![]() | No começo dos anos 90 eu trabalhei nas profundezas da floresta amazônica consertando transceptores da EMBRATEL. Era um trabalho complexo ajustar sistemas eletrônicos no meio da mata e sem muito recursos, mas valia a pena: o salário era quase o triplo do que eu receberia em uma boa empresa de engenharia em São Paulo e ademais, durante a época das águas, uns 4 meses, não trabalhava sem prejuízo do salário. Nesse interregno, todos os profissionais iam fazer bico nos garimpos a troco de ouro e pedras preciosas. Lógico, com um segurança armado a tira-colo. Garimpos são terra de ninguém. |

Alguns amigos me chamavam de louco por enfrentar estes perigos, mas nem era tanto assim. Vi onças, jacarés, sucuris, jararacas e levei choque de poraquês, sem nenhum estresse. O mais perigoso para mim se chamava "toreiro". Toreiros são caminhões em petição de miséria sem nenhuma sinalização que transportam madeira ilegal por todas as estradas vicinais da Amazônia. Em geral eles trabalham na calada da madrugada, mas há certos locais que o movimento é intenso em pleno meio-dia. Eu entrei na traseira desses caminhões três vezes e fique preso nas ferragens por quase seis horas depois de pedir socorro via rádio.
O problema de corte ilegal de madeira na Amazônia é sistêmico: não somente madeireiros ganham dinheiro senão que índios vendem área demarcadas, fundações fingem desconhecer o problema e ONGs aponta soluções onde elas serão as únicas beneficiadas.
E os cientistas alertam que podemos estar nos aproximando de um ponto crítico: quando uma parte suficiente da floresta é perdida a ponto de grandes faixas do ecossistema morrerem. É como remover tijolos de uma casa. Tire um ou dois e a casa continuará de pé. Mas remova muitos e a coisa toda começará a desabar. O que acontece na Amazônia afeta o resto do planeta.
Para explorar essa relação, vamos examinar o que aconteceria se toda a Amazônia desaparecesse. A Amazônia às vezes é chamada de ar condicionado da Terra. A cada dia, o Sol bate em suas 390 bilhões de árvores. As plantas fazem fotossíntese, abrindo seus poros e perdendo água por evaporação. Esse processo, conhecido como transpiração, resfria tanto a planta quanto o ar ao redor, e ajuda a formar nuvens que se movem sobre a floresta.
Por meio disso, a Amazônia circula um rio caudaloso aéreo com cerca de 20 trilhões de litros de água diariamente. Se a floresta tropical desaparecesse, haveria pouca transpiração para alimentar as nuvens de chuva. O calor do Sol seria irradiado de volta para a atmosfera, formando chaminés de ar quente e seco. A temperatura local aumentaria em vários graus e a precipitação na região cairia.
Colheitas e animais morreriam à medida que a área -lar de 10% das espécies conhecidas do mundo e 30 milhões de pessoas- se transformasse. Vilas ficariam encalhadas enquanto os rios secassem. Peixes mortos contaminariam a água potável. A qualidade do ar despencaria à medida que os incêndios florestais se espalhassem. Na verdade, já começamos a ver isso durante as secas recentes.
E os efeitos se estenderiam muito além da Amazônia. O ar circula pelo planeta, então qualquer mudança na temperatura ou pressão em uma região pode influenciar correntes e ventos a milhares de quilômetros de distância. Esses efeitos são difíceis de prever. Alguns modelos estimam que perder apenas 40% da Amazônia reduziria as chuvas no centro agrícola da Argentina a mais de 3.000 quilômetros de distância.
O desaparecimento completo da floresta tropical e seu ciclo hídrico pode causar o derretimento de 50% da camada de neve na Sierra Nevada, Califórnia, e uma redução de 20% nas chuvas no litoral noroeste dos Estados Unidos. O Vale Central da Califórnia, que produz um quarto dos alimentos dos EUA, pode enfrentar uma diminuição considerável do suprimento de água.
Perderíamos um dos maiores sumidouros naturais de carbono do mundo. Alguns cientistas estimam que as temperaturas em todo o mundo aumentariam mais 0,25 °C acima das previsões climáticas atuais. E embora isso possa parecer pequeno, mesmo um ligeiro aumento na temperatura global pode aumentar eventos climáticos severos e perda de habitat.
Nesse ínterim vou tomar a licença de fazer o papel de "advogado do diabo". Nosso país tem uma das legislações mais estritas em relação a preservação de áreas florestais. Ninguém, nenhum país no mundo preserva mais suas matas. Por que então deveríamos nos preocupar que os cultivos dos hermanos sequem? Eles que se danem. Foda-se os esquiadores de Sierra Nevada, foda-se a riquíssima Califórnia.
É uma ironia trágica que parte do que torna a Amazônia tão valiosa também seja considerada a fonte de sua destruição. Segundo algumas estimativas, explorar a Amazônia brasileira para agricultura, pecuária e muito mais geraria hoje o equivalente a até 198 bilhões de dólares anualmente. Isto ´gira em torno de 5% do PIB da Califórnia. Pergunte então a qualquer legislador americano se ele acha plausível que os Estados Unidos pague royalties verdes para o Brasil e ele vai gargalhar.
Onanistas da agricultura sustentável, diretores de ONGs fajutas afirmam, sem provar que praticar o manejo do fogo e a agricultura sustentável, alguns pesquisadores preveem que a região pode gerar ainda mais riqueza do que gera atualmente.
A agricultura sustentável na Amazônia muitas vezes enfrenta dificuldades devido às condições ambientais únicas da região, incluindo a má qualidade do solo, chuvas intensas e um ecossistema delicado, o que dificulta a manutenção da produtividade sem desmatamento extensivo, levando a problemas como esgotamento rápido do solo, erosão e interrupção da biodiversidade vital, prejudicando, em última análise, a sustentabilidade das práticas agrícolas na área.
O solo da floresta amazônica é naturalmente pobre em nutrientes, que se esgotam rapidamente quando desmatados para agricultura, exigindo práticas constantes de fertilização ou rotação que podem ser difíceis de implementar em larga escala. As fortes chuvas podem causar erosão e inundações, levando embora a camada superficial do solo e afetando o rendimento das colheitas.
O desmatamento perturba o complexo ecossistema, impactando os polinizadores e os mecanismos naturais de controle de pragas, prejudicando ainda mais a produção agrícola. O acesso aos mercados e à tecnologia agrícola necessária pode ser limitado em áreas remotas da Amazônia, tornando práticas sustentáveis mais difíceis de implementar.
Ademais, e aqui temos um grande problema: os ganhos econômicos de curto prazo do desmatamento em larga escala muitas vezes superam os benefícios de longo prazo das práticas sustentáveis, levando os agricultores a desmatar mais terras só para vender madeira.
Há soluções reais para a agricultura sustentável na Amazônia? Sim, mas não são simples e nem baratas. Integrar árvores com plantações melhoraria a saúde do solo, fornecendo sombra e protegendo contra a erosão. As áreas ao longo dos cursos d'água necessitam de barreiras de contenção para mitigar a erosão e manter a qualidade da água.
Também é preciso lembrar ao mundo que a Amazônia Legal não é apenas um cúmulo de florestas, bichos, rios e tribos não contatadas. 38 milhões de pessoas vivem lá. Uma população similar ao do estado da Califórnia, que se fode diariamente para que californianos tenham conforto em suas casas.
Então, quão perto estamos de atingir um ponto de inflexão? Não sei, talvez muito longe. Não é simples dizimar com 5.500.000 km². Em 2022 o Instituto MapBiomas publicou um estudo dizendo que a Amazônia perdeu 12% da sua área florestal em 40 anos. Era mentira: esse número não superava os 5%. Em sua conta torta o MapBiomas misturou áreas desmatadas, campos de cultivo e áreas de pastagem da pecuária. O Instituto só esqueceu de dizer que as áreas dedicadas a agropecuária no Brasil estão sob forte escrutínio do Ministério da Agricultura e Pecuária. De fato, fazendas e plantações na Amazônia praticam a agropecuária sustentável ou perdem suas licenças.
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Comentários
Poxa, tirando a Amazônia, temos ainda tanta terra a ser cultivada, que está largada.... Vi um mapa de densidade de bovinos, e me espantei em ver quão denso é na Rondônia. E para aumentar a quantidade de cabeças no norte, somente desmatando.... A densidade de gado no leste do país, no centro e no sul é baixa, se comparada com Rondônia. Tem algo errado aí.