Um clandestino sem sorte
Keith, terminando sua última viagem. Fonte.
Keith Sapsford tinha apenas 14 anos e uma vontade louca de conhecer mundo. Vivia em um reformatório nos arredores de Sydney e em 23 de fevereiro de 1970 decidiu escapar rumo à aventura. Caminhou até o aeroporto e se escondeu no trem de pouso de um DC-8 da Japan Airlines onde permaneceu várias horas esperando o embarque dos que sim tinham um futuro planejado.
Durante a decolagem -a 100 metros de altura- o movimento de retração das rodas provocou a queda de Keith. John Gilpin, um fotógrafo registrou involuntariamente o dramático momento durante uma de suas sessões habituais de spotting. Não se deu conta até que revelou os negativos. A imagem acompanharia seus pesadelos pelo resto da vida.
Eine Zigarette?
O fogo reunificador. Fonte.
O muro de Berlim mal contava com 20 centímetros de espessura de concreto, mas a história encarregou-se de engrossá-lo a base de recordações das imundícies do pós-guerra.
A foto não fala só de um policial a serviço do lado oriental, dando cigarros para dois jovens do ocidental; fala de um sonho a ponto de acontecer: a queda do muro da vergonha, em 1989, poucos dias depois da foto. Terminava ali o ardil de separar a sociedade em "nós" e "eles" e o comunismo foi varrido para a lata de lixo da história.
Um usuário anônimo do Reddit compartilhou na rede esta inédita foto de seu pai, mas a discussão histórica do episódio acabou se convertendo em um bobo debate estéril sobre o tabagismo.
Godzilla sobre Boston
1984. Quando os dinossauros dominavam a terra. Fonte.
Em 1984 o Museu de Ciências de Boston organizou uma exposição histórica sobre a vida e origens dos dinossauros. Para transladar algumas das peças delicadas -montadas em escala real- e evitar o espesso trânsito da cidade utilizaram helicópteros civis. Na fotografia, um brontossauro -agora chamado apatossauro- voa ameaçante sobre o skyline da capital de Massachusetts. Desta vez não foi um eventual fotógrafo senão o próprio Arthur Pollock que recolheu o original momento.
Que faz um alce vivo e dependurado na fiação elétrica?
Um alce berrando a 16 metros de altura. Fonte.
Não é o resultado de um ritual satânico ou de bruxaria, nem a perda acidental de um correio aéreo. Também não é a curiosidade de um animal hercúleo. É simplesmente um cúmulo de coincidências a serviço de um fotógrafo com sorte. Que aconteceu ao cervídeo para acabar dependurado em uma linha de media tensão?
O alce foi vítima da tecnologia humana e de seus protocolos. Em outubro de 2004, durante os trabalhos de instalação de uma rede elétrica em Fairbanks, no Alaska, o animal vagueava por perto de algum dos postes. Quando os eletricistas esticaram os cabos em um dos extremos, no outro lado do vale, o bicho ficou enroscado até atingir esta posição. Ante a tensão exercida por seu peso os funcionários decidiram revisar por completo a fiação até topar com a original bandeira. Baixaram os cabos, mas não conseguiram desenredar seu enorme chifre, optando pelo sacrifício do inocente animal.
Como estragar a foto em meu super-trator
Ejeção do piloto de testes George Aird. 1962. Fonte.
Há fotos que permanecem esquecidas em uma gaveta durante temporadas por parecerem inverossímeis. O britânico tabloide Daily Mirror censurou esta por considerá-la um fotochop, para logo depois publicá-la e fazendo com que sua história desse a volta ao mundo.
Mick Sutterby era o motorista do trator e responsável pela manutenção dos jardins do aeródromo de Hatfield, Hertfordshire, Reino Unido. Em 13 de setembro de 1962, durante um vôo de testes do English Electric Lightning F1, o piloto George Aird teve que efetuar uma manobra de emergência depois do sobre-aquecimento e posterior incêndio de seu motor. Ante a falta de resposta de sua aeronave decidiu ejetar seu assento para se salvar. Ao mesmo tempo Mick conduzia seu trator para um fotógrafo -que era amigo do piloto- para mostrar o perigo que corria ao invadir um açude no campo. O resto da história é contada pela espetacular fotografia.
Andaime para ricos. Acidente de pobres
Colapso de andaime nas 500 milhas de Indianápolis. Sequência completa.
1960. 500 milhas de Indianápolis. O fotógrafo J. Parke Randall estava preparado para cobrir a saída da famosa corrida na curva nordeste quando escutou gritos atrás dele. Ao virar-se -sem tirar o olho de sua câmera- teve tempo de fotografar como um andaime mal montado de 30 metros -cujo ingresso custava dez dólares a mais por possibilitar melhor perspectiva da corrida-, desabou por sobrecarga. Dois mortos e 82 feridos que obrigaram a mudar as medidas de segurança do circuito para sempre.
Ódio regado com vinho
O vinho como insulto. Terceiro prêmio World Press Photo 2010.
Segundo as palavras de Rina Castelnuovo, fotógrafa do New York Times:
"As ruas estavam quase vazias. Detive-me a fotografar alguns colonos durante a festa judia de Purim. Estavam compartilhando uma garrafa de vinho e brindando pelo dia de festa, nada fora do comum. Dei-me conta de que uma mulher palestina cruzava pelas lojas fechadas do outro lado. Um grupo de colonos caminhava pelo meio da rua na direção oposta quando um deles deu um passo em direção a ela. Eu instintivamente levantei a câmera.
Ela não gritou nem se deteve, correu até desaparecer depois da esquina. Fiquei enojada e entristecida, como se o vinho tivesse me golpeado."
Não é um copo de vinho. É um insulto com forma de foice sangrenta, uma gadanha fabricada com a eterna aversão de dois povos condenados ao ódio perpétuo. Uma imagem que nos recorda velhas histórias de outra cor, mas com o mesmo rancor e ainda hoje não superadas.
A beleza do suicídio
Suicídio no Hotel Genesee. Revista Life maio de 1942.
Chicago. 1942. Mary Miller estava sentada no parapeito do oitavo andar do Hotel Genesee esperando seu destino. Vestido curto estampado, sapatos finos e penteado recolhido com um grande laço. Nada feito a esmo. Um telefonema de algum vizinho alertou à polícia, que chegou pouco depois em busca do auxilio impossível. O fotógrafo Russell Sorgi patrulhava a rua com eles para se adiantar à (suposta) notícia. Não teve tempo a mais. Ninguém sabe se a presença de sua câmera acelerou os acontecimentos, mas Mary deixou seu corpo cair enquanto Sorgi disparava com sua Graflex Speed Graphic para capturar o último fôlego da bela jovem.
Mais faceiro que criança de sapatos novos
Werfel de 6 anos recebe seu pequeno tesouro. Fonte.
Nem tudo são acidentes, quedas ou tragédias imprevistas. Às vezes o fotógrafo imortaliza um gesto inesquecível, uma carinha de esperança. Este aconteceu em 1946, em um orfanato austríaco. A Cruz Vermelha acabava de entregar um carregamento de ajuda humanitária em uma zona muito castigada pela guerra. Werfel, de 6 anos, aguardou impaciente para ser protagonista ou capa de algum disco inesquecível. O fotógrafo Gerald Waller (Life) passava por ali.
Fotografar ou ajudar? (esta foto não conta a sua verdadeira história)
1998. O ladrão de caridade. Fonte.
Sudão. Acampamento de refugiados de Ajiep. Mais de 100 pessoas morriam ao dia esperando uma ração de arroz a levar à boca em 1998. A pior e mais ignorada crise de fome da história do país africano estava em seu ponto alto.
A comunidade internacional, após meses de desídia, conseguiu enviar ajuda ao país. O fotógrafo britânico Tom Stoddart acompanhou uma unidade dos Médicos sem Fronteiras até o acampamento. Ali, em uma das intermináveis filas para receber a caridade, registrou a imagem de um garoto esquálido olhando desconsoladamente um adulto com uma sacola de cereais.
O que pouca gente sabe é que a fotografia não conta que, cinco segundos antes, esse adulto fdp tinha arrancado a sacola das mãos do pequeno. O fotógrafo foi acusado de passividade, recordando tristemente a história de outra trágica fotografia.
O beijo da vida.
1967. O beijo. Fonte.
Algumas vezes utilizada equivocadamente como símbolo da cultura gay, o contexto da foto é mais heróico do que cultural.
Em 17 de julho, na Flórida, o fotógrafo norte-americano Rocco Morabito estava de serviço para o jornal local de Jacksonville quando um forte estrondo lhe surpreendeu no momento que caminhava até seu carro. Um funcionário da concessionária de energia elétrica recebera um grande choque e estava inconsciente dependurado a mais de 12 metros de altura, enquanto seu colega tentava reanimá-lo com "o beijo da vida", Rocco aproveitou para desembainhar a câmera e fabricar o prêmio Pulitzer de 1968.
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Comentários
Caraio, o MDig hoje caprichou nas matérias! Não deixei de ler nenhuma!