, amassar, desossar, entre outras tarefas quando o hashi nada mais é que um prolongamento natural dos dedos.
Os primeiros hashi, que conhecemos pelo menos, têm cerca de três mil anos e foram encontrados nas ruínas da cidade de Yin, a última capital da Dinastia Shang no norte da China. Agora, curiosamente, esses hashis eram usados apenas para mexer ensopados; eles não eram realmente usados para comer.
A Dinastia Shang também usava garfos longos em suas cozinhas, mas para as refeições, era a boa e velha faca e os dedos. Então, quando os hashis chegaram à mesa de jantar? Bem, para encontrar a resposta para isso, precisamos avançar um milênio ou mais, para cerca de dois mil anos atrás, durante a Dinastia Han.
Como seus predecessores Shang, os Han comiam quase exclusivamente milheto: não precisava de fertilizante ou solo particularmente bom, o que era ótimo porque o norte não tinha nenhum dos dois. Os Han faziam mingau com seu milheto e, como é possível imaginar, comer mingau com hashis não é exatamente a coisa mais fácil de fazer, então nunca deu certo.
Mas conforme a Dinastia Han se expandiu para o sul, sua dieta começou a mudar. O sul era perfeitamente adequado para o cultivo de arroz; na verdade, o arroz crescia tão abundantemente lá que eles tinham sobras suficientes para alimentar o norte com ele também. Você pode pensar que é igualmente difícil comer arroz com hashis, mas o arroz do Leste Asiático é rico em amido, conhecido como arroz glutinoso, e convenientemente gruda em belos aglomerados: muito fácil de pegar com alguns palitos.
Claro, não foi só o arroz que fez isso: no norte, o painço teve outro concorrente: o trigo. Mais trigo significava menos mingau e mais macarrão e bolinhos, o que, claro, leva aos hashis novamente. Este período também viu o surgimento da fritura, para a qual a comida era pré-cortada em pedaços pequenos, mais fáceis de pegar e comer com seus confiáveis hashis.
Eles são muito versáteis, esses hashis, e o que era ainda melhor: eles são baratos. Isso realmente importa muito quando você tem uma população tão grande quanto a da China, que era cerca de 1/4 da população mundial inteira na época. Mais pessoas significam menos recursos para todos: menos metal para facas e garfos, menos combustível para fogueiras.
E aqui vai um pouco de física culinária para você: cortar a comida em pedaços pequenos antes de cozinhá-la faz com que ela cozinhe mais rápido e use menos combustível. É economia até o fim... e um pouco de psicologia também. Afinal, quando você começa a usar os hashis, naturalmente prefere pedaços menores de comida que são mais fáceis de comer com os ditos hashis.
Então, no final, as facas saíram da mesa para a cozinha e os hashis da cozinha para a mesa. Nosso bom amigo Confúcio foi um dos maiores defensores dos hashis: aos seus olhos, uma ferramenta tão violenta e bárbara quanto a faca não tinha lugar na mesa de um homem honrado. Na verdade, ele fez tanto alarde sobre isso que seus seguidores registraram isso no "Livro dos Ritos", um dos Cinco Clássicos que constituem o cerne da filosofia confucionista.
Mas o que diabos o Cardeal Richelieu tem a ver com tudo isso. Bem, embora o arquiteto do absolutismo francês provavelmente não fosse muito versado em sua etiqueta confucionista, ele também odiava ver facas em sua mesa. Naquela época, as facas que você encontrava na mesa de jantar europeia média eram bem afiadas; na verdade, elas eram tão afiadas quanto uma faca de cuteleiro.
O que é ainda mais estranho, porém, é que quando seus convidados não estavam conspirando ativamente contra você, eles usavam essas mesmas facas afiadas como palitos de dente. Richelieu, sendo o gênio astuto que era, começou a ordenar que a lâmina de cada faca fosse afiada até que mal conseguisse cortar alguma coisa. Richelieu resolveu seu problema de faca pontuda inventando a faca de mesa, quase inservível, enquanto Confúcio o resolveu popularizando os hashis.
Imagine: todos os dias, milhões de moscas tratadas com radiação descem de aviões sobre o Panamá. Isso parece um enredo de filme de desastre cafona. Mas não é. É um esforço real de décadas do governo dos Estados Unidos para proteger o gado de um inimigo tão pequeno que ninguém pode perceber, até que seja tarde demais. As larvas carnívoras da bicheira-do-Novo-Mundo (Cochliomyia hominivora) podem ter impactos devastadores nas populações de gado e vida selvagem.
E na década de 1950, pesquisadores elaboraram um plano para impedir a devastação que estavam causando. Um plano que envolvia aviões, milhões de bicheiras adultas esterilizadas e, eventualmente, o Panamá. Um plano que, apesar de quão estranho seja, continua sendo a melhor aposta até hoje.
Encontrada principalmente na América do Norte, Central e do Sul, a bicheira-do-Novo-Mundo é uma mosca, como seu nome sugere. O ciclo de vida inteiro delas é bem curto, cerca de 21 dias, e podem viajar vários quilômetros de seu local de nascimento original. Isso significa que essa pequena mosca pode se tornar um grande problema muito rapidamente.
As fêmeas põem ovos nas feridas de mamíferos como gado, veados e, às vezes, até humanos. As larvas recém-eclodidas, que parecem vermes, alimentam-se do tecido, causando danos significativos ou até mesmo a morte das criaturas infectadas. Na década de 1930, as infestações de bicheiras eram um problema realmente grande nos Estados Unidos, custando à indústria pecuária do sudoeste dos EUA milhões de dólares por ano em perdas de animais.
Os fazendeiros tentaram todos os tipos de maneiras de controlar as infestações. Eles mudaram os cronogramas de criação de gado para meses mais frios, quando a atividade da bicheira era mínima, para manter os bezerros recém-nascidos protegidos da infecção. Eles também tentaram mover os procedimentos causadores de feridas, como marcação e castração, para meses mais frios.
Infelizmente, nenhum desses esforços foi eficaz ou sustentável. As bicheiras continuaram se reproduzindo, e ficou claro que os insetos não podiam ser controlados, em parte porque eles podiam se esconder em animais selvagens. Eles precisavam ser erradicados completamente. Entra em cena a técnica do inseto estéril.
Desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e implementado na década de 1950, envolvia esterilizar moscas bicheiras criadas em laboratório usando radiação gama e liberá-las na natureza. A radiação gama causa mutações no DNA. Dependendo de quando você a aplica, pode causar grandes problemas para as moscas, exatamente da maneira que os pesquisadores querem.
Há um ponto ideal para tratar as moscas, em torno de 5,5 a 7,5 dias em seu ciclo de vida. Se você escolher esse momento para bombardeá-las com raios gama, as mutações esterilizam a bicheira adulta, mantendo-a saudável e sem saber sobre sua incapacidade de fazer bebês. Os adultos estéreis são então introduzidos na natureza, onde competem com moscas férteis por parceiros.
Como a fêmea da bicheira só acasala uma vez em sua curta vida, uma tentativa com um parceiro estéril significa que está fora do pool genético. A primeira aplicação bem-sucedida de bicheiras esterilizadas ocorreu em Curaçao, quando 400 moscas esterilizadas por quilômetro quadrado milha quadrada foram lançadas por via aérea na ilha, e a erradicação foi confirmada cerca de 10 semanas depois.
Após esse teste bem-sucedido, aviões cheios de bicheiras esterilizadas voaram sobre o sudeste dos EUA, liberando milhões de adultos estéreis na natureza e levando à erradicação completa da infestação de bicheiras de décadas nos EUA em 1966. E esse foi o fim disso. Exceto... não exatamente. Infelizmente, não é aí que a história da bicheira termina.
Mais de cinquenta anos depois, moscas esterilizadas ainda caem do céu diariamente, embora não mais sobre os Estados Unidos. Como as bicheiras se reproduzem tão rápido, o USDA rapidamente descobriu que, para impedir que novas infestações ocorressem, eles teriam que continuar lançando moscas esterilizadas no ar... indefinidamente.
E não era muito econômico ou eficiente continuar fazendo isso nos EUA, quando as moscas estavam viajando para o norte do México e da América Central. Então, na década de 1970, o programa foi expandido para o México, e os governos dos EUA e do México acabaram dividindo os custos do lançamento aéreo das moscas. No entanto, os anos passaram sem nenhum outro plano bem-sucedido à vista, as autoridades continuaram a procurar maneiras de cortar custos.
Então, em um esforço colaborativo que eventualmente envolveu os EUA, México e toda a América Central, uma barreira transcontinental contra a bicheira foi estabelecida na década de 1990 no estreito de Darien, um trecho de terra na fronteira Panamá-Colômbia. As autoridades descobriram que lançar moscas no trecho de 97 quilômetros da fronteira entre o Panamá e a Colômbia era mais econômico do que tentar estabelecer uma barreira semelhante em uma parte estreita do México com 220 quilômetros de largura, e muito melhor do que a fronteira de 3.200 quilômetros entre os EUA e o México.
O Panamá é um ponto de estrangulamento natural. As bicheiras não conseguem cruzar o oceano, então isso corta o acesso a toda a América do Norte e Central. Como um benefício adicional, o México e toda a América Central recebem proteção contra futuras infestações de bicheiras. E assim, todos os dias, milhões de larvas esterilizadas são carregadas em aviões e lançadas sobre a fronteira Panamá-Colômbia.
Essas moscas são criadas hoje em uma instalação permanente no Panamá. E, por enquanto, esta é a solução mais econômica. No entanto, os cientistas estão trabalhando em novos métodos para reduzir ainda mais os custos e talvez até erradicar as larvas para sempre. As infestações de larvas estão começando a aparecer novamente na América Central, o que significa que podemos precisar tentar algo novo.
Uma abordagem atualmente em andamento usa CRISPR para criar um gene drive -uma espécie de pílula de veneno genético autossustentável- que torna as moscas fêmeas das larvas estéreis. Ao contrário da técnica do inseto estéril, este método se espalha naturalmente por gerações, eventualmente derrubando as populações naturais das moscas.
Esta pode ser uma solução mais sustentável e eficaz em lugares como América do Sul e África, regiões que atualmente sofrem com infestações de larvas sem um ponto de estrangulamento geográfico para conter as moscas. E caso você esteja se perguntando sobre as consequências de potencialmente erradicar a espécie, bem, parece que ninguém está muito preocupado com o que acontecerá na ausência de bicheiras em particular.
A mosca Cochliomyia hominivorax é muito comum no Brasil, sendo encontrada em todos os principais biomas do país. A mosca é considerada um dos principais ectoparasitas de importância pecuária no Brasil.
As miíases causadas pela mosca hominivorax causam prejuízos à produção de carne e leite, perda de peso e mortalidade de animais. As miíases umbilicais são consideradas uma das principais causas de mortalidade de bezerros no Pantanal.
No Brasil, a cura do umbigo de bezerros recém-nascidos é feita com a aplicação tópica da solução de iodo e de produtos quimioterápicos aerossóis. Também são utilizados endectocidas injetáveis, inicialmente à base de Ivermectina.
Os drives genéticos podem mudar o jogo para exterminar os bicheiras para sempre. Se essa nova abordagem funcionar, podemos ter uma solução sustentável e mundial para proteger nosso gado e vida selvagem dessas pequenas, mas incrivelmente destrutivas pragas.
A história não foi muito gentil com o dodô. Como um espécime hediondo de taxidermia ruim montado por uma pessoa que nunca viu o animal que está recriando, a maioria dos relatos históricos sobre a ave lendária sofreu os efeitos de um pouco de licença criativa demais. O primeiro relato sobre o dodô foi de Heyndrick Dircksz Jolinck, um marinheiro que liderou uma expedição na ilha Maurício em 1598, e se referiu às aves como "pingüins" gordos.
Heyndrick, talvez como qualquer marinheiro faminto, parecia mais interessado nas propriedades nutricionais do dodô do que em seu valor científico, acrescentando:
- "Essas aves em particular têm um estômago tão grande que poderia fornecer uma refeição saborosa para dois homens e era, na verdade, a parte mais deliciosa da ave."
Mas em 2017, os cientistas finalmente conseguiram trazer a ave extinta à vida com mais precisão do que nunca, graças ao primeiro modelo 3D da anatomia esquelética do dodô. O Atlas esquelético 3D, publicado no Journal of Vertebrate Paleontology, permitiu que pesquisadores identificassem ossos desconhecidos no esqueleto do dodô, recalibrassem representações imprecisas das proporções anatômicas da ave e fizessem novas suposições sobre a maneira como ele se comportava em seu ambiente.
Em um clipe da série Museum Alive with David Attenborough, o lendário apresentador visitou o Museu de História Natural de Londres para falar sobre a ave incapaz de voar foi levada à extinção por humanos e outros predadores há muito tempo.
Enquanto Attenborough observava uma pintura de um dodô, a ave saltou para fora do quadro e para o chão do museu. Ele então pôde examinar a fisiologia e o comportamento de um dodô macho e uma fêmea para imaginar como eles poderiam realmente ser.
Estas imagens se baseiam naquele estudo realizado pela equipe internacional de paleontólogos durante cinco anos, que dedicou milhares de horas à digitalização meticulosa dos dois únicos esqueletos de dodô totalmente intactos conhecidos pelo homem atualmente.
Ambos os esqueletos de dodô foram descobertos há mais de 100 anos por Etienne Thirioux, um barbeiro e naturalista amador desconhecido, e passaram um século inteiro amplamente ignorados pelos pesquisadores nas coleções do Instituto Maurício e do Museu de Ciências Naturais de Durban.
Um dos espécimes de dodô é o único esqueleto completo conhecido de uma única ave. O outro está quase completo, mas pode ser um agregado de ossos de vários dodos
Todos os outros esqueletos que conhecemos, incluindo o famoso "dodô de Oxford", são reconstruções compostas feitas a partir de ossos de muitos indivíduos diferentes. Até agora, juntar as peças do dodô tem sido como encaixar as peças de um quebra-cabeça biológico muito complexo.
Se não fosse por Etienne e o uso da moderna digitalização de superfície a laser 3D- uma técnica de imagem que usa pontos geométricos para capturar o formato da superfície de um objeto- os cientistas não teriam desmistificado uma das aves mais estranhas da natureza. Ainda assim, uma grande porcentagem dos esforços de pesquisa de hoje é dedicada a separar o fato da ficção.
Apesar de uma riqueza de documentação científica e popular, a história de vida do dodô continua a nos iludir. Sabe-se mais sobre a estrutura populacional, comportamento de nidificação, ovos e filhotes de dinossauros e outros animais pré-históricos do que sobre uma ave que desapareceu em tempos históricos muito recentes devido à interferência humana.
Os cisnes são os maiores membros existentes da família das aves aquáticas anatídeos e estão entre as maiores aves voadoras. As maiores espécies vivas, incluindo o cisne-branco , o cisne-trombeteiro e o cisne-bravo, podem atingir um comprimento de mais de 1,5 metros e pesar mais de 15 kg. Suas envergaduras podem ser superiores a 3,1 metros. Comparados aos gansos intimamente relacionados, eles são muito maiores e têm pés e pescoços proporcionalmente maiores.
Eles são tão grandes, na verdade, que suas pernas não conseguem sustentá-los por longos períodos de tempo, então eles precisam de água aberta não apenas para se alimentar, mas para descansar.
O canal do Youtube Forevergreen compartilhou um belo clipe de um cisne chegando para pousar sobre e dentro da água. Esse processo é único, pois o cisne age como uma aeronave, abaixando seus pés palmados e usando-os como esquis de aquaplanagem. Isso permite que o cisne desacelere antes de pousar elegantemente.
No ar, eles são voadores fortes e graciosos, voando sem esforço em perfeita sincronicidade. Mas no chão, eles gingam, brigam entre si, às vezes destacando e atacando brutalmente outros cisnes. Felizmente, ninguém parece se machucar seriamente durante esses encontros.
Os cisnes-bravos formam laços de pares monogâmicos que duram muitos anos e, em muitos casos, esses laços podem durar a vida toda. Você frequentemente os vê viajando em grupos familiares, com seus sinetes, de cor cinza claro, a tiracolo.
Os cisnes são famosos por seus pousos graciosos na água, um processo que combina força e elegância. Conforme descem, os cisnes usam suas asas estendidas para desacelerar e controlar sua velocidade. Pouco antes de tocar a água, eles estendem seus pés palmados, agindo como freios naturais para deslizar suavemente pela superfície.
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