O sujeito mostrado na primeira fotografia que abre este artigo foi registrado como "Harry Leo Crawford" na imagem 234 do arquivo policial de Nova Gales do Sul, na Austrália. Ainda que alinhado, vestia um terno surrado, usava gravata e tinha uma expressão estranhamente compungida. A foto foi feita logo depois de sua detenção, em 5 de julho de 1920, e o policial que registrou sua entrada na delegacia anotou sobre sua cabeça o número de registro e um nome: "E. Falleni". Como assim? Será preciso ler até o final para entender este intrincado enigma. |
No momento de sua prisão, Harry Crawford trabalhava em como zelador em um hotel de Stanmore, e era casado com Elizabeth King Allison. Harry foi preso sob a acusação de ter assassinado a sua esposa anterior, Annie Birkett, que havia desaparecido três anos antes, coincidindo com a época que ela dissera a um familiar que havia descoberto algo estarrecedor sobre Harry.
Para justificar seu sumiço, Harry disse aos vizinhos que a mulher tinha fugido com o encanador. O filho de Annie, de um casamento anterior, acusou Harry quando deu queixa do desaparecimento da mãe, cujo corpo foi encontrado em 1917 em um lugar chamado Lane Cove. As investigações da polícia chegaram a conclusão que Harry Crawford tinha levado a esposa ao local ermo e ali espancou-a até deixá-la inconsciente. Depois queimou o corpo da mulher ainda viva e se desfez dele.
A imagem mostrada acima está no mesmo arquivo da polícia de Nova Gales do Sul e foi tomada dias depois da foto mostrada no início deste artigo. A protagonista da fotografia é Eugênia Falleni, nascida em Livorno, Itália, primogênita de 22 irmãos, que chegou à Austrália no final do século XIX. O arquivo policial indica que no dia em que foi presa, acusada de assassinato, entrou vestida como um homem sob a identidade de Harry Crawford.
A primeira coisa que ela pediu foi que fosse encaminhada para a ala feminina do presídio e clamou para que não contassem a verdade para sua esposa Lizzie King Allison. Depois confessou que havia se passado por homem durante as duas décadas anteriores. Durante esse tempo conseguiu enganar todo mundo e se casou duas vezes. O arquivo policial também diz que, ao saber da verdade, sua segunda mulher assegurou:
- "Sempre me perguntei por que ele era tão terrivelmente tímido".
A história de Eugênia Falleni se tornou bastante popular há alguns anos na Austrália e inclusive escreveram uma biografia sobre ela. Os relatos sobre aquela imigrante italiana eram ainda mais rocambolescos: começou a se vestir de homem ainda jovenzinha para conseguir trabalho em olarias e estábulos e logo assumiu a identidade de Eugene.
Já acostumada, decidiu seguir com a farsa e acabou se juntando a tripulação de marinheiros nos barcos do Pacífico. Ali, certo dia depois de uma bebedeira, acabou confessando para o Capitão que era mulher. Como ter uma mulher a bordo de um navio era tradicionalmente visto como um convite à má sorte, a mulher foi relegada ao ostracismo e violentada reiteradamente pelo capitão. Assim que avistaram terra firme, Eugênia foi abandonada em terra grávida. Depois, , ainda que pelo caminho teve uma filha que entregou a um casal ao qual explicou que a mãe tinha morrido.
Em 1912, sob a identidade de Harry Crawford, conheceu a viúva Annie Birkett que enganou para se casar anos depois. No dia que Annie descobriu a verdade, Harry/Eugênia assassinou a mulher e tentou fazer o mesmo com o filho, que ela pretendia empurrar em um precipício.
Algumas fontes asseguram que o disfarce era tão perfeito que entre os pertences com os quais entrou na prisão, em uma mala, tinha um objeto de madeira e borracha em forma de pênis que utilizava para dissimular.
O julgamento foi realizado em 1920 e, tendo a própria filha como a principal testemunha de acusação, Eugênia foi condenada a morte pelo delito de assassinato, ainda que sua pena foi comutada posteriormente para prisão perpétua. Saiu da prisão de Long Bay em fevereiro de 1931 sob a identidade de Jean Ford e viveu incógnito até que em 1938 foi atropelado por um carro e morreu no hospital no dia seguinte. Ele só foi reconhecido depois de testes de impressões digitais. Ele tinha 63 anos.
Fonte: smh.com.au.
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