Se acreditarmos no que vemos em diversos vídeos publicados no Youtube, parece que os animais são viciados em abraços, carinhos e cafuné. Até mesmo um réptil, uma galinha e um peixe parecem gostar de alguma afeição humana. De um urso fofinho como um bicho de pelúcia a um coala carente e até mesmo tucanos, pássaros e animais parecem amar o toque humano nesses vídeos virais on-line. Eles deixam claro que querem mais carinhos da mão humana que os acaricia. Eles se esfregam e se aconchegam alegremente com os olhos fechados. |
Mas o que a ciência diz sobre esses animais carinhosos? O que essas criaturas procuram? Prazer? Comida? Laços sociais? Roland Maurer, um biólogo comportamental da Universidade de Genebra, na Suíça, diz que viu uma enorme iguana no zoológico de Chaux-de-Fonds claramente procurando abraços ou, pelo menos, massagens na cabeça. O pesquisador observa que seu dragão-barbudo, um tipo de lagarto australiano com pescoço espinhoso e pouco sociável, fecha os olhos e fica parado quando alguém acaricia sua cabeça.
- "Acho que eles encontram algum tipo de prazer. Deve haver mecanismos que tornem esses contatos agradáveis para eles, caso contrário, eles os rejeitariam", diz Roland. - "Para os mamíferos sociais, é muito simples. O contato físico leva à produção de certos hormônios, principalmente a oxitocina, que nutrem o apego e que estão ligados a uma forma de bem-estar."
Uma vez que o contato físico desencadeia essa química, ele também reforça a necessidade dos animais de buscarem esse contato. Essa cola químico-comportamental reúne membros de espécies sociais.
- "Sem esse mecanismo que torna o contato agradável, eles tenderiam a ficar separados um do outro", diz Roland.
Mas de que adianta esse prazer? Por que a evolução manteve esse comportamento?
- "Precisamente porque favorece a vida social ao reduzir as agressões entre membros de um mesmo grupo. Atacar uns aos outros não traz benefícios", afirma.
O afeto então regula a atração da competição e da cooperação. Ele atua como um dispositivo que permite a coexistência de impulsos opostos. Como esse princípio de prazer já está estabelecido em algumas espécies, ele pode ser ativado pelo contato físico.
- "Quando acariciamos uma iguana, na verdade estamos aproveitando um canal de comunicação que já existe entre as iguanas", explica Roland.
O geneticista André Langaney analisou o vídeo do lêmure logo acima e oferece uma explicação.
- "O lêmure Maki tem obviamente algum tipo de erupção e parece estar implorando por abraços quando na verdade está se coçando. Dito isso, ele também pode estar usando uma estratégia dupla: depois de ser recompensado com os primeiras coçadas, pode querer mais porque ele realmente gosta do próprio contato."
Esses comportamentos, que primeiro estão ligados à sobrevivência, tornam-se ações que buscam o prazer.
- "A percepção do prazer é o mecanismo da evolução que nos impulsiona a fazer as coisas. Se a vida social não tivesse nenhum prazer, simplesmente não haveria vida social. E isso seria uma desvantagem para a sobrevivência em muitas situações", observa Roland.
Podemos nos projetar nessas imagens, encontrar as chaves para compreender nosso comportamento? Sim e não. Mas nós, como humanos, podemos estar lendo muito sobre o comportamento animal e, às vezes, idealizando da forma errada.
- "Há um comportamento animal que para nós reflete um comportamento cultural humano. Por exemplo, um beijo na boca", contextualiza André. - "É um gesto cultural porque é completamente desconhecido em muitas sociedades tradicionais. Agora, é claro, as pessoas se beijam na boca em todas as sociedades ao redor o mundo com a disseminação da televisão e da internet. Mas antes disso, esse ato parecia intrigante e incongruente em muitas culturas".
O comportamento de animais com habilidades cognitivas complexas varia de acordo com as circunstâncias. Seu comportamento é transmitido por meio do aprendizado, e não por meio do código genético.
- "Quando as condições ambientais mudam, isso pode levar a modificações nas estruturas sociais e nos comportamentos", segundo André.
O geneticista acha que os melhores exemplos existentes se sua afirmação são os orangotangos, que agora vivem todos em pequenos territórios porque suas florestas foram derrubadas.
- "O fato de se concentrarem em uma área menor do que costumavam leva esses primatas, até então solitários, a formar grupos sociais", explica. - "Nessas circunstâncias, os orangotangos começam a se tocar, fazer gestos de solidariedade, desenvolver interações como as que costumamos observar com grandes macacos antropomórficos que pertencem a espécies sociais como chimpanzés, bonobos e gorilas."
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